Batalha

Entenda a treta entre Globo e Flamengo que deve parar na Justiça

Emissora e clube carioca podem viver momentos tensos nos tribunais

Flamengo e Globo estão com relação abalada - Foto: Montagem
Por Redação NT

Publicado em 28/06/2020 às 07:55:00

Globo e Flamengo estão em pé de guerra já faz alguns meses, mas a disputa ganhou ares folhetinescos nas últimas semanas, com direito a troca de acusações, envio de notificações e até ameaça de ação judicial. Por trás de um treta homérica há muito mais que apenas os direitos de transmissões dos jogos, mas o protagonismo na condução do formato em que as vendas devem ocorrer nos próximos anos.

Para compreender a disputa é preciso voltar no tempo para 2019. Pouco depois da atual chapa vencer as eleições para comandar o Flamengo, o presidente Rodolfo Landim reclamou publicamente dos valores que o time carioca recebia da televisão. "Iremos renegociar o contrato com a televisão porque o Flamengo merece mais", afirmou o cartola na ocasião.

Como a Globo já era detentora dos direitos do Brasileirão, a direção do rubro-negro nada pôde fazer e a torcida acompanhou o título flamenguista na tela da Globo. Acontece que a briga iria ganhar novo capítulo ainda em 2019, quando a direção do clube carioca enviou uma notificação extrajudicial questionando pontos do contrato em vigor e levantando dados que davam a entender que havia mais dinheiro para ser recebido.

No lado da emissora, até 2019 o posicionamento era de discrição. Em todas as reportagens que saiam do assunto, a Comunicação da Globo sempre enviava a resposta padrão de que estava cumprindo o contrato na íntegra e que manteria seus direitos e deveres junto aos clubes e exibições dos jogos. Com a intensa cobertura que o canal ofereceu ao Flamengo na inesquecível temporada, que rendeu o título nacional e o da Libertadores e que a Globo ofereceu programas inteiros para o time, tudo parecia amenizado. Parecia.

Fontes do NaTelinha indicaram que a direção esportiva da Globo não ficou nada satisfeita com a notícia de que o clube havia fechado um documentário sobre a temporada com a Amazon e que seria exibido em primeira mão na Prime Video, uma das principais concorrentes do Globoplay no streaming.

Globo e Flamengo no Carioca

A guerra entre Globo e Flamengo ganhou outras proporções no início de 2020, quando boa parte das competições estaduais teve seus contratos encerrados para a transmissão. A emissora carioca chegou a deixar claro que não tinha interesse em renovação com a muitos campeonatos de estados, mas manteve vínculo com o Paulistão e com o Campeonato Carioca, menos com o Flamengo.

A proposta financeira, que dava direitos de transmissão de jogos na TV Aberta, no SporTV e no Premiere não agradou a direção rubro-negra e a contraproposta sequer foi respondida pela Globo. A cada dia mais a histórica relação de amizade entre o canal e o time carioca parecia perto de azedar. Nos bastidores os comentários eram de que um rompimento parecia iminente.

Mas novamente houve um atraso nessa briga porque todos os outros times da competição carioca fecharam com a Globo. Pela Lei Pelé, uma emissora somente pode exibir uma partida se houver acordo com os dois clubes em campo. Isso significava dizer que jogos do Fla não iriam ao ar por nenhuma plataforma, já que a Globo garantiu exclusividade de outros clubes. Em contrapartida, a emissora não podia exibir nenhum cotejo de seus contratados contra o rubro-negro.

Globo e Flamengo com Bolsonaro

É aí que entra a política em jogo. Com a pausa no futebol, Rodolfo Landim foi um dos dirigentes esportivos a se aproximar do presidente Jair Bolsonaro. O mandatário sempre defendeu o retorno urgente do futebol e, após uma primeira reunião no Palácio do Planalto, Landim seguiu o mesmo caminho e passou a pressionar a FERJ (Federação Estadual do Rio de Janeiro) pelo retorno do estadual.

Na outra ponta do iceberg estava a Globo. A emissora adotou uma postura de ser contra o retorno das competições e defendeu, em todos os segmentos, a quarentena para evitar a proliferação da doença. Ao lado da emissora estava o governador do Rio, Wilson Witzel, um dos principais inimigos políticos de Bolsonaro e que manteve proibições.

Mas bastou uma operação da Polícia Federal e uma abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para Witzel recuar na guerra com Bolsonaro e marcar a data de liberação para o futebol no estado. Foi aí que, novamente, diretores dos principais clubes do Rio se encontraram com o presidente e garantiram que haveria o retorno do campeonato, com anuência da FERJ, que marcou os jogos para a última semana.

O primeiro jogo seria Flamengo e Boa Vista e não teria transmissão esportiva porque o rubro-negro não havia fechado com a Globo. Um dia depois da reunião com Landim veio a bomba: Bolsonaro sancionou uma Medida Provisória que beneficiava o Flamengo e mudava as normas de direitos de transmissões.

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A MP de Bolsonaro

Na prática, a MP tira a obrigatoriedade de uma empresa negociar com os dois times de uma partida para exibi-la e entregou apenas para o mandante os direitos. Com isso, como a Globo já havia fechado contrato com o Boa Vista, em tese ela estaria autorizada a exibir o cotejo. Nos bastidores do poder, a decisão foi vista como uma forma de prejudicar a emissora e beneficiar o Flamengo.

Não foi o que aconteceu porque a direção de esportes da emissora optou por ignorar a Medida Provisória de Bolsonaro e não transmitiu a partida. Para a Globo, há contrato vigente para o Campeonato Carioca e que prevê exclusividade nos direitos de imagem dos clubes contratados e como o documento foi assinado antes da MP de Bolsonaro, o jurídico do canal entende que não pode ser invalidado.

No dia seguinte à publicação da Medida, a Globo soltou uma nota oficial informando que não exibiria a partida entre Boa Vista e Flamengo e que manteria seu entendimento sobre os contratos firmados anteriormente à mudança na legislação. O jogo foi ao ar, e vencido pelo Fla, com portões fechados por conta da proibição de aglomeração no estado e não foi vista por ninguém.

Globo e Flamengo na Justiça

Um dia depois, o Flamengo prometeu que venderia os jogos do Carioca em que ele fosse mandante, mas a Globo discordou da interpretação da direção do clube para a MP e enviou uma notificação extrajudicial informando ao time para não vender seus jogos e não exibi-los em sua TV oficial porque feria contratos de exclusividade que ela detém e pelo qual ela pagou.

A direção do Fla discordou e respondeu pedindo que a Globo não fizesse isso porque a MP deixava claro que, a partir dali, os direitos de exibição são do clube mandante e prometeu transmitir em sua TV Oficial e em seus canais nas redes sociais a próxima partida. A emissora carioca garante que irá à Justiça caso isso aconteça e augarda os próximos movimentos para se posicionar.

Globo e Flamengo na MP

Embora a Medida Provisória de Bolsonaro seja vista com bons olhos pelos times, a forma como ela foi editada, na calada da noite e após uma reunião com o dirigente do Flamengo, não agradou nada. Boa parte dos dirigentes esportivos estão num momento de entrave com o presidente do clube carioca e podem pressionar pela reprovação da Medida no Congresso.

Em seu canal no YouTube, o jornalista Mauro Cézar Pereira informou que a tendência de momento é que a MP de Bolsonaro seja reprovada no Congresso. A MP tem validade por 60 dias com prorrogação por mais 60 e precisa obrigatoriamente ser votada pelo Congresso. Para ser aprovada precisa de 308 votos na Câmara dos Deputados e 56 votos no Senado.

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