Publicado em 12/02/2019 às 15:39:49
Na última segunda-feira (11), Ricardo Boechat morreu em um acidente de helicóptero. A aeronave em que estava sofreu uma pane e acabou colidindo com um caminhão durante um pouso de emergência. O piloto também morreu no local; já o motorista saiu com alguns ferimentos.
Aos 66 anos, Ricardo Boechat atuava como âncora do “Jornal da Band”, comandava um programa matinal na rádio Band News FM e assinava uma coluna semanal na revista IstoÉ.
Nascido em Buenos Aires e criado na cidade fluminense de Niterói, Rio de Janeiro, Boechat é considerado por profissionais da área e estudantes uma das figuras mais importantes e influentes do jornalismo brasileiro.
Iniciou sua carreira como repórter em 1970 no extinto jornal Diário de Notícias. No mesmo período, se tornou colunista na equipe de Ibrahim Sued. Em conversa com o projeto Memória Globo, chegou a dizer que não tinha a certeza da sua vocação, mas soube agarrar as oportunidades em uma época, para ele, bem mais generosa.
E a vida foi realmente carinhosa com Ricardo. Profissionalmente, teve passagens pelo jornalismo impresso, TV e rádio, além de ter trabalhado nos principais jornais do país como O Globo, O Dia, O Estado de São Paulo e o Jornal do Brasil.
Em 1987, o jornalista chegou a ocupar por seis meses a Secretaria de Comunicação no Governo Moreira Franco. Após este período, ele retornou às Organizações Globo onde se manteve até 2001.
Na TV Globo, estreou em 1996 um quadro no “Bom Dia Brasil” e permaneceu no ar até o seu desligamento da emissora. Ricardo Boechat foi trabalhar para o Grupo Bandeirantes de Comunicação em 2004, onde ficou até o último dia da sua vida.
Vencedor de três prêmios Esso, o principal reconhecimento do meio jornalístico, foi também 17 vezes premiado pelo site Comunique-se. Além disso, eleito o jornalista mais admirado do país nos anos de 2014, dividindo o prêmio com Miriam Leitão, e 2015.
Em 2016, recebeu o Troféu Imprensa na categoria Melhor Apresentador de Telejornal. No mesmo ano, deu uma pausa na veia de jornalista para emprestar sua voz ao personagem Boi Chá na animação “Zootopia”.
Numa rara entrevista ao NaTelinha, em 2013, Boechat relembrou sua carreira e classificou: "Sou realizado. Às vezes quando eu paro pra pensar, eu acho que o destino me deu mais do que eu fiz por merecer".
Segundo depoimento em vídeo divulgado por William Bonner na última edição do "Jornal Nacional", o jornalista não só colecionava prêmios como, também, amigos. Dono de uma sagacidade invejável e uma língua afiada, Ricardo não tinha medo de expressar sua opinião e uma das suas características era dar voz ao povo.
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Em seu programa matinal na Band News FM, cobrava das autoridades soluções para as últimas tragédias ocorridas no Brasil este ano. Boechat também marcava presença em palestras para estudantes e profissionais.
Casado com a jornalista Veruska Seibel desde 2005, com quem teve duas filhas, Valentina e Catarina, Ricardo deixa mais quatro filhos - Paula, Bia, Rafael e Patrícia, frutos da sua união com a primeira esposa, Claudia Costa de Andrade.
O corpo do jornalista foi velado durante toda a madrugada. Em depoimento a uma repórter da Band, Mercedes Carrascal, mãe de Boechat, pediu aos jornalistas que sigam o legado deixado por seu filho.
“Ela pediu para que nós, jornalistas, sigamos fazendo esse jornalismo que ele nos ensinou e que ele vai deixar de legado. Nas palavras dela, um jornalismo com uma apuração feita de verdade, e que a gente se importe com a integridade e com as pessoas, sempre", revelou a repórter Roberta Russo.
- “A riqueza não iguala os homens, mas a miséria sim”.
- “Eu confesso a você, com sessenta anos, a essa altura do campeonato, que eu não sei como reagiria se alguém me dissesse que estou proibido de fazer alguma coisa que a minha consciência não me proíba primeiro”.
- “Pode botar todos os traficantes, todos os assassinos de um lado. O Estado brasileiro é o inimigo maior da sociedade, porque ele existe pra isso. Ele é sistemático, organizado, ele é poderoso, ele é endinheirado, ele é armado, ele faz de tudo que tem na mão pra isso!”
- “Mas ao ouvir essa sociedade perguntar "Cadê o Amarildo?" não se iludam, senhores governantes, porque não é apenas o Amarildo que a gente quer. A gente quer é que a sociedade brasileira pare de ser tratada da forma que o Amarildo foi tratado com graduações diferentes de violência.”
- “Ninguém confunde deputado com marginal e está cheio de deputado marginal!”
- “Os vândalos verdadeiros, os criminosos verdadeiros, os saqueadores verdadeiros, os bandidos verdadeiros têm imunidade, têm distintivo de doutor, sua excelência, às vezes têm toga, carro oficial, segurança, prédio luxuoso, mordomias, cargos pra preencher, controle sobre verbas, peso pra negociar contratos, grana por fora pra campanha, grana por fora pra si mesmo, pra pagar pensão pra amantes, pra enriquecer, comprar um patrimônio gigantesco como muitos deles hoje ostentam, tendo entrado na política com uma mão na frente outra atrás”.
- “Eu sou favorável a jogar ovo, eu sou favorável à revolta, a quebra-quebra. Vandalismo? É o cacete! Vandalismo é botar as pessoas quatro horas na fila das barcas todo dia, vandalismo é mandar segurança baixar porrada todo dia em passageiro da Central do Brasil que não aguenta mais ser tratado como gado. Isso é que é vandalismo! Vandalismo é roubar como um condenado com dinheiro público, vandalismo é matar meu filho dentro de um hospital por falta de médico, remédio enquanto há esquema de corrupção que a gente cansa de ver aí dentro dos hospitais. Revolta não é vandalismo!”
- “Vocês me ofendem o dia inteiro, vocês me agridem o dia inteiro. O tempo todo, 24 horas por dia sou agredido pelo Estado brasileiro e pelos agentes públicos desse país. No desrespeito, na falta de serviço, na corrupção ostensiva, no corporativismo, na picaretagem, na mentira, no logro, na desilusão que vocês nos impõem, nos atrasos, no abandono da educação, da saúde. E agora querem o quê? Serem tratados com respeito?”
- “A política tem que ser entendida, para merecer este nome, como uma ação cuja abrangência alcance todos os cidadãos.”
- “A imprensa noticia vandalismo, pois gera medo. O medo faz com que as pessoas fiquem em casa. E pessoas com medo não mudam o país!”
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