Publicado em 29/10/2020 às 05:11:42
Brega & Chique, novela exibida há 33 anos, estreou nesta semana no Globoplay. O ator Jayme Periard, atualmente na Record, integrou o elenco como João Antônio, vértice de um triângulo amoroso em um dos poucos entrechos românticos da trama marcada pelo humor. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, ele relembra o sucesso como galã e os bastidores da produção de 1987.
A história de Brega & Chique era centrada na perua Rafaela Alvaray (Marília Pêra) e na humilde Rosemary (Glória Menezes). “Gravava direto com a Marília Pêra (1943-2015) e o Marco Nanini. Era como fazer faculdade, mestrado, doutorado… Aprendi demais com eles em um estilo em que verdadeiramente aprendemos interpretação, que é a comédia”, avalia Jayme Periard.
João Antônio era um tipo instável, dividido entre o amor de Silvana (Cássia Kis) e da noiva Ana Cláudia (Patrícia Pillar), a quem deixa plantada na igreja no primeiro capítulo. “Era um personagem maravilhoso, com tons de comédia, que é uma coisa rara no início da carreira, principalmente naquela década, quando realmente representávamos a figura do galã.”
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O personagem rivalizava com Luís Paulo, defendido por Marcos Paulo (1951-2012), de quem Jayme Periard se tornou grande amigo. Se, na trama, o bonitão era disputado por duas mulheres, o sucesso se repetia na vida real. Aquela fase da carreira foi marcada por bailes de debutantes e centenas de cartas de fãs de todo o país, como conta o veterano.
“Quando chegávamos em um lugar, o assédio era sempre muito grande. A rede social demoliu a distância entre o fã e seu ídolo. Naquela época, como era tudo mais distante, o contato era feito por meio de cartas. Havia uma fantasia e uma ilusão muito maior. O distanciamento nos ajudava muito em relação a construção dos nossos papéis. As pessoas conheciam nossos personagens, não nossas vidas íntimas como hoje em dia.”
O status de galã, aliás, jamais incomodou Periard. “Nunca vi como algo pejorativo. Pelo contrário, isso tinha uma representação e um significado muito importante naquele contar histórias, levar emoções românticas. Vivi todas as fases da minha carreira e vivo até hoje sem o menor problema.”
“O galã precisa ter uma empatia com o público e uma química com a sua parceira. Não é um trabalho fácil. Demanda muito trabalho e uma característica pessoal e profissional muito específica. Você tem que levar uma história de amor de altos e baixos por mais de 180, 200 capítulos”, acrescenta.
Exibida com boa audiência no Viva entre abril e setembro de 2020, Brega & Chique tem fôlego para conquistar o público no streaming, na opinião de Jayme Periard. “Essas histórias ainda têm seu lugar. Elas são dotadas da ingenuidade de uma época mais romântica, em um sentido mais amplo, não só amoroso. Todo mundo ainda quer se abastecer um pouco disso, sonhar e se divertir com alguma coisa mais leve.”
Ele conta que ingressou na trama das 19h uma semana após terminar as gravações de Roda de Fogo (1986). O convite partiu do próprio autor Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), com o aval do diretor Jorge Fernando (1955-2019). “Era um momento muito diferente do que é hoje em dia, até em termos geográficos. Fazíamos as três novelas [da Globo] em um corredor”, recorda Periard.
“Eram três estúdios, uma sala para todos os atores e dois camarins, um para homens e outro para mulheres. Convivíamos com todos os atores que estavam trabalhando nas três principais produções da emissora. Isso criava um vínculo completamente diferente entre todos nós.” Ele é saudoso da “sala da Guta”, ocupada pela diretora de elenco Guta Mattos (1919-1967) em um prédio em frente ao da Globo, no bairro Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
Aos 59 anos, Jayme Periard esteve no ar em dose dupla na Record com as reprises de Escrava Mãe (2016), que segue em exibição, e Apocalipse (2017), finalizada em setembro. Nas duas tramas, respectivamente, viveu um cruel capitão do mato e um misterioso motorista que planeja “limpar” a humanidade de suas iniquidades.
Os trabalhos deram ao veterano a oportunidade de compor tipos diferentes em sua carreira, agora bastante frequentada pelos vilões. “Em Apocalipse, tive um personagem muito estranho e difícil de fazer em termos psicológicos. Em Escrava Mãe, tive muita liberdade de criação. O Osório é um dos trabalhos de que mais gosto e tenho orgulho”, revela o ator.
No início do ano, antes da pandemia, Periard filmou sua participação em Gênesis, que deve estrear no primeiro semestre de 2021. Ele será Lameque, violento sogro de Noé (Oscar Magrini) que comanda a cidade de Enoque. “Venho em uma sequência de personagens muito maus, terríveis no temperamento e muito brutos na ação. Eles têm o mesmo estofo, mas são completamente diferentes. Fiz com muito prazer e tomara que estreie logo”, diz.
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