Publicado em 22/08/2020 às 09:50:00
Clara, Dóris e Alice formam uma trilogia de pestes escritas pelo autor Manoel Carlos para a atriz Regiane Alves nas novelas Laços de Família (2000), Mulheres Apaixonadas (2003) e Páginas da Vida (2006), respectivamente. Duas delas estarão de volta em breve: a primeira ganha reprise em setembro, no Vale a Pena Ver de Novo, e a segunda entra no ar pelo canal Viva a partir de segunda-feira (24).
Das três, Dóris, a jovem egoísta que maltratava e humilhava os avós, é certamente a mais lembrada – e odiada – pelo público. “Não conseguia sair na rua quando cenas um pouco mais pesadas passavam na TV. Era como se eu estivesse no meio de um furacão”, conta Regiane Alves, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.
Na história, a moça não aceitava a convivência com os idosos Flora (Carmen Silva) e Leopoldo (Oswaldo Louzada). A abordagem comoveu a audiência, fazendo com que a atriz, então aos 25 anos, chegasse a ser hostilizada em alguns lugares. A repercussão foi tamanha que levou Regiane Alves ao Senado Federal, convidada para o lançamento da Subcomissão do Idoso junto a outros atores de Mulheres Apaixonadas. Em outubro daquele ano, foi promulgado o Estatuto do Idoso, impulsionado pela trama da Globo.
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Três anos antes, no mesmo horário nobre, o alvo de Regiane Alves era outro: Capitu (Giovanna Antonelli), a garota de programa apaixonada pelo marido da ambiciosa e mimada Clara de Laços de Família. “Fazer a chata não é fácil. Ninguém gosta da personagem e você tem que ter uma certa inteligência para entender que está no caminho certo”, avalia a atriz.
Aos 41 anos, ela se prepara para voltar à TV na próxima temporada de Malhação. Suspensas por conta da pandemia do coronavírus, as gravações devem ser retomadas em janeiro. A personagem de Regiane Alves será uma psicóloga que abandonou a carreira para cuidar da família.
“Nunca tinha feito Malhação e acho que é uma forma de me apresentar a um público que não sabe quem foi Dóris. ‘Meu filho’ em Malhação se apresentou assim: ‘Não te conheço muito, mas a minha mãe disse que você é famosa e boa atriz’ (risos). Na hora, entendi o quanto seria legal falar com esse público”, afirma.
Qual foi a importância da Dóris, de Mulheres Apaixonadas, na sua carreira?
Regiane Alves – É uma personagem muito importante. Mesmo a novela tendo sido feita há 17 anos, ainda sou lembrada pela Dóris. Ter uma personagem tão marcante é algo memorável na carreira de uma atriz. Fico feliz por ter esse reconhecimento, uma personagem que é maior do que a atriz. Nesses novos tempos é algo difícil de conseguir.
A que atribui a sobrevida da personagem na memória das pessoas?
Regiane Alves – Ao fato de o Manoel Carlos colocar uma adolescente falando algo tão atual para a época e também muito velado: a adaptação com os idosos, que estavam cada vez mais ganhando tempo, idade, saúde e vivendo mais. O que fazer com eles? Quais são as atividades para eles? Como cuidar deles? Eram questões que pertenciam aos filhos, ao público.
Manoel Carlos foi genial ao colocar uma neta egoísta falando as maiores barbaridades para os avós. O público se identificava com as questões. E, pensando bem, acho que na dramaturgia não teve outra neta como ela.
É o seu trabalho mais lembrado pelo público?
Regiane Alves – Também lembram muito da Belinha, de Cabocla (2004). Desde o ano passado, falam muito comigo por conta da Joanna de Angelis, a mentora de Divaldo Franco, no filme Divaldo – O Mensageiro da Paz [longa de Clovis Mello, lançado em 2019]. Ela é o oposto de Dóris, talvez seja a minha redenção (risos).
Durante a novela, a discussão levantada pelo seu núcleo contribuiu para a promulgação do Estatuto do Idoso. Na época, você tinha a dimensão da importância daquela abordagem?
Regiane Alves – Tive quando me vi em Brasília, ao lado de José Sarney, presidente do Senado na época, e do Sérgio Cabral como senador – por incrível que pareça. Andando lá, as pessoas me paravam para falar sobre a novela. Ali vi a importância de fazer um papel com cunho social, algo movia para o bem.
Ao mesmo tempo, eu não conseguia sair na rua quando cenas um pouco mais pesadas passavam na TV. Era como se eu estivesse no meio de um furacão. O mais importante é nunca esquecer de fazer o meu trabalho como atriz.
Como era sua relação com Carmen Silva e Oswaldo Louzada, seus avós em Mulheres Apaixonadas?
Regiane Alves – De muito amor e respeito. Eles me ensinaram muito com as histórias deles de teatro, de turnês internacionais, de vida! Muitas vezes, eu me questionava se eu levaria a minha carreira até aquela idade [Carmen tinha 87 anos e Oswaldo, 91]. Eles amavam o que faziam, era lindo de ver. Fazem falta.
Outra "peste" do Maneco que você defendeu vai voltar ao ar em breve: a Clara de Laços de Família, sua primeira novela na Globo. Como foi essa experiência?
Regiane Alves – Minha primeira novela da Globo e ainda das 20h! Tinha feito A Muralha (2000), mas série tem outro tempo de gravação, são poucas cenas por dia e tudo é feito com mais cuidado. Tudo na novela era novo: gravava mais cenas, os enredos eram atuais, o que acontecia no dia, o Manoel Carlos colocava à noite. Entendi o processo mais industrial da TV. Manoel Carlos entregava os capítulos em cima da hora, era tudo da noite para o dia, mas a TV faz a gente desenvolver o raciocínio rápido, a solução emergencial. Você não questiona muito, você faz e tenta fazer o melhor.
Clara era mimada, chata e infantil, e se sentia deslocada no núcleo daquela família. Fazer a chata não é fácil, confesso. Ninguém gosta da personagem e você tem que ter uma certa inteligência para entender que está no caminho certo. Mas tive, o tempo todo, o apoio de Manoel Carlos e Ricardo Waddington [diretor de Laços de Família e Mulheres Apaixonadas], e isso faz diferença durante o processo.
Em 2006, você viveu outra vilã criada pelo autor, a Alice de Páginas da Vida. Como você diferencia essas três personagens?
Regiane Alves – Não considero a Alice vilã. Ela se sentiu ameaçada com a chegada de um filho e de uma nova mulher e cometeu as maiores loucuras querendo segurar aquele homem [Léo, personagem de Thiago Rodrigues].
Clara era a chata. Dóris, a neta egoísta e inconsequente. Alice, a insegura. Fui muito feliz fazendo essa trilogia com o Manoel Carlos. Toda a minha gratidão por ele. Mas ainda falta uma grande vilã na minha carreira, e me pedem isso.
Qual foi a reação da audiência a cada uma delas?
Regiane Alves – O público tem muito carinho e respeito comigo. Mas quando faço uma personagem boa, logo dizem que amam me ver fazendo uma personagem má. E, quando estou fora do ar, pedem para eu voltar logo, porque faço falta. Sempre dizem que ainda tenho que fazer uma vilã tipo Maria de Fátima ou Nazaré (risos).
Você foi escalada para a próxima temporada de Malhação. Esse trabalho está assegurado no ano que vem? O que pode nos adiantar sobre a personagem?
Regiane Alves – Por enquanto, sim. A previsão de volta [das gravações] é a partir de janeiro. O tema dessa Malhação é Transformação. Vou fazer a Isa, uma psicóloga que deixa a carreira para cuidar da família. A partir dessa trama inicial, coisas acontecem e ela se transforma.
Nunca tinha feito Malhação e acho que é uma forma de me apresentar a um público que não sabe quem foi Dóris. “Meu filho” em Malhação se apresentou assim: “Não te conheço muito, mas a minha mãe disse que você é famosa e boa atriz” (risos). Na hora, entendi o quanto seria legal falar com esse público.
Conte como está atravessando a quarentena. Tem conseguido tocar projetos em meio à pandemia?
Regiane Alves – Eu me senti muito travada na pandemia, criativamente. Vi algumas séries, mas, como tenho dois filhos pequenos [João Gabriel tem 6 anos e Antônio, 4], toda a atenção tem sido voltada a eles. Como sempre estamos fora de casa por conta das gravações ou por viagem a trabalho, ficar em casa com eles foi uma alegria imensa. O papel de mãe é o mais importante, pode ter certeza, e esse não sai de jeito nenhum de mim.
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