Publicado em 21/07/2016 às 00:01:11
Há 20 anos, em 1996, a revista Veja dizia que os animes eram o melhor investimento na década para os licenciadores e distribuidoras, por causa do auge de "Os Cavaleiros do Zodíaco", na Manchete, e de "Street Fighter II Victory", no SBT.
Só naquele ano, mais de 35 títulos vindos do Japão foram lançados no mercado de vídeo. Na televisão brasileira, o auge veio em 2000. Nas TVs abertas, Globo, Record e Band exibiam 12 títulos simultaneamente.
Já na TV paga, contabilizando todos os canais infantis ou não, foram 21 produtos, no ar pelo Cartoon Network, Fox Kids e no principal representante do gênero na época, o Locomotion - que posteriormente virou o Animax, em 2005. No total, foram 33 produções apenas no Brasil.
Em 2000, a TV fez fenômenos como "Digimon" e o eterno "Pokémon", produzido até hoje, e apresentou outros títulos simpáticos como "Samurai X" e "Sakura Cards Captors".
Só para se ter uma ideia de quanto os animes eram importantes, "Digimon" é até agora o desenho animado mais caro da história da TV brasileira. Para deter o fenômeno "Pokémon", à época campeão de audiência na Record, a Globo pagou 800 mil reais pela animação, um absurdo até os dias de hoje.
Mas 16 anos depois, atualmente, apenas cinco animes têm exibição regular, e nenhum deles em televisão aberta - muito pelo esvaziamento da programação infantil.
Hoje, a maior exibidora de animes do Brasil é a PlayTV, com três títulos: os populares "Naruto", "Bleach" e "Yu-Gi-Oh!". Os outros dois são mostrados pelo Tooncast, canais de desenhos clássicos do Cartoon Network - "Dragon Ball" e "Pokémon". A depender do mês, são sete produções vindas do Japão, já que o Cartoon detém as últimas temporadas de "Digimon" e "Pokémon", mas nenhuma delas está no ar atualmente.
Mas o que explica essa queda absurda de 88,4%? O NaTelinha acredita que são três motivos:
Violência e politicamente correto
Em todo o mundo, os desenhos japoneses são conhecidos pelas cenas mais violentas e também pelo humor irreverente mas sem pudor com piadas escatológicas.
Isso sempre traz problemas com censuras e cortes de cenas. "Pokémon", por exemplo, em sua primeira temporada, sofreu bastante com tesouradas em sequências e até em episódios completos aplicadas pela 4Kids, produtora americana que adaptou o anime para o mercado ocidental.
Lógico, os fãs chiam bastante, ainda porque a grande maioria das piadas e das cenas tem um propósito, não são gratuitas ou apelativas apenas para chamar a atenção.
O sangue, as lutas e tudo mais acaba sendo cortado. Um exemplo de TV aberta foi "One Piece", exibido pelo SBT em 2007 no "Bom Dia & Cia". Mesmo dando Ibope, a dublagem e os cortes revoltaram.
Custo alto para trazer ao Brasil
Para se trazer um anime ao Brasil, a grande maioria das distribuidoras negociam com as produtoras japonesas, como a tradicional Toei Company.
Hoje, nenhuma das três principais produtoras de animes do Japão tem escritório no Brasil, e para trazer o desenho precisa-se atravessar o mundo para tentar comprar os direitos.
Além dos valores das passagens não serem baixos, os direitos também são caros. Os japoneses são conhecidos por serem implacáveis nas negociações, e que cobram muito caro por cada episódio - já na época do auge, era uma reclamação.
As negociações acontecem em dólar, e numa época de crise e a moeda alta, trazer um anime do Japão exige planejamento de marketing e licenciamento, de divulgação e, acima de tudo, um exibidor forte para não se tornar um grande prejuízo.
Esvaziamento do próprio anime no ocidente
Qual foi o último anime famoso que você se recorda de ver recentemente, de 2010 para cá? Pois é... Nenhum.
Como o mercado teve uma saturação mundial entre o fim dos anos 90 e início de 2000, os próprios produtores não acompanharam esta demanda.
Repetição de temas para faturar em detrimento à história também foram notórios. Clones de "Pokémon", "Naruto", entre outros produtos de sucesso nos anos 2000 inundaram a TV japonesa.
Hoje, os grandes sucessos do Japão são remakes de "Dragon Ball", além dos clássicos "Doraemon" e "Sazae-San", animes mais conhecidos internamente.
O formato de animação japonesa ficou tão exposto, exibido à exaustão, que hoje além da questão financeira que não tem retorno, a qualidade do que se é produzido caiu bastante.
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