Publicado em 29/09/2011 às 14:43:47
“Assim como todo ator deseja um dia fazer um trabalho em Hollywood,
qual é o autor de novelas que não quer escrever para a Globo?”
Rui Vilhena ainda passa praticamente despercebido no Brasil e poucos devem saber de quem se trata. A grande maioria não deve saber, por exemplo, que esse autor, que fez sucesso ao revolucionar a forma de escrever novelas em Portugal, colabora atualmente com Aguinaldo Silva em “Fina Estampa”, onde já faz laboratório para em 2012 ou em 2013 ser lançado como titular pela Globo às 18h ou 19h.
Esta passagem por terras brasileiras levou o mesmo a colocar fim a um contrato de longa duração com a TVI, emissora portuguesa que detém o monopólio da indústria das novelas naquele país.
Apesar de se esquivar a fazer grandes comentários sobre o seu futuro na Globo, Rui Vilhena, que também escreveu a série portuguesa histórica “Equador”, que estreia na próxima segunda (3) na TV Brasil às 23h, diz que todo o autor de novelas “quer escrever para a Globo”, uma verdadeira Hollywood quando o assunto é telenovelas. “No momento a minha única preocupação é ’Fina Estampa’”, crava o novelista, explicando que aquilo que está tentando compreender no momento é a técnica brasileira de escrita para telenovela, que tem “pequenas” diferenças face à portuguesa.
Aliás, foi a técnica, aliada ao ritmo de suas novelas, que o aproximou de Aguinaldo Silva. E nem mesmo o fato de “Ninguém como Tu” ter conseguido, aos poucos, destronar “Senhora do Destino” da liderança das audiências em Portugal, beliscou a amizade de ambos.
Naquela que é uma das primeiras entrevistas de Rui Vilhena à imprensa brasileira, Rui Vilhena fala, com exclusividade ao NaTelinha, da amizade que tem com Aguinaldo Silva, da Globo, da sua quase contratação pela Record e de “Equador”, a série mais cara que já foi produzida em Portugal e que vai agora estrear na televisão brasileira.
NaTelinha: “Equador” tem sido apresentada na televisão brasileira como a produção mais cara de sempre já executada pelos portugueses. Que balanço faz desta série e que recordações lhe traz o período em que a adaptou?
Rui Vilhena: O balanço não podia ser mais positivo. A série teve um ibope fantástico, foi a maior produção de sempre. A adaptação do Equador foi uma experiência fantástica e muito gratificante, apesar do trabalho não ter sido nada fácil. As adaptações são complicadas. É preciso muito cuidado e respeito quando se está a mexer numa obra cujo pai é outro autor, no caso, o Miguel Sousa Tavares. Foram necessários oito meses para escrever 26 episódios. Numa novela, por exemplo, escrevo um episódio por dia.
NT: A história tem como uma das protagonistas Maria João Bastos, bem conhecida na televisão brasileira por sua atuação em “O Clone”. De que trata a série?
R.V.: A história decorre em São Tomé e Príncipe, na época da colonização portuguesa (1905). Para lá, vai Luís Bernardo Valença, um bon vivant, que deixa uma vida de luxo em Lisboa, para uma missão patriótica como governador nas ilhas, cuja difícil missão é convencer um enviado do governo Inglês de que não há trabalho escravo nas ilhas. A Maria João Bastos, que está fabulosa, é casada com o cônsul Inglês e acaba por ter um tórrido romance com Luís Bernardo.
NT: Sente-se incomodado por “Equador” estrear na televisão brasileira sendo dublada?
R.V.: De maneira nenhuma. De uma maneira geral, às vezes é complicado para os brasileiros entenderem os portugueses. E como as dublagens aqui são muito bem feitas, não vejo qualquer problema.
NT: Acha que esta série portuguesa ainda está muito atrás dos padrões de qualidade a que a Globo ou a Record habituaram seus telespectadores?
R.V.: Equador é uma série de altíssima qualidade. Nada foi deixado de lado. Todas as cenas foram elaboradas ao pormenor. Basta ver o primeiro capítulo para perceber a qualidade do produto.
NT: Como vê o trabalho desenvolvido por você em Portugal, especialmente na TVI, com as novelas “Ninguém como Tu”, “Tempo de Viver”, “Olhos nos Olhos” e “Sedução”?
R.V.: Penso que o meu trabalho primou pela diferença. O “Ninguém como Tu”, por exemplo, introduziu na televisão portuguesa um estilo de escrita e ritmo completamente diferentes - mais rápido, mais dinâmico, sem tempos mortos. As minhas novelas sempre tiveram temas mais ousados e polémicos do que o habitual.
NT: Recentemente, abdicou de um contrato com a TVI em Portugal para ingressar na Rede Globo como parceiro do Aguinaldo Silva em “Fina Estampa”. Como é a relação de vocês e como tem corrido este trabalho?
R.V.: O Aguinaldo é um grande amigo. É um excelente profissional. É uma honra e um privilégio trabalhar com ele e fazer parte da equipe de “Fina Estampa”.
NT: Por que decidiu tentar a sorte na Globo?
R.V.: Assim como todo ator deseja um dia fazer um trabalho em Hollywood, qual é o autor de novelas que não quer escrever para a Globo?
NT: O colunista Flávio Ricco adiantou que as negociações com a Globo só chegaram a um final feliz porque não entrou em acordo com a Record. Em que é que discordavam?
R.V.: Não houve discórdia. As negociações são complexas, levam o seu tempo...
NT: Que diferenças você já percebeu entre a escrita de uma novela para o Brasil e para Portugal? Será diferente escrever uma trama para as 6 ou 7 da noite na Globo do que para o horário nobre português?
R.V.: Há algumas pequenas diferenças. Não muitas. A mais importante, do meu ponto de vista, é que no Brasil os intervalos e os ganchos finais são respeitados... o que é fundamental para prender a atenção do público.
NT: Flávio Ricco também afirmou recentemente que você seria uma “das apostas” da Globo ainda para o ano de 2012, às 6 ou às 7 da noite. Já entregou alguma sinopse à emissora? Se sim, quando será produzida?
R.V.: No momento a minha única preocupação é “Fina Estampa”. Uma coisa de cada vez.
NT: Pode adiantar um pouco de que trata a sua primeira trama a solo na Globo? Com que atores gostaria de contar?
R.V.: O segredo é alma do negócio. Quanto aos atores, é difícil fazer escolhas, sendo assim acho vou ficar com todos.
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