“Sou um senhor, exijo respeito! Tenho que andar na Lagoa, ler meus livros… Acabei de ler o novo da Rita Lee. Tenho que ter esse tempo para mim, como pessoa e como ator, para poder voltar sempre renovado.”
Publicado em 29/05/2023 às 06:00:00,
atualizado em 29/05/2023 às 10:28:58
Ney Latorraca se tornou uma rara exceção dentro da Globo. O veterano segue contratado da emissora, que nos últimos anos tem adotado um vínculo diferente com atores, por obras certas, sem longos prazos. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, ele diz que, aos 78 anos, opta por participações especiais e sempre preferiu projetos que o desafiam – como a minissérie Anarquistas, Graças a Deus (1984), que chega ao Globoplay nesta segunda-feira (29).
“A Globo é uma empresa. Antigamente, eu tinha um contrato que dava plano de saúde para minha mãe, minha avó… Eu queria fazer curso de inglês? Pagavam o curso de inglês! Agora, estão com um outro modelo, e vão chamando os atores quando precisam deles”, comenta Ney Latorraca.
Ele cita exemplos do elenco de Terra e Paixão. “Alguns atores, não sei dizer quais são, eles estão segurando. Você vê essa novela das nove, interessante… Tem a Glorinha [Gloria Pires], o Tony [Ramos], o Cauã [Reymond]... Vários atores ainda são da casa, porque têm a cara da TV Globo”, avalia.
O ator diz que tipo de convite motivaria seu retorno ao vídeo – seu último papel fixo em novelas foi em Negócio da China (2008). “Hoje, fico com as participações, para não ficar muito preso, muito tempo envolvido. É puxado fazer uma novela. Eles sabem disso e conhecem meu perfil. Fora que tenho um lado meu que é pé quente: quando entro, ‘pá’, dá certo”, garante.
No ano passado, ele causou repercussão ao falar sobre a relação de mais de 20 anos com o marido, o ator Edi Botelho, e ao estrear a peça Seu Neyla, em que relembrou sua história de vida e de carreira. A montagem ficou dois meses em cartaz, uma parte no Rio e depois em São Paulo. “A gente ia continuar, mas o espetáculo é muito caro, e viajar o Brasil com teatro é difícil. Era preciso ter outra verba.”
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Ney Latorraca explica que, no atual momento da carreira, analisa criteriosamente cada convite. “Preciso pensar com calma, porque não sou mais aquele rapaz que gravava novela o dia inteiro, fazia teatro à noite e depois ainda ia para a Boca do Lixo fazer cinema. Não aguento mais isso”, diz ele, que acrescenta, com seu tom sarcástico habitual:
“Sou um senhor, exijo respeito! Tenho que andar na Lagoa, ler meus livros… Acabei de ler o novo da Rita Lee. Tenho que ter esse tempo para mim, como pessoa e como ator, para poder voltar sempre renovado.”
Ney Latorracacontinua depois da publicidade
Ele também dá preferência aos desafios, como o especial Alexandre e Outros Heróis (2013), telefilme indicado ao Emmy. “Cheguei na Globo com 30 anos, hoje estou com 78. Tenho quase 50 anos de casa, e sempre quis fazer lá dentro as coisas que podem ser, para mim, um exercício de ator.”
“Não fiquei naquela batida de ficar sentado em um escritório dizendo ‘Dona Jussara, pode liberar meu carro. Me veja um café’. Não consigo fazer isso…”, entrega. Ao longo da carreira, vários trabalhos o tiraram da zona de conforto, como TV Pirata (1988), que revolucionou o humor na TV, e Vamp (1991), em que deu vida ao vampiro Vlad.
Outro papel marcante foi o italiano Ernesto Gattai de Anarquistas, Graças a Deus, que estreia no Globoplay quase 40 anos após a exibição na Globo. Além da construção do personagem, foi preciso se encaixar no biotipo de um homem real, pai da escritora Zélia Gattai (1916-2008), cujo livro inspirou a história.
“Logo que fui convidado, falei: ‘O Ernesto era um homem loiro, de olhos claros e forte’. Não tinha nada a ver comigo, mas fui atrás do physique du rôle. Depois da estreia, recebi um telegrama da Zélia dizendo que o pai ficaria muito orgulhoso de ser ver na tela. Foi quando eu disse: ‘Opa, então acertei’.”
O trabalho marcou uma nova etapa na carreira do ator. “Antes, tentavam me colocar como galã, como em Escalada (1975) e Estúpido Cupido (1976). Quando faço esse outro tipo de trabalho, me dá uma tranquilidade como ator, fora o prestígio que eu recebi, que eu não esperava que seria tão forte.”
A minissérie impulsionou as vendas do livro e conquistou grande sucesso no exterior. Depois dela, Ney fez uma sequência de minisséries de sucesso: Rabo de Saia (1984), Grande Sertão: Veredas (1985) e Memórias de um Gigolô (1986), todas baseadas em livros e dirigidas por Walter Avancini (1935-2001), famoso pelo estilo exigente.
“Quando eu ainda morava em Santos e pensava em ser ator, já tinha algumas pessoas com quem eu queria trabalhar. Uma delas era o Walter Avancini. Então, quando tive meu encontro com ele, fiz de tudo para dar certo. Ele era uma pessoa muito séria, um grande diretor. Era trabalhar com o que havia de melhor, e eu gosto de ter um nível de exigência, de chegar na hora, estudar, ter que ficar por dentro e gravar bastante.”
Ney Latorraca
Dos bastidores de Anarquistas…, Ney guarda uma rivalidade: com Flocos, cachorrinho de sua filha na história. “Logo nos primeiros capítulos, ele é levado pela carrocinha para virar sabão. A primeira crítica que li da minissérie dizia ‘Flocos emociona o Brasil’. Eu fiquei com uma raiva do cachorro na época! Depois descobri que o Flocos ainda ganhava mais que eu, sabia?”, ironiza.
“O Flocos era uma estrela ali dentro! O diretor dizia ‘ok, valeu’, e ele ia para o canto dele. Metido, sabe? Eu queria fazer amizade, e ele rosnava para mim... Só depois é que viramos amigos. Quando você trabalha com criança e com bicho, é melhor ficar quieto. Eles são bárbaros! São ladrões de cena mesmo!”
Ney Latorraca
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