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Nelson Freitas diz que Chiquititas salvou sua carreira: "Estava quase jogando a toalha"

A novelinha infantil exibida pelo SBT completa 25 anos neste mês

Nelson Freitas está completando 60 anos e passando alguns meses na Austrália - Ricardo Fasanello/Divulgação
Por Jéssica Alexandrino

Publicado em 25/07/2022 às 06:31:06,
atualizado em 25/07/2022 às 08:27:36

Nelson Freitas chega aos 60 anos três dias antes da estreia da primeira versão brasileira de Chiquititas completar 25 anos. A novela infantil exibida pelo SBT entre 1997 e 2001 foi um divisor de águas na trajetória do ator, que conta ao NaTelinha como foi escolhido para o projeto e a importância que ele teve em sua vida. "Eu estava completando 10 anos de carreira e já estava quase jogando a toalha. Meu pai havia falecido e as condições naquele momento não estavam favoráveis para continuar. Mas alguém lá em cima deve ter pensado 'peraí, que ainda tem mais coisa' [risos]", conta.

"Fui selecionado sem teste nem audição. Simplesmente, a direção da produção argentina, Cris Morena, assistiu a um vídeo e mandou me chamar. E lá fui eu cumprir o destino e fazer parte daquela novelinha, que foi uma revolução na TV na época e encantou toda uma geração", completa. Naquele período, o veterano já havia participado de algumas novelas, como Rainha da Sucata (1990), Irmãos Coragem (1995) e Salsa e Merengue (1996), mas foi como o Dr. Fernando da trama do SBT que ele encontrou novas perspectivas.

Como tudo era produzido na Argentina, Nelson e o restante do elenco só tiveram noção do sucesso que estavam fazendo no Brasil quando vieram gravar algumas cenas especiais.

"Aquilo foi uma coisa inédita no mercado de telenovelas. Uma coprodução internacional entre o SBT e a Telefe [Televisión Federal S.A., uma das principais empresas de comunicação argentinas]. Foi marcante porque os índices de audiência eram surpreendentes, um fenômeno... Como gravamos em Buenos Aires, não tínhamos ideia do que realmente estava acontecendo no Brasil. A gente só foi se dar conta quando viemos gravar as cenas de Natal e Ano Novo daquele ano, no Guarujá. O aeroporto estava lotado de gente e a criançada enlouquecida, nos fizeram sentir como pop star [risos]. O ônibus desceu a serra e uma carreata gigante foi seguindo pela estrada, foi um choque e uma surpresa inesquecível".

Nelson Freitas

Morando em Brisbane, na Austrália, desde abril, o ator diz que está tirando um "meio ano sabático". Ele e a mulher, Maria Cristina Cordeiro, já tinham certa intimidade com o país há 15 anos, quando Gabi, filha dela, se mudou para lá. "Cada vez que a gente vem, aprendemos um pouco mais da cultura e do estilo de vida. Dessa vez, tivemos a chance de passar um tempo maior, porém o retorno já estava marcado por dois motivos importantes. O primeiro é que nossa família vai aumentar, vamos ser avós mais uma vez da nossa mais nova, a Paulinha. A netinha chega em outubro e queremos estar juntinhos nesse momento tão especial. Depois porque preciso estar no lançamento do filme Eike: Tudo ou Nada, em setembro. Mas no ano que vem a gente volta de novo", avisa ele, que já é avô de Felipe.

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Perguntado se fez alguma reflexão em relação à chegada dos 60 anos, o veterano diz que refletir é o que ele mais tem feito desde que deixou o Brasil. "O rolo compressor da vida, às vezes, não deixa você dimensionar o tempo e o espaço, mas a 'descompressão' em que se vive aqui favorece a reflexão, até porque, mesmo não tendo compromissos contratuais de trabalho, eu continuo tendo uma rotina de me manter ativo, produzindo, atendendo demandas que consigo fazer daqui, abrindo portas, e plantando algumas sementes. De fato, eu sinto que minha cabeça não acompanha minha idade física [risos], e apesar da ação implacável do tempo e os avisos de 'proceed to gate' [dirija-se ao portão], sinto uma energia jovial e uma vontade de fazer um monte de coisas que ainda não fiz. Até que apareça o 'final call', vou ficar atento às possibilidades", pontua.

Segundo Nelson, uma de suas maiores inspirações para continuar se reinventando após tantos anos no meio artístico é Ary Fontoura. "É a vontade de continuar fazendo, uma motivação que vem da alma. Eu acompanho o Ary Fontoura nas redes, com quem tive a sorte de trabalhar por alguns anos no teatro, e fico pensando: 'É assim que tem que ser'. Esse é um modelo que se encaixa nos meus sonhos e planos... É uma inspiração, um dínamo que se retroalimenta da própria vontade de viver e de espalhar o bom e o belo. Essa é a função primordial dos artistas, somos os arautos dos nossos tempos", ensina.

Nelson Freitas fala sobre novo modelo de trabalho nas emissoras: "Contratos longos promoviam conforto"

Foto: Ricardo Fasanello/Divulgação

Em outubro de 2020, Nelson Freitas encerrou seu vínculo de trabalho com a Globo após 19 anos. A saída do ator e de outros muitos talentos da emissora se deu em função do novo modelo de trabalho adotado pela empresa, de contratos por obra. O veterano admite que a forma de contratação antiga trazia uma sensação de estabilidade, mas, em contrapartida, sabe que ficava limitado. "Os contratos longos promoviam conforto, evidentemente. Mas, por outro lado, te limitavam a alçar outros voos e, depois de tanto tempo contratado, é normal que a gente se sinta inseguro. Ao mesmo tempo, te inspira a ampliar os horizontes. Isso tem um valor imenso, até para que as empresas percebam a sua capacidade e talentos", opina, falando também sobre as novas portas que estão se abrindo, como o streaming.

"O cenário do audiovisual no Brasil e no mundo está em plena revolução e esse processo foi muito acelerado com a pandemia. O Brasil é o quinto país mais populoso do planeta e o mercado está de olho nisso. O mundo está cada vez menor em termos de comunicação e as oportunidades são cada vez maiores. Quanto mais as ferramentas estiverem em condições de trabalho, melhor".

Nelson Freitas

Entre o fim de 2022 e 2023, o ator poderá ser visto em quatro longas: Eike: Tudo ou Nada, Saraliaeleia, Tração e Sistema Bruto, todos já filmados, mas também pretende dar continuidade ao Embaralha e dá de Novo, projeto imaginado como um espetáculo teatral e que acabou se tornando um podcast, além de outros trabalhos que não estavam no script e surgiram com sua ida para a Austrália. "Acabei conhecendo um monte de gente bacana, cheias de projetos interessantes, que aproximam esses dois países gigantes, que precisam se conhecer melhor. Estivemos com o cônsul geral, em Sydney, e estamos alinhando no meio diplomático a possibilidade de colaboração bilateral maior no âmbito cinematográfico e cultural, para fomentar o intercâmbio mais robusto entre as duas nações".

"Na primeira semana de setembro, em comemoração aos 200 anos da nossa Independência, vai acontecer aqui, em Brisbane, a primeira Brazil Week, promovida pela Câmara de Comércio Brasil Austrália, capitaneada pela Valeria Noleto, que é também cônsul honorária do Brasil, em Queensland. Cada dia vamos ter painéis para apresentar possibilidades de cooperação e negócios. A cerimônia de abertura vai ser na prefeitura da cidade, com a presença de autoridades locais, e fui convidado a fazer um pequeno speech [discurso] representando o país, bem como participar de outras atividades durante a semana. Também vou receber no Brasil, até o fim do ano, o cineasta Giusepe Casin, que é brasileiro, mas mora aqui desde menino, e vamos fazer um périplo pelos estúdios e empresas para apresentar projetos de coprodução de cinema e séries para a TV", finaliza ele.



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