Tenho muito orgulho de ser mulher
Publicado em 08/03/2020 às 07:50:27
Para a apresentadora do SBT, Eliana, 46, as mulheres estão cada vez mais se empoderando e entendendo sua importância e relevância na sociedade. Ela, que quebrou a hegemonia masculina à frente dos programas de auditório aos domingos, há 15 anos, afirma que existe machismo em todos os lugares porque está enraizado na educação.
"E quando falo em machismo não falo apenas em homens, há mulheres machistas também. Na realidade a nossa educação foi por anos machistas, estamos todos reaprendendo a nos relacionar de forma mais igualitária, e a respeitar cada vez mais as diferenças", conta Eliana Michaelichen em entrevista exclusiva ao NaTelinha sobre o Dia Internacional da Mulher.
Mãe de dois filhos, Manuela, 2, e Arthur, 8, e casada com o diretor de TV Adriano Ricco, Eliana garante que faz tudo em casa quando está longe das câmeras, e dá detalhes: "Talvez o que ninguém imagina é que eu coloco a mão na massa. Limpo casa, cozinho, varro o jardim, adoro receber amigos e organizar tudo. Faço de tudo um pouco se precisar".
Sobre sua convivência com Hebe Camargo (1929 - 2012), que se estivesse viva completaria 91 anos neste domingo (08), Eliana revelou uma passagem de quando a apresentadora chorou ao telefone ao saber que ela deixaria de comandar programas infantis: "Choramos juntas".
"Hebe foi uma mulher à frente do seu tempo. Tenho muitas saudades e não haverá uma substituta para seu legado. Foi uma mulher brava (em todos os sentidos) sem perder a doçura", completa.
Confira a entrevista da Eliana na íntegra no Dia Internacional da Mulher:
Como a maioria das mulheres sou tipo polvo, faço muitas coisas ao mesmo tempo. Trabalho fora, organizo casa e sou super atenta a educação e o bem estar dos meus filhos. Talvez o que ninguém imagina é que eu coloco a mão na massa. Limpo casa, cozinho, varro o jardim, adoro receber amigos e organizar tudo. Faço de tudo um pouco se precisar. Saio, vez ou outra, para fazer compras para trazer novidades saudáveis para a família.
Amo buscar opções naturais, sem conservantes e orgânicas. Adriano diz que sou incansável na busca por doces que não tenham açúcar e não engordem (risos). Gosto demais de trabalhar fora, mas também curto as funções do lar.
Inspiro-me em minha mãe e avós que sempre foram independentes, trabalharam fora, cuidavam de casa e criavam os filhos. Elas foram e são exemplos de mulheres pra mim.
Tenho muito orgulho de ser mulher
Eliana no Dia Internacional da Mulhercontinua depois da publicidade
Nós mulheres temos muito claro o quanto somos importantes. E cada vez mais estamos nos empoderando e mostrando a nossa capacidade. Antigamente éramos muito menos valorizadas. A dona de casa, que nunca foi remunerada, colaborou por décadas com a economia do mundo.
Ficar em casa trabalhando, sem receber por isso, fez com que a economia crescesse e os maridos evoluíssem profissionalmente. De um tempo pra cá, inverter os papéis foi importante para o nosso crescimento. A mulher deixou de ser dona de casa para ser a Dona da Casa. E muitas são pai e mãe ao mesmo tempo. Por isso e por outras coisas que tenho muito orgulho de ser mulher.
Denunciar. Acreditar que pode sair deste ambiente de medo, perseguição e menosprezo. Conseguir apoio de outras mulheres, pedir ajuda, ir a uma delegacia da mulher e dar queixa. Acreditar que a força está com ela. Sair enquanto é tempo. Ligue 180.
Existe em todo lugar, o machismo está na raiz de nossa educação. Por anos levar uma cantada era normal, ser olhada com segundas intenções como um ser submisso era corriqueiro. Não tínhamos escolha. Gostando ou não éramos abordadas. Hoje temos mais voz e não permitimos passar por injustiças.
Mas ainda temos muito o que conquistar. Nós mulheres também estamos aprendendo a nos posicionar. Acho lindas estas discussões entre os adolescentes, pois sinto que é possível brotar uma nova consciência coletiva que respeite mais o universo feminino.
E quando falo em machismo não falo apenas em homens, há mulheres machistas também. Na realidade a nossa educação foi por anos machista, estamos todos reaprendendo a nos relacionar de forma mais igualitária, e a respeitar cada vez mais as diferenças.
A culpa (de deixar os filhos em casa para trabalhar) faz parte do universo das mães. Parece que estamos sempre devendo, que podemos mais do que já nos doamos. O vínculo materno é muito forte. Deixar o filho pequeno em casa para voltar ao trabalho é dolorido. Voltei da licença-maternidade antes dos três meses de vida deles. Quando Manu tinha um mês eu já estava no trabalho e ainda reservava leite e consegui amamentar até quase um ano.
Às vezes não dá para amamentar, mas isso não nos torna menos mãe. A realidade é que não dá pra achar que somos heroínas e que podemos tudo, pois não podemos. Erramos querendo acertar, mas é bom demais ser mãe, mesmo com tantas cobranças.
A sua existência como figura pública feminina e de sucesso, já tinha uma representatividade de independência para as mulheres. Cresci vendo uma linda mulher falante, que bebia um copo de cerveja em frente às câmeras de maneira divertida, tinha opinião e era guerreira.
Quando a conheci gostei ainda mais do que vi, pois ela era uma mulher que coloca as outras mulheres pra cima. Sempre foi agregadora, gostava de se relacionar, gostava de gente, era alto astral e grata pela vida. Nossos encontros aqui em casa, na casa dela, em restaurantes ou em viagens eram sempre muito agradáveis.
Hebe foi uma mulher à frente do seu tempo. Tenho muitas saudades e não haverá uma substituta para seu legado. Foi uma mulher brava (em todos os sentidos) sem perder a doçura.
Ela era a minha mãe da TV
Eliana sobre Hebecontinua depois da publicidade
Eu dizia que ela era a minha mãe da TV. Foi minha conselheira e confidente por momentos que vivi na TV e na vida pessoal. Amava minhas viagens pelo Brasil e mundo. Me ligava para contar que estava assistindo e que se emocionava ou se divertia com algumas matérias. Certa vez, quando encerrei minha missão como apresentadora infantil, recebi uma ligação dela chorando e lamentando o fim daquele programa. Disse que eu iria fazer falta para as crianças. Choramos juntas.
Depois de alguns meses, com a minha estreia aos domingos, tive a honra em 8 de março de 2005, de receber uma mensagem ao vivo dela, em meu programa do Da Internacional da Mulher, torcendo por meu sucesso. Hebe me trouxe sorte e este ano comemoro 15 anos que falo com a família brasileira aos domingos. Território predominantemente masculino por décadas. Viva o nosso dia e nossas conquistas.
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