Publicado em 09/12/2022 às 04:15:00,
atualizado em 09/12/2022 às 09:54:24
A Globo vive um momento único quando o assunto é audiência e repercussão: a Copa do Mundo 2022. Por causa disso ou apesar da competição é que ninguém parece notar que a emissora carioca enfrenta uma grave crise em seu principal formato: as telenovelas. Se as três faixas da programação enfrentam problemas de Ibope, não se trata deste o principal problema, mas é a falta de identidade que preocupa.
Embora Mar do Sertão tenha conseguido segurar a atenção do telespectador e garantiu repercussão por mais tempo que suas coirmãs, Cara e Coragem e Travessia, mesmo ela não é e nunca foi a trama que instiga o telespectador tal qual Pantanal fez em boa parte de 2022. A novela das seis sofre do mesmo mal de toda obra assinada por Mário Teixeira: não tem história suficiente para vários capítulos e perde o fôlego a partir da terceira semana.
Tanto Cara e Coragem, possivelmente a pior novela das sete em muito tempo, quanto Travessia, que mostra um acúmulo de decisões erradas de Glória Perez e de Mauro Mendonça Filho, têm seus problemas individualizados e que seriam dignas de análise. Porém, este texto não é para apontar falhas das novelas, mas contextualizar a falta de identidade das tramas da Globo, o que é muito mais grave.
Nos três horários de produções inéditas, quem acompanha parece ver apenas cenas de mais uma novela comum e que não entrega nada demais. Não há surpresa, não há procura artística ou qualquer traço de tentativa para produzir arte. Depois do que se mostrou um oásis, Pantanal, a emissora voltou ao que acontece nos últimos 10 anos: todas as tramas parecem uma eterna continuação da antecessora e não sai do lugar.
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É bem verdade que duas das três produções não foram aprovadas pela atual gestão. Mar do Sertão e Cara e Coragem entraram na fila antes da pandemia, quando o departamento era comandado por Silvio de Abreu. O ex-autor e atual executivo sempre impôs um estilo peculiar: não importa o horário ou se uma novela está no começo, é sempre a mesma coisa sem nenhuma mudança.
Mas isso não serve de desculpa para José Luiz Villamarim e sua equipe. O novo diretor do setor teve tempo o bastante para adaptar as sinopses a seu estilo e buscar algum resultado. Ele conseguiu impor sua vontade na novela das seis e em Travessia, de mostrar na tela o Brasil para todos os brasileiros. É dele a ordem que todos os autores devem buscar histórias do interior do país.
Ainda assim, se a ideia é fazer produções em vários estados e regiões, Villamarim precisa avisar os novelistas de que é preciso arriscar e colocar na tela a realidade daquela região. Tanto Travessia quanto Mar do Sertão se passam em locais específicos, mas poderiam acontecer num bairro de São Paulo ou do Rio de Janeiro, tamanha a falta de identidade visual e de roteiro.
Com o alto índice de audiência da Copa, a Globo consegue mascarar que vive uma crise de identidade sem precedentes em suas novelas. É verdade que a gestão de Silvio de Abreu tirou praticamente todo e qualquer novelista da emissora, mas já passa da hora da dupla Villamarim e Ricardo Waddington solucionar o problema ou o público pode abandonar de vez o formato.
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