Publicado em 18/07/2019 às 06:20:01
Muito se fala sobre o tamanho da Globo em questão de teledramaturgia. É bem verdade que a emissora carioca é uma das maiores produtoras do mundo quando o assunto é telenovela, mas não é de hoje que o canal sofre uma profunda crise de identidade com seus folhetins e o resultado é claro: “Topíssima”, da Record, é a melhor novela no ar.
A afirmação parece forte demais e até exagerada, mas há explicações. A começar pelo fato de que a melhor produção da Globo atualmente é justamente uma reprise. Nenhuma das atuais novelas brasileiras conseguem competir com “Por Amor”, no ar no "Vale a Pena Ver de Novo" e que mostra uma história homogênea, crescente e com nuances em todos os seus núcleos. Mas é uma reprise.
Já “Topíssima” mostra um potencial que vem sendo ignorado há muito tempo pelos novelistas brasileiras. Uma das regras básicas de Janete Clair que parecia ter sido esquecida: “não economize. Conte a história e depois crie outras”, dizia a autora tida como uma das mais importantes de todos os tempos.
E é isso que a produção de Cristianne Fridman tem feito. A toda semana o folhetim sofre com uma grande virada e sequências importantes. Os 15 últimos capítulos, especialmente, mostraram que ter escrito uma trama inteira antes de levá-la ao ar fez muito bem a autora responsável por outros sucessos de audiência como “Vidas em Jogo” e “Chamas da Vida”, mas que não tiveram tamanha envergadura como a atual.
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A morte de Jandira (Brenda Sabryna) e a falsa morte de Edison (Bruno Guedes) mostram que Fridman sabe exatamente o que quer. A tal ponto dela abrir mão de uma personagem que criava uma dinâmica de pseudo-vilania e deslumbramento junto ao núcleo pobre de “Topíssima”, ao mesmo passo que utiliza o recurso da falsa morte para garantir um ex-vilão que pode buscar vingança contra os traficantes. É movimentar a história.
Traçando um paralelo com uma produção da Globo, “Órfãos da Terra” fez o caminho oposto. Foram mais de 40 capítulos de ameaças e juras de vingança até que Dalila (Alice Wegmann) fizesse algo que, de fato, surtiu efeito. E mesmo assim, a maldade da vilã só aconteceu porque ela foi desmascarada e, ainda assim, apenas ao ameaçar a vida da mocinha Laila (Júlia Dalavia) é que ela conseguiu que Jamil (Renato Góes) aceitasse se casar com ela.
Ora, se bastava uma ameaça, por que foi necessário tantas voltas ao redor da família e tanto tempo de fingimento? É o famoso medo de contar a história e faltar espaço por conta dos tamanhos das novelas. E isso nitidamente mostra que as tramas da Globo, nos últimos tempos, sofrem com aprovação com base em sinopse que claramente não possuem força para uma novela completa, como foi o caso de “Verão 90”, “O Sétimo Guardião” e “O Tempo Não Para”.
Um importante adendo a esta crítica é “Toda Forma de Amar”. Embora com alta qualidade, a atual temporada de “Malhação” mais parece uma série ou minissérie que propriamente uma novela, já que lança mão de outra linguagem.
Enquanto o maior sucesso de audiência atual é “A Dona do Pedaço”, o folhetim de Walcyr Carrasco oferece mais do mesmo sem conseguir apresentar muita sutileza ou nuances para o telespectador, “Topíssima”, uma obra praticamente fechada, mostra a força de uma novela fora da Globo.
E, a tirar pelo andamento das últimas novelas da emissora carioca e a qualidade de “Topíssima”, talvez seja o caso de começar uma reflexão se o futuro das telenovelas não seja o proposto pela obra da Record: produções fechadas e que só vão ar quando estiverem totalmente escritas. É uma possibilidade.
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