Publicado em 08/05/2019 às 06:00:59
Na mesma velocidade em que vemos o número de criadores de conteúdo crescer exponencialmente, vemos a frequência com que as palavras “depressão” e “ansiedade” aparecem em nossos feeds do Youtube, Facebook, Instagram e Twitter.
Segundo uma reportagem da Polygo, em junho de 2018, os principais criadores de conteúdo dos EUA estão enfrentando problemas como ansiedade, depressão, e estresse e isso tem se refletido, também, nos criadores de conteúdo brasileiros.
Em uma pesquisa recente, voltada ao mercado brasileiro, a Criadores ID destacou que, pelo menos 16% dos influenciadores entrevistados sofrem de ansiedade e 4,3% sofrem de depressão. Segundo a mesma pesquisa, 53,8% desses influenciadores se dedicam exclusivamente ao canal, não exercendo nenhuma outra atividade simultaneamente.
Além disso, 28% não praticam nenhum tipo de esporte ou atividade ao ar livre, o que significa que o tempo recluso produzindo conteúdo se torna prioridade para a maioria desses criadores, muitos deles (42%), ainda morando com os pais.
De acordo com a pesquisa realizada pela TubeLab sobre o mercado de conteúdo digital brasileiro, temos 10 principais categorias de conteúdo: Entretenimento, Finanças/Economia, Educação, Esportes, Animais/Pets, Viagens, Games, Música/Filmes, Moda/Beleza, Auto/Veículos. Dentre as maiores categorias de conteúdo, é possível afirmar que as áreas com mais influenciadores que falam abertamente sobre depressão, ansiedade e estresse são Entretenimento, Games, Filmes/Música e Moda.
Analisando todas as informações e escutando quem sofre diretamente com a pressão do mercado, conseguimos destacar alguns possíveis motivos por trás dessa onda de doenças psicológicas no Brasil.
O primeiro e mais mencionado é a falta de rotina. Para os criadores, principalmente os menores que não têm o suporte de uma equipe, as jornadas de mais de 8h diárias, as vezes em horários nada convencionais, para produzir conteúdo sem garantia de retorno podem levar ao famoso Burnout, um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso.
Além disso, a competição no mercado digital é, de certa forma, invisível. Enquanto tentamos superar colegas de trabalho em um ambiente convencional, os influenciadores sempre terão alguém acima deles, é uma competição irreal, um círculo vicioso de produzir mais do que ontem, para, quem sabe, ter mais retorno amanhã.
O segundo problema mais relatado é o novo algoritmo de monetização usado pelo Youtube. A nova forma de funcionamento da plataforma faz com que postar 2 vídeos semanais não seja mais suficiente, é preciso produzir muito mais para ganhar dinheiro. Com isso, os grandes influenciadores que têm o auxílio de uma equipe, tomam a frente na corrida por views, enquanto os menores precisam se esforçar ainda mais para continuar crescendo.
Um último motivo é a saturação do mercado de influência para os influenciadores. Com cada vez mais perfis brigando pelas oportunidade de publi post, os valores oferecidos pelas empresas contratantes são cada vez menores, influenciando na quantidade de conteúdos produzidos e postados por cada influenciador.
Por isso, enquanto as empresas têm milhares de opções de perfis para escolher, os milhares de perfis têm que se destacar de alguma forma nesse mar de conteúdo.
Olhando para todas essas informações, podemos concluir que, se até 5 anos atrás ser influenciador não era nem considerado uma profissão, hoje, além de ter sido promovido a emprego, veio com todos os problemas que o mercado de trabalho pode oferecer, financeira e psicologicamente. Cabe a todos nós manter a máquina funcionando, mas a que custo?
*Danilo Strano é sócio e diretor de planejamento da empresa Tuberlab (Agência de marketing de influenciadores e desenvolvimento de conteúdo digital). Com a colaboração de Marília Altafim, coordenadora de planejamento.
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