"Conselho Tutelar" retoma clichês de mocinho-bandido e engaja o espectador

Estação NT

Fotos: Divulgação/TV Record
Por Redação NT

Publicado em 05/12/2014 às 17:16:56

Na última segunda-feira (01), a Record estreou a série “Conselho Tutelar”. Sem muito alarde e com apenas cinco episódios gravados, a história, como o título apresenta, é focada na rotina dos profissionais que cuidam de denúncias de maus tratos a crianças e adolescentes, e todo o universo que gira em torno deste ofício espinhoso, como pais, juízes e advogados.  

Desde a concepção visual até a proposta central, “Conselho Tutelar” mostra a tentativa de exibir um produto moderno, com cara de documentário, que saia do lugar-comum das tramas bíblicas, até então marca registrada da emissora de Edir Macedo.  

Feita em parceria com uma grande produtora, escrita por Marco Borges e Carlos de Andrade, dirigida pelo experiente Rudi Lagemann e filmada em ultradefinição, a série se guia pela linguagem das séries policiais americanas.

O protagonista, Sereno (Roberto Bomtempo), traz ecos dos investigadores de “Law & Order”. As histórias, confessadamente inspiradas em casos reais, são contadas sem rodeios, com a intenção de colocar o espectador no centro dos acontecimentos, como o caso da juíza (vivida por Lucinha Lins) que espancava a filha adotada, por exemplo, ou a tentativa de Sereno de equilibrar a vida pessoal e a profissional. Mas a semelhança com o similar estrangeiro para aí, quando “Conselho Tutelar” escorrega no moralismo.

A série não esconde que também quer prestar serviço social ao apresentar, no fim de cada episódio, depoimentos reais de conselheiros tutelares, e nos intervalos, campanhas para que o espectador denuncie agressões a jovens.

O problema é que esta intenção contamina a ficção através de diálogos pobres (“agora a criança está com uma família de verdade!”), interpretações inseguras (com exceção de Bomtempo e o juiz vivido por Paulo Gorgulho, que praticamente levam a série nas costas) e o mais grave, o ar de bem contra o mal que paira sobre toda a trama. Aspecto que diminui a complexidade dos casos tão delicados apresentados pelo roteiro.

Mesmo assim, “Conselho Tutelar” tem atingido Ibope bem superior a “Plano Alto”, série política da Record com trama mais densa e personagens melhor construídos. Talvez o apelo da série esteja em algo mais simples: retrata a época na qual um clique ou compartilhamento nas redes sociais já se converte em denúncia (todos sentem que “contribuem com algo”) e cujo jornalismo policial (praticado pela própria Record) mistura os limites entre ficção e realidade.

Na sua qualidade técnica e maniqueísmo, “Conselho Tutelar” despertaria o “nós contra eles” dentro de cada espectador.


Ariane Fabreti é a nova colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há seis anos.

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