Déjà vu?

5 fatos apontam que Globo é a Manchete do século 21

A grade do canal carioca atualmente se parece bastante com a da extinta emissora


Cristiana Oliveira e Alanis Guillen no papel de Juma Marruá, de Pantanal
Cristiana Oliveira e Alanis Guillen no papel de Juma Marruá, de Pantanal - Reprodução/Manchete e João Miguel Júnior/TV Globo
Por Jéssica Alexandrino

Publicado em 12/05/2022 às 05:59,
atualizado em 12/05/2022 às 08:45

A grade de programação da Globo em 2022 está bem semelhante à da antiga Manchete, que foi extinta em 1999. Um dos pontos que mais chama a atenção, claro, é a novela Pantanal, que fez sucesso no canal em 1990 e chegou a ameaçar o reinado da vênus platinada no horário nobre. Hoje, a novela repete o bom desempenho na líder de audiência e vem alcançando bons números no ibope.

Porém, outras questões reforçam a comparação entre as duas emissoras, como artistas que despontaram na Manchete e atualmente são estrelas do Jornalismo e da Dramaturgia da Globo, a duração de telejornais, e a sequência em que algumas atrações são exibidas. Ao NaTelinha, Fernando Morgado, professor da ESPM e autor dos livros Comunicadores S.A. e Silvio Santos - A Trajetória do Mito, falou sobre alguns pontos que ligam os dois canais.

"A Rede Manchete foi pioneira em muitos aspectos. É impressionante constatar que a atual grade da Globo no horário nobre é muito semelhante à da Manchete nos anos 1980 e 1990. A rede dos Bloch era mesmo, conforme dizia seu slogan, a TV do ano 2000", pontua o estudioso.

Pantanal

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Jove (Jesuíta Barbosa) e Juma (Alanis Guillen) na nova versão de Pantanal - João Miguel Júnior/TV Globo

Quando Benedito Ruy Barbosa ainda estava tentando fazer Pantanal sair do papel, a trama foi oferecida diversas vezes para a Globo, mas a equipe da emissora não achava o projeto viável por sair do eixo Rio x São Paulo, exigindo uma logística muito grande.

O autor então ofereceu a novela para a Manchete, que comprou a ideia e levou o trabalho adiante. A história foi um sucesso imediato, com o público e com o mercado publicitário, que disputava espaço para anunciar em seus intervalos comerciais.

Hoje, a adaptação de Bruno Luperi repete o êxito na Globo e a emissora só tem a comemorar quando se trata dos índices da obra. No total, a média geral da novela se aproxima dos 28 pontos, bem maior que os 22,3 da antecessora Um Lugar ao Sol. Na última segunda-feira (9), a novela bateu um novo recorde de audiência, registrando 30,8 pontos, de acordo com dados do Kantar Ibope na Grande SP.

"Ainda que a Globo esteja fazendo um trabalho primoroso com seu remake, a verdade é que Pantanal continua sendo sinônimo de Manchete. Essa novela demonstrou que qualquer emissora pode alcançar o primeiro lugar de audiência, desde que invista em excelência e inovação", opina Morgado.

Estratégia de grade

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William Bonner e Renata Vasconcellos na bancada do Jornal Nacional - João Cotta/TV Globo

A Manchete foi pioneira ao exibir um telejornal nacional com uma hora de duração, separado do noticiário local. Nos anos 90, o público conferia as notícias de sua região às 19h10 e, logo em seguida, acompanhava uma novela, Kananga do Japão, que era sucedida pelo Jornal da Manchete, que começava às 20h30 e ia até 21h30, quando começava Pantanal, que terminava às 22h30.

Exatamente como acontece atualmente na Globo. De acordo com a grade de programação disponibilizada no site da emissora, o jornal local é exibido às 19h10, seguido por Quanto Mais Vida, Melhor, que acaba às 20h30 para dar espaço ao Jornal Nacional. Com uma hora de duração, o noticiário termina às 21h30 e o público fica com Pantanal até 22h35.

Naquela época, a grade da Globo era bem diferente. O Jornal Nacional tinha apenas 35 minutos de duração, a novela das nove, Rainha da Sucata (1990), por exemplo, começava às 20h35 e a Tela Quente era exibida às 21h35.

"Quando nasceu, em 1983, a rede dos Bloch se inspirou na CNN para criar o Jornal da Manchete, que sempre teve uma hora de duração ou mais, enquanto os outros noticiários raramente passavam de 25 minutos. Além disso, a Manchete aperfeiçoou a chamada programação-sanduíche, provando que era possível ter sucesso exibindo sua principal novela depois das 21h, e não apenas na faixa das 20h, como a Globo e as demais emissoras faziam."

Estrelas da casa

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Taís Araújo, que estará em Cara e Coragem, e Ana Paula Araújo, apresentadora do Bom Dia Brasil - Victor Pollak e Thamiris Mendes/TV Globo

O telespectador que sintonizou na Manchete em 1995 e 1996 viu Taís Araújo iniciando sua carreira nas novelas, como a Bernarda de Tocaia Grande e a protagonista de Xica da Silva, que fez a atriz despontar para o sucesso e migrar para a Globo no ano seguinte, onde integrou o elenco de Anjo Mau (1997). A partir do próximo dia 30, quem ligar na Globo poderá acompanhar a história de Carice, personagem da mulher de Lázaro Ramos em Cara e Coragem, nova trama das sete.

O Jornalismo da emissora carioca também tem uma funcionária que já deu as caras na Manchete: Ana Paula Araújo. A âncora, que atualmente comanda o Bom Dia Brasil na Globo, apresentou o programa Rio em Manchete entre 1994 e 1996, além do Jornal da Manchete e um outro noticiário local.

"A Manchete lançou diversos profissionais, principalmente no jornalismo, que era uma das fortalezas da emissora. Mas a influência da Manchete continua nos dias de hoje em muitas outras áreas da TV, indo além do que daquilo que se vê nas telas", observa o escritor.

Vinhetas especiais

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Reprodução/TV Globo

Com o objetivo de reconhecer artistas brasileiros e homenagear algumas datas nacionais ao longo do ano, a Globo vai veicular vinhetas customizadas a partir de obras criadas por esses profissionais. A primeira delas pôde ser conferida na programação do último domingo (8), Dia das Mães, por meio da peça da artista plástica paulista Renata Felinto. A ideia faz parte do projeto Plim Plim, que é um desdobramento de uma iniciativa que nasceu com a nova identidade visual da empresa, lançada no fim do ano passado.

Segundo institucional divulgado no site da Globo, o objetivo é agregar para essa vinheta, que sempre anuncia alguma programação da emissora, brasilidade e pluralidade, trazendo as características de um Brasil diverso com toda as suas multiplicidades. A ideia é que novos artistas possam contribuir com o plim plim em mais efemérides ao longo de todo 2022.

Nos anos 90, pinturas nas vinhetas também estavam presentes na Manchete. Diversas peças foram veiculadas seguindo essa temática, inclusive com artistas plásticos pintando o clássico "M" do canal, como Romanelli, em 1997. Na época, a equipe não contava com a tecnologia atual, mas a ideia era bem semelhante.

"A primeira vez que a Manchete lançou vinhetas com pinturas foi em 1996, valendo-se do acervo do museu que o Grupo Bloch mantinha no Rio de Janeiro. O símbolo da emissora, feito em computação gráfica, pousava sobre as obras. Depois, foi gravada uma série de artistas plásticos nacionais pintando em telas com o símbolo da emissora em alto relevo. O primeiro convidado foi Manabu Mabe, que era amigo pessoal de Adolpho Bloch. Esse último pacote de vinhetas foi, na minha opinião, foi uma das maiores ações de popularização das artes plásticas já feita no Brasil. Era possível não apenas ver a obra dos pintores, mas também os seus rostos e métodos de trabalho", lembra Morgado.

Os Sater

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Almir Sater e Gabriel Sater caracterizados como Trindade - Reprodução/Manchete e João Miguel Júnior/TV Globo

Na primeira versão de Pantanal, exibida na Manchete, Almir Sater deu vida a Trindade e ganhou status de galã, sendo convidado para protagonizar uma outra trama da emissora, A História de Ana Raio e Zé Trovão (1991).

Já na adaptação produzida pela Globo, Gabriel Sater, filho do veterano, interpreta o mesmo papel que foi do pai e também ganhou o título de galã, apesar de afirmar que não enxerga as coisas dessa forma e procura manter os pés no chão, colocando a arte em primeiro lugar.

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