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Vencedora do 1º No Limite conta que foi desafiada por Boninho longe das câmeras

Elaine se consagrou como a primeira campeã do reality que volta em 11 de maio na Globo


Elaine no primeiro No Limite e no game Os Melhores anos de Nossas Vidas
Elaine vence o primeiro No Limite no ano 2000 - Foto: Divulgação/TV Globo
Por Thiago Forato

Publicado em 28/04/2021 às 04:00,
atualizado em 28/04/2021 às 09:38

Em 2000, o Brasil iniciava sua paixão por reality show. Surgia o No Limite, inspirado no Survivor, que parou o país nas noites de domingo da Globo. Elaine Melo, na época com 35 anos, contrariou todas as expectativas e faturou R$ 300 mil. O que talvez pouca gente saiba é que ela foi parar na atração por acaso, numa visita de uma repórter da Globo ao salão que trabalhava em São Paulo. "Eu não me inscrevi no programa (...) Eu estava trabalhando há quase oito anos sem férias. As crianças eram pequenas", relembra ela em entrevista exclusiva ao NaTelinha

Predestinada, comunicou ao marido que ficaria isolada em um novo programa da Globo, e sem saber exatamente o que era, fez as malas e foi embora. "O que eles não sabiam é que sempre fiz acampamento selvagem. Ia para lugar perto de lago, sem luz, sem nada. A gente curtia, fazia fogueira, essas coisas, não era novidade pra mim. Eu não ia imaginar que seria dessa forma, porque ninguém falou nada", explica Elaine, agora com 55 anos.

Depois da primeira temporada, o No Limite ainda teve outras três edições, sendo a última em 2009. Elaine afirma que não assistiu as anteriores, mas dessa vez, vai acompanhar o programa que reunirá 16 ex-BBBs. "Eu amo o André Marques. Amo o Zeca [Camargo] também, ele me mandou mensagem hoje. A gente mantém contato. O André gosta de cachorro que nem eu. A gente se identifica", elogia ela.

Elaine também recorda um caso curioso com Boninho nos bastidores, os 27,5% de impostos descontados do prêmio de R$ 300 mil, os hotéis que ficou depois de gravar o programa até que o público conhecesse a ganhadora, os 12 quilos que perdeu durante o reality e uma viagem que fez com Pipa, vice-campeã, para a Argentina e Chile.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

NaTelinha - Já faz 21 anos que o programa acabou, mas pode-se dizer que o No Limite mudou a sua vida, né? Você ganhou 300 mil reais no ano 2000... Que balanço você faz da transformação que o programa causou?

Elaine Melo - Vamos começar pelo começo. Sempre morei aqui em São Paulo do lado da USP. Sempre morei nesse bairro, a gente mora aqui... A minha avó tem uma casa aqui há mais de 100 anos. Meu bisavô quando veio da Itália, ele tinha uma olaria de tijolos e telhas, é do lado da chácara do Matarazzo. Eu gosto de São Paulo, gosto daqui, a gente não sai. Fiquei no mesmo lugar que eu estava.

NaTelinha - Não mudou de lugar?

Elaine Melo - Não, não. Todo mundo me conhece. Qualquer carro que passa da Globo o pessoal diz: 'A Elaine mora ali, ó'. O prêmio vou te falar, foi o seguinte: R$ 300 mil era muito dinheiro em 2000? Era. Mas o desconto de imposto também era muito grande, era 27,5%. Me sobrou R$ 192 mil. Eu paguei o imposto. As pessoas acharam, 'nossa, você ficou milionária'... Não. As pessoas deveriam pensar muito mais. O que valeu a pena foi a experiência, não a grana que eu ganhei.

É como falei pra uma vez pra um cara que veio me entrevistar. Você sabe que a entrevista depende mais de quem está entrevistando de quem é entrevistado. Vamos fazer as pessoas pensarem. É o que vale hoje em dia. Do que ficar fazendo as mesmas coisinhas toda vez. É o que respondi uma vez numa escola que eu dei palestra, as perguntas mais inteligentes que eu já respondi foi nessa palestra. Sabe o que me perguntavam?

NaTelinha - O quê?

Elaine Melo - O que você sentiu? A experiência te trouxe o que de novo? Então, você vê assim, o interesse deles não era o dinheiro. Com o dinheiro do No Limite eu comprei dois apartamentos aqui mesmo onde eu moro. Mas não é nada, nossa... É uma grana, mas não foi ela que mudou minha vida. Sempre trabalhei, conquistei as coisas. O que mudou a vida foram os amigos que eu ganhei...

NaTelinha - Você mantém contato com o pessoal do programa?

Elaine Melo - Com todo mundo, nós temos um grupo. O que conta é a experiência que você teve. 20 anos depois, o quanto você emocionou, o quanto você conseguiu mexer com ela, é o mais importante.

NaTelinha - Você não tinha ideia que grande parte do Brasil estava torcendo por você?

Elaine Melo - Eu não sei o porque estavam torcendo por mim. Você não imagina que você alcança as pessoas dessa forma. Sempre trabalhei em salão grande em São Paulo. O que fica é isso, são as amizades. A experiência que a gente teve foi uma coisa muito forte. Você é confinado, ou você é verdadeiro... Se você monta em cima disso um personagem, ele é destruído. Não adianta você montar, porque a coisa é punk, pesada. É fome, falta da família, do convívio. Você convive com 12 pessoas diferentes de você. Cada um tem uma educação, criação, envolve muita coisa.

NaTelinha - Como você foi selecionada para o programa numa época que não sabíamos o que era reality show? Você sabia no que estava se metendo?

Elaine Melo - Eu não me inscrevi no programa. Eu estava trabalhando em um salão no Jardins e entrou uma repórter interna do Fantástico, a Cris, e não lembro o sobrenome dela... Estava fazendo a unha, minha mãe que era espevitada, falou: 'queria falar com você'. E falou: 'minha filha está ali, fala com ela'.

Não havia reality show no Brasil. O que havia era Survivor, mas só pra quem já tinha TV fechada ou acesso à internet. Para nós, meros mortais, a classe C, D não conhecia ainda. O que aconteceu? Fui conversar com ela [repórter] e ela não abriu o que era. Eu estava trabalhando há quase oito anos sem férias. As crianças eram pequenas. Eu tinha comprado um apartamento, estava pagando. Aí a idade, você tá com 30 anos, tinha um pique do caramba, eu tinha 35 anos. Você vai. E ela perguntou: 'você não quer perguntar para o seu marido?' 'Eu não vou pedir permissão, nunca pedi permissão para nada'. Não sou dessas mulheres, nunca fui. Ela pegou e falou, 'então tá'. Fizemos um vídeo, no outro dia me entregaram um questionário com papel timbrado da Globo.

Uma semana depois me ligaram: "Você passou pela primeira fase". Um dia me ligou uma menina, a Priscila. E eu falei: "que legal". E ela disse: "mas você não ficou feliz?" Falei... "Vamos lá, em primeiro lugar não sei onde estou indo, o que vai ser e como vai ser, então é meio difícil explodir de alegria, concorda comigo?". E ela falou: "é, você tem razão". Foi muito engraçado. Como achar o máximo? Não é verdade?

NaTelinha - Você estava completamente no escuro? E se você soubesse o que era o No Limite, você aceitaria?

Elaine Melo - Olha, ela falou mais ou menos no dia... Você vai ficar 30 dias isolada num lugar, não vai vai poder ter contato comigo, vai passar um pouco de fome... O que eles não sabiam é que sempre fiz acampamento selvagem. Ir para lugar perto de lago, sem luz, sem nada. A gente curtia, fazia fogueira, essas coisas, não era novidade pra mim. Eu não ia imaginar que seria dessa forma, porque ninguém falou nada.

O que aconteceu, quando ficou só eu e a Pipa... O Boninho pegou e falou assim, me deu aquelas barracas de fibra com varetas e falou: "Vou te explicar uma vez só como monta". Eu falei: "Eu sei como montar". "Então não vou explicar, quero ver você montar". Abri o pacote, toda a parte debaixo, porque lá venta pra cacete, sentei em cima da base, comecei a engrenar as varetas e ele me olhando com aquela cara: "essa filha da puta vai montar mesmo" (risos). O que ele não sabia é que eu sempre fui moleque. Teve outra prova, que quando acabou, ele falou assim: "vou dar mais cinco bolinhas de gude, quero ver quem tem mira boa". Ele me deu as cinco e acertei as cinco de novo. Ele disse: "Você era um moleque quando era criança". Sempre fui.

Vencedora do 1º No Limite conta que foi desafiada por Boninho longe das câmeras

NaTelinha - Como foi o momento do isolamento?

Elaine Melo - Estávamos no Ceará e lá tinha a Chuva do Cajoeiro. É chuva, tá? Não é chuvinha, é chuva! E chove dia e noite, três dias sem parar! Uma loucura! E aí seguraram a gente no hotel... Isolaram a gente no hotel, não tinha como soltar a gente no meio do mato naquela chuva. Isso não foi falado. Ainda ficamos três dias num hotel, tirando das roupas na logomarca.

NaTelinha - Isso foi quando?

Elaine Melo - Totalmente antes da estreia, quase uma semana antes. E ficamos lá. E teve o último jantar. Levaram a gente até o ponto, um helicóptero saindo do hotel, sobrevoou o mar todinho pra não termos noção de onde estávamos. Estávamos a nem 5km do hotel. Mas, pelas dunas, como eram altas, a gente não tinha noção que tinha uma vila de pescadores logo depois do hotel. Isolaram a área pra você ter ideia. Passou uma vez um cachorro que eu corri atrás (risos). É bem louco, o isolamento é uma coisa muito séria.

NaTelinha - E quando o programa terminou de ser gravado?

Elaine Melo - Dia 5 de agosto. Uns 35 dias antes da final. Eu perdi 12 quilos e meio. Então, mantiveram a gente numa casa maravilhosa até, que tinha um lago lindo.

NaTelinha - E quanto tempo ficaram lá?

Elaine Melo - Uma semana. Depois levaram a gente pra São Paulo num avião que só foi gente da Globo. E depois fomos para Teresópolis e aí começou a saga dos hotéis. Fica em um, fica em outro. Teve uma vez que quase morri de rir, em um chalé que parecia suíço, em Teresópolis. No final de semana ia ter um congresso de repórteres (risos). Arrancaram a gente de lá. Foi muito engraçado. Até que arrumaram um hotel fazenda perto de Teresópolis, numa área mais remota, onde foi gravado uma série da Fernanda Montenegro há pouco tempo.

NaTelinha - Eles fizeram isso, esse baile dos hotéis até o programa terminar na TV?

Elaine Melo - Sim. Já tinha visto minhas filhas...

[nota da redação: Elaine tem duas filhas. Uma de 30 anos, que está vivendo em Londres com o marido desde pouco antes da pandemia surgir, e outra de 25 anos.]

NaTelinha - Então você já tinha dimensão da torcida?

Elaine Melo - Não ainda. Eu tive noção quando eu e a Pipa resolvemos viajar pro Chile e Argentina. Deixaram a gente viajar juntas nós duas, sozinhas.

NaTelinha - A Globo deixou?

Elaine Melo - Nós fomos.

NaTelinha - Eram só vocês duas nesse baile dos hotéis?

Elaine Melo - Sim. Aí nós fomos pro Chile, Argentina, ficamos uma semana e meio mais ou menos e voltamos para a final. Foi aí que tive noção da loucura. Estávamos no Chile, caiu em cima da gente um ônibus com umas 60 crianças. Eu e a Pipa tivemos que correr pro meio de um restaurante, uma avalanche... (risos)

Como era feriado de 7 de setembro, tinha um monte de brasileiro lá. Uma loucura. Aí vieram: "quem ganhou?". "Não sabemos ainda, vamos voltar pra gravar o último episódio". Foi muito engraçado. Aí estou eu sentada num café em Buenos Aires, era feriado, e tinha um monte de gente do salão que eu trabalhava. Estava eu sentada, arrumamos dois amigos eu e Pipa, e convidaram a gente pra tomar café com eles. Um deles o Luis, até me mandou o presente. De repente batem no meu ombro: "o que você tá fazendo aqui?". Uma cliente minha, a dona Vera.

Vencedora do 1º No Limite conta que foi desafiada por Boninho longe das câmeras

NaTelinha - Pra ela você falou que ganhou?

Elaine Melo - Não podia falar. Tinha contrato. Não pode abrir a boca.

NaTelinha - Depois desse primeiro No Limite, teve três edições. Você assistiu? Teve ciúmes ou algum sentimento do tipo?

Elaine Melo - Eu estava corrida na época comigo. Tinha palestra, viajava muito. Tem coisa que lembro que vi, mas não acompanhei nada fixo porque realmente não dava, filhos ainda pequenos, família, amigos, sobrinhos, uma loucura, você não tem noção. Ao ponto de chegar link na porta de casa. Chegou um dia e estavam me esperando para um almoço da sogra da minha irmã. Tinha montado uma festa pra mim e não sabia. Cheguei em casa de uma entrevista, não tinha ninguém em casa abri e entrei com o carro e tinha duas repórteres...

NaTelinha - Quem eram as repórteres?

Elaine Melo - Não sei, nem perguntei o nome e nem queria saber quem era. Falei, olha não vou atender... 'Estamos aqui desde de manhã te esperando'. E falei: 'não vou atender, estão me esperando para um almoço'. Peguei, abri o portão. E depois falei: 'Fora do portão vocês podem falar alto comigo. Agora as duas fora da minha casa. Pra dentro do portão vocês estão dentro da minha casa'. Enxotei mesmo. Ridículo. Mandei as duas para correr.

NaTelinha - Esse No Limite você vai assistir?

Elaine Melo - Claro! Eu amo o André Marques. Amo o Zeca também, ele me mandou mensagem hoje. A gente mantém contato. O André gosta de cachorro que nem eu. A gente se identifica.

NaTelinha - Agora vamos supor que a Globo fizesse o contrário. Um Big Brother com ex-participantes do No Limite. Você toparia?

Elaine Melo - Olha! Seria uma experiência interessante. O confinamento de outro jeito. Eu prefiro mais o No Limite. Não sei como reagiria a um confinamento assim... Se bem que já estou num confinamento já... De repente lá você dá uma surtada, a gente nunca sabe.

NaTelinha - Pro No Limite você voltaria depois de tanto tempo?

Elaine Melo - Acho que não tenho mais condições de fazer não. Dependendo das provas, os joelhos... Por mais que você queira... Tem que saber seu limite. Ir lá pra passar vergonha não vou não. O Big Brother acharia uma boa, ficar de piscina...

NaTelinha - As plantas fazem muito isso.

Elaine Melo - O Big Brother, o que você percebe, são as meninas modelos. Você não vê as gordinhas, não vê muito diferencial. Mulher tem celulite, flacidez (risos). Agora mais velho você tem tudo. A gente começa a valorizar outras coisas, muitas propagandas já andam valorizando. É muito preconceito achar que todo mundo tem que ser bonitinho e maravilhoso.

NaTelinha - Agora a mídia e marcas estão abrindo um pouco mais os olhos pra isso, né?

Elaine Melo - Sim, sem dúvida.

NaTelinha - Você atua ainda como cabeleireira em São Paulo?

Elaine Melo - Sim, bem mais light, perto de casa. Estou bem mais tranquila, vou trabalhar só quando tenho cliente agendada.

NaTelinha - Você tem um salão só teu?

Elaine Melo - Não! Pra que arrumar dor de cabeça? Não... Eu nunca servi pra ser patroa, não daria pra mandar não. Acho que eu gosto das coisas muito certinhas e não sei se daria pra mandar nos outros. Acho que não é minha praia.

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