Repórter da Globo no Pará é mantida refém em igreja e registra BO
Nathália Kahwage, jornalista da TV Liberal, ficou trancada em templo evangélico
Publicado em 19/10/2020 às 20:15
Uma equipe da TV Liberal, afiliada da Globo no Pará, foi mantida refém em uma igreja evangélica durante a gravação de uma reportagem sobre enchentes no bairro de Curió-Utinga, em Belém, neste final de semana. A jornalista Nathália Kahwage e o cinegrafista Wanderley Prestes registraram boletim de ocorrência por cárcere privado e ameaças de morte.
As imagens da equipe sendo mantida refém foram exibidas no JL1, telejornal local da TV Liberal. Integrantes da igreja tentaram intimidar os jornalistas e impedir o registro do repórter cinematográfico. É possível ouvir um representante do templo dizendo: "Você não vai sair". Nathália Kahwage respondeu: "Eu vou processar [...] Que palhaçada é essa? Isso aqui é cárcere privado!".
Os profissionais também foram empurrados, e a repórter disse ter sido agarrada pelo braço, porém a agressão não foi gravada. Depois de muita insistência, eles conseguiram sair do local e registraram Boletim de Ocorrência em um distrito policial no bairro de Pedreira.
Nathália relatou aos delegados que "tentava andar em direção à porta, porém eles seguravam pelo braço e ombro. As pessoas começaram a tentar tirar a câmera das mãos de Wanderley". Também disse que "o homem (pastor) passou a ameaçar, dizendo que se a matéria fosse ao ar doe iria matar Wanderley".
Trecho do boletim de ocorrência registrado pela repórter Nathália Kahwage - Foto: Reprodução/TV Liberal
Repórter da TV Liberal: "Meus direitos foram violados"
Em sua rede social, a jornalista afirmou que teve seu direito violado como profissional e como pessoa e justificou a queixa à polícia.
"Tudo foi registrado, temos mais de cinco minutos de gravação sobre esse fato que ocorreu. Foi um ato violento ocorrido com a nossa equipe de reportagem, em que nós nos sentimos profundamente desconfortáveis, constrangidos, uma violação de direitos não só enquanto jornalista, mas enquanto pessoa, eu e o cinegrafista Wanderley Prestes. Nada mais razoável do que a gente, assim como qualquer outra pessoa que se sentisse lesada, procurar as instituições para formalizar essa queixa e essa violação de direitos, para que, assim, as autoridades competentes possam abrir uma investigação e, caso for realmente comprovado, que os responsáveis sejam penalizados sobre o que ocorreu", afirmou a repórter.
"Qualquer pessoa tem o direito de fazer, até porque houve ali, como eu mencionei, um constrangimento, uma situação completamente incompatível com a nossa sociedade democrática, o nosso estado de direito", prosseguiu Nathália.
A TV Liberal repudiou o ataque à equipe de reportagem e chamou o episódio de "violência injustificável e covarde".
"No decorrer da cobertura sobre os estragos ocasionados pela chuva, a equipe entrou no local para mostrar a igreja que foi destelhada, e as telhas atingiram algumas casas da vizinhança por causa da chuva no bairro do Curió-Utinga, Adentraram com autorização da Defesa Civil e de um membro da igreja. Os dois profissionais estavam fazendo imagens no terceiro andar do templo quando um homem que se intitulou pastor da igreja e outras pessoas também integrantes da igreja surgiram, dizendo que os profissionais não tinham autorização para estar no templo. Ameaçaram a equipe e mantiveram-nos trancados sob ameaça no local", publicou a emissora.
"O papel do jornalismo é estar junto da comunidade e a equipe estava realizando este trabalho. A TV Liberal acredita que toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atuação jornalística, que é a de levar informação aos cidadãos. Tal atitude feriu a liberdade de expressão e de imprensa. Além de atentar contra a equipe jornalística, estas pessoas atacaram o direito da sociedade de ser livremente informada. A liberdade de imprensa e o direito à informação são básicos nas sociedades democráticas, e estão sendo desrespeitados pelo autoritarismo. Sem jornalismo, não há democracia", complementou.
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