Record entra em crise interna com o fim da sua “super grade” de domingo
Cresce dentro da emissora uma ala que defende a saída do atual vice-presidente artístico, Marcelo Silva
Publicado em 02/04/2020 às 04:44
O desmantelamento total da grade milionária da Record aos domingos, após quatro semanas da estreia, abriu uma crise interna na emissora. Nos bastidores, uma ala importante aponta a gestão de Marcelo Silva, vice-presidente artístico, como culpada pelo fracasso da nova programação. Além disso, defendem que profissionais de TV assumam o controle estratégico do canal.
O bispo da Igreja Universal Marcelo Silva é homem de confiança de Edir Macedo e está no cargo desde 2013, quando substituiu outro bispo, Honorilton Gonçalves. O ex-todo poderoso esteve à frente da Record por sete anos.
A gestão de Honorilton ficou conhecida por espelhar a grade da Globo e criar programas como nomes semelhantes a concorrente, como Domingo Espetacular e Esporte Fantástico. Foi Honorilton quem implantou o slogan "a caminho da liderança", algo que nunca aconteceu.
Quando assumiu, em julho de 2013, Marcelo Silva tinha a missão de lançar uma política de redução de custos e distanciar o Ibope da Record do SBT. Tendo esse intuito, nesses últimos seis anos, terceirizou a dramaturgia e alguns programas de entretenimento. Porém, nunca se consolidou em segundo lugar de audiência.
Fontes ouvidas pelo NaTelinha criticam a forma com que Silva gerencia o artístico da Record e o acusam de decidir tudo por ouvido, com sua equipe chegando e dando uma opinião. Apontam que muitas das suas decisões não são realizadas através de mensurações de pesquisas, mas por feeling e em acordo com cúpula da Universal. Internamente, cresce um movimento pedindo que o artístico seja pilotado por um executivo que tenha know-how de televisão.
Para alguns diretores, o vexame do Ibope da “super grade” de domingo, com Hoje em Dia, Sabrina Sato, Rodrigo Faro e Xuxa, seria o estopim para encerrar a gestão de Marcelo Silva. A área comercial da Record foi a mais prejudicada com o tropeço. Anunciantes que apostaram no canal estão tendo compensações de inserções ao longo da grade em programas como Jornal da Record e Domingo Espetacular.
Todo o impacto do desmonte da grade dominical e o fim do Domingo Show com Sabrina Sato só não foi mais desastroso devido à atuação da equipe comercial da emissora liderada por Walter Zagari, executivo com grande influência no mercado. O quadro Made in Japan, principal aposta de Sabrina, deixa os domingos já a partir do próximo fim de semana, dando lugar a filmes, e migrará para os sábados, mas somente a partir de maio.
O fim do Domingo Show na Record
Na última quarta-feira (01), a notícia sobre o fim do Domingo Show apresentado por Sabrina Sato desde o dia 8 de março gerou um clima péssimo na Record, segundo apurou o NaTelinha. Além dos funcionários enfrentarem incertezas quanto à manutenção dos seus empregos diante da crise provocada no mercado publicitário pelo novo coronavírus, temem que sejam demitidos por acreditarem que a emissora não conseguirá realocar a produção do extinto dominical em outras atrações.
Ainda com a apresentação de Geraldo Luís, a Record tinha ampliado a produção do Domingo Show quando decidiu apostar no retorno do programa ao vivo, com plateia e mais longo, em junho de 2019.
As críticas internas também são direcionadas a Antônio Guerreiro, vice-presidente de jornalismo da Record, no cargo desde janeiro do ano passado. O executivo e sua equipe foram os responsáveis pela montagem do novo Domingo Show com Sabrina Sato. A atração estava sob a batuta do jornalismo.
Guerreiro vem acumulando sucessivos erros de estratégia no jornalismo e na mesma proporção que aumenta a desconfiança sobre seu gerenciamento.
Oficialmente, a Record justifica o fim da “super grade” dominical como parte da reestruturação da emissora diante da pandemia do novo coronavírus. "Novas gravações externas e em estúdio com plateias e participantes no palco, além de equipes técnicas e produção, estão interrompidas por recomendações das autoridades de saúde", completou a emissora em comunicado. Procurada sobre a crise interna, a emissora não se posicionou.