Representatividade

Manuela Dias sobre a escolha de Tais Araújo para Vale Tudo: "A Raquel pra mim sempre foi preta"

Autora confirma cenas icônicas em remake como a do vestido de noiva rasgado


Manuela Dias em foto posada - Divulgação
Manuela Dias é autora do remake de Vale Tudo - foto: Jorge Bispo/TV Globo
Por Taty Bruzzi

Publicado em 26/02/2025 às 04:44,
atualizado em 26/02/2025 às 12:02

É tempo de Vale Tudo! Na noite da última segunda-feira (24), a Globo exibiu a primeira chamada do remake, que estreia no dia 31 de março na faixa das 21h. Escrita por Manuela Dias, a novela faz parte da comemoração pelos  60 anos da emissora, em abril.

Em conversa virtual com a imprensa, com a participação do NaTelinha, a autora falou sobre a escolha de Taís Araujo para o papel de Raquel Acioly, personagem de Regina Duarte na clássica versão de 1988.

Manuela Dias sobre a escolha de Tais Araújo para Vale Tudo: \"A Raquel pra mim sempre foi preta\"

"A Raquel pra mim sempre foi preta! Era branca pela nossa dificuldade de ver isso, era difícil naquele momento. Que bom que a gente, cada vez mais, entende e luta por essa construção em todos os pontos."

Manuela Dias

Manuela Dias recorda que na época em que a novela foi ao ar só haviam dois atores negros no elenco. "De 88 pra cá, passamos por um processo de tratamento: machismo, racismo, classismo... Naquele momento, o nosso olhar era tão deformado pelo racismo estrutural que a gente consegue ver e nomear", observa.

Manuela Dias sobre a escolha de Tais Araújo para Vale Tudo: \"A Raquel pra mim sempre foi preta\"

A autora vai mais além em sua critica sobre os debates que serão discutidos no folhetim hoje, mas que naquela década eram normalizados, como o machismo e a violência contra a mulher.

"Poliana dizia que ia bater na Aldeide. A agressão contra a mulher, na versão de 88, é totalmente normalizada. Que bom que hoje em dia a gente estranha e é capaz de de ver o que está acontecendo em vários conceitos sociais como os casais homoafetivos e o alcoolismo", cita.

Autora nega contradição na escalação de Bella Campos como Maria de Fátima

Manuela Dias sobre a escolha de Tais Araújo para Vale Tudo: \"A Raquel pra mim sempre foi preta\"

O anúncio de que Vele Tudo teria uma nova releitura mexeu com os ânimos dos telespectadores. Alguns deles ainda saudosos pela versão original, outros curiosos para conhecerem uma das obras mais marcantes da nossa teledramaturgia.

Para Manuela Dias, tem o desafio de contar essa história, 37 anos depois da sua exibição, mantendo a sua essência, mas com elementos atuais, de uma sociedade que sofreu mutações ao longo de quase quatro décadas.

"As histórias estão vivas que nem as pessoas! Quem já viu [novela], é que nem encontrar o amigo que não vê há muito tempo. O mundo mudou, ainda bem. De alguma forma, ninguém viu essa novela, ainda."

Manuela Dias

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Conhecida por sempre abordar questões relevantes como o racismo, a representatividade e as diferenças de classes em suas obras, a autora destacou que a dramaturgia é uma ferramenta de transformação social.

"A função da dramaturgia é contar histórias para se divertir, mas também costurar essa teia de valores que sustentam uma sociedade. Quando a gente tem representatividade é uma atitude central e política. De 88 para cá, passamos por um processo de letramento".

Manuela Dias

Faltando pouco mais de um mês para a estreia de Vale Tudo, muitos são os questionamentos sobre a atualização da obra. Para algumas pessoas, o anúncio de Bella Campos como Maria de Fátima, por exemplo, parece uma grande contradição.

Manuela Dias sobre a escolha de Tais Araújo para Vale Tudo: \"A Raquel pra mim sempre foi preta\"

No folhetim escrito por Gilberto Braga, Gloria Pires deu vida à personagem protegida por Odete Roitman (Beatriz Segall/Debora Bloch), a grande vilã dessa história, uma mulher que não esconde os seus preconceitos pelas minorias.

Segundo Manuela Dias, para a milionária qualquer pessoa que esteja a serviço dela, serve . "A Odete [Roitman] é tão pragmática, e conectada com o que funciona para ela, que isso é maior do que tudo", avalia.

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"Ela tem uma identificação forte com a Maria de Fátima. Tanto, que a sua maior decepção será lá na frente, quando ela descobre tudo, e chora, desmonta. A Maria de Fátima é perfeita! Tanto na versão original quanto nesta."

Manuela Dias

A autora conclui a conversa matando a curiosidade sobre a preservação de cenas icônicas do folhetim original. "Sim, teremos cenas icônicas, rasgação de vestido, chegada de Odete... É que nem fazer ET e não tê-lo cruzando a lua de bicicleta. Temos todos os nossos 'Ets' cruzando a lua", finaliza.

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