Entrevista exclusiva

Tereza Seiblitz revela bastidores de Renascer: "Chorei tanto que não conseguia decorar"

Atriz elege cena mais marcante, opina sobre remake da Globo e dá detalhes de projetos no teatro e no streaming


Tereza Seiblitz
Tereza Seiblitz teve destaque há 30 anos como a Joaninha de Renascer, novela que ganhará remake no horário nobre com estreia prevista para janeiro de 2024 - Foto: Reprodução/Globoplay e Divulgação/Aramis Neves Pereira Junior
Por Walter Felix

Publicado em 18/10/2023 às 04:44,
atualizado em 18/10/2023 às 14:36

O primeiro contato de Tereza Seiblitz com o manguezal foi nas gravações de Renascer (1993), em que deu vida à catadora de caranguejos Joaninha. A experiência inspirou a atriz a escrever, anos depois, a peça Carangueja, encenada recentemente no Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, ela explica a relação entre a novela e o espetáculo e opina sobre o remake da trama, em produção na Globo.

Renascer foi a terceira novela de Tereza Seiblitz – ela já havia atuado em Barriga de Aluguel (1990) e Pedra sobre Pedra (1992). “Eu estava há quase um ano morando na Bahia, em cartaz com Dona Flor e Seus Dois Maridos nos 80 anos de Jorge Amado. Era a única carioca num elenco de baianos. Quando me chamaram para a novela [ambientada em Ilhéus], achei muito especial.”

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Ela havia acabado de ler Cão sem Plumas, poema de João Cabral de Melo Neto sobre catadores de caranguejos do Capibaribe. Já planejava construir uma dramaturgia sobre esse universo quando recebeu o convite para viver Joaninha. “Quando li ‘catadora de caranguejo’, falei ‘sim’ e fui fazer (risos). Ainda aproveitei por estar com a prática da fala baiana muito forte.”

Para Tereza, Joaninha significou a confirmação de que era atriz. “Depois dos primeiros trabalhos, estava muito alegre e mais madura. Foi a primeira vez que me senti à vontade mesmo em cena”, conta ela, que se encanta ao lembrar das gravações – a direção geral era de Luiz Fernando Carvalho. “Eram muitas cenas externas, geralmente com uma única câmera e em planos sequência. Era como um balé dos atores com o câmera e toda a equipe.”

Joaninha teria outro rumo na sinopse original

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Tereza Seiblitz e Osmar Prado em Renascer - Foto: Divulgação/Globo

A personagem era uma mulher simples, que deixa o manguezal para tentar melhores condições de vida ao lado do marido Tião Galinha, papel de Osmar Prado. “Ele é um ator muito culto e também muito intuitivo. Começamos a desenvolver em cena uma linguagem para aquele casal, dentro das pessoas que nós éramos. Era um jogo muito bom”, relembra Tereza Seiblitz.

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Na história original de Benedito Ruy Barbosa, Joaninha teria outro rumo. Alvo do assédio do Coronel Teodoro (Herson Capri), a moça teria um caso com o vilão. Seu interesse amoroso, contudo, acabou sendo o Padre Lívio (Jackson Costa), que, na sinopse, teria um envolvimento com Ritinha (Isabel Fillardis).

“O Benedito era muito atento a tudo. Não fazia a novela como obra fechada. Ele ia vendo aonde os atores podiam ir, e então mudava de ideia ao longo dos capítulos. Foi ótimo, porque a Joaninha teve ainda mais conflitos. Tudo o que a gente não quer na vida, a personagem quer (risos).”

Cena mais forte de Renascer ficou guardada “no corpo e no afeto”

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Joaninha na sequência da morte de Tião Galinha em Renascer - Foto: Reprodução/Globoplay

Com o sucesso de audiência, a Globo esticou o número de capítulos, e Osmar Prado não pôde continuar na trama até o final. A saída encontrada foi a morte de Tião Galinha, que comete suicídio após ser preso injustamente e sofrer várias humilhações na cadeia. A sequência em que a personagem recebe o corpo do marido está guardada na memória da atriz até hoje.

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“Quando recebi o roteiro e comecei a ler, chorei tanto que não conseguia decorar. Cheguei a ligar para o meu pai, que era muito meu parceiro, e ler a cena para ele. Cheguei no cenário sem o texto na cabeça. E na hora da gravação foi impressionante: o texto veio todo, num tempo maravilhoso. Eu tinha a sensação de que não tinha decorado, mas tinha.”

A cena foi feita mais de uma vez, de diferentes ângulos, e a emoção foi a mesma a cada gravação. “Até o suor e as lágrimas vinham do mesmo jeito, porque aquilo disparou uma emoção real, como se eu estivesse falando de várias mulheres que perderam o marido na prisão injustamente.”

“Foi uma experiência que ficou guardada no meu corpo e no meu afeto, talvez a mais forte que guardo de Renascer.”

Tereza Seiblitz

“Bateu aquele ciúme”, diz atriz sobre o remake da novela

Sobre a notícia de que Renascer ganhará um remake em 2024, Tereza Seiblitz confessa: “Primeiro, bateu aquele ciúme da personagem. A Joaninha, especialmente, foi criação de toda uma equipe. Só que, depois desse sentimento, passei a achar maravilhoso que outros atores possam fazer aqueles personagens.”

“Acho maravilhoso que essa história seja contada e reverberada, com o olhar do nosso mundo de hoje para essa dramaturgia.”

Tereza Seiblitz

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Alice Carvalho em Cangaço Novo
Alice Carvalho na série Cangaço Novo - Foto: Divulgação/Prime Video

A atriz Alice Carvalho (foto acima) será Joaninha na nova versão. “Não a conheço ainda. Uma série que separei para ver foi Cangaço Novo”, diz Tereza, que fez uma rápida pesquisa sobre a “sucessora”. “Achei linda, e já tinha pensado que, para essa nova escalação, seria bom que Joaninha fosse alguém com uma ascendência preta mais forte do que a minha.”

“Desejo a ela muitas criações novas e que ela leve bem essa personagem tão linda e tão especial.”

Tereza Seiblitz

Tereza Seiblitz quer viajar com a peça Carangueja

Tereza Seiblitz revela bastidores de Renascer: \"Chorei tanto que não conseguia decorar\"
Atriz em cena no espetáculo Carangueja - Foto: Divulgação/Renato Mangoli

Recentemente, Tereza Seiblitz ficou um mês em cartaz no Rio de Janeiro com a peça Carangueja, de sua autoria. “Escrevi a partir da minha primeira sensação quando conheci o manguezal, na primeira gravação da novela. Foi muito forte, era como se eu estivesse no útero da Terra.”

“Era de manhã cedo, tinha uma luzinha filtrada naquelas folhas no manguezal. Enquanto a equipe técnica se preparava, eu estava treinando como tirar o caranguejo da toca, fui andando para conhecer o lugar, e eles me perderam. Começaram a me chamar ‘Tetê, tetê’. Não me viam porque, além de estar longe, eu já estava totalmente marrom.”

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A peça foi escrita em 2015, na conclusão da graduação em Letras. “É uma peça não realista, que escrevi quando estava lendo muito Beckett e Guimarães Rosa. Há uma referência à novela em um momento, porque a personagem principal está sendo invadida por vozes. Uma das vozes, escrevi como se fosse a Joana, falando do trabalho com o marido no manguezal.”

“Quero muito viajar com essa peça e sensibilizar as pessoas para a riqueza e a importância do manguezal. A partir da perspectiva da carangueja, o texto também fala como o ser humano não olha para outras espécies. É tudo para servir o próprio ser humano.”

Tereza Seiblitz

“Uma coisa que me pega muito é a importância do manguezal. Quando fiz a novela, as pessoas me questionavam sobre trabalhar naquela lama. As pessoas na cidade olham o manguezal como lama, uma coisa suja. E aquilo é uma riqueza, pelas espécies que estão ali, e que seguram vários outros biomas. É algo fundamental que está sendo destruído pela poluição e o crescimento urbano.”

“Aviso que estarei sempre voltando”

Tereza Seiblitz
Tereza Seiblitz estará em Justiça 2, no Globoplay - Foto: Divulgação/Aramis Neves Pereira Junior

Além dos planos de seguir com a peça em cartaz pelo Brasil e no exterior, Tereza Seiblitz poderá ser vista de volta ao vídeo na segunda temporada de Justiça, que será lançada pelo Globoplay no ano que vem. Seu último trabalho no audiovisual foi Milagres de Jesus (2015), na Record. Desde então, ela se dedicou à graduação em Letras e a projetos nas artes cênicas.

O convite partiu dos produtores de elenco, que solicitaram o teste da atriz por self tape. Sua presença no vídeo pode ser mais frequente a partir de agora. “Gosto muito de audiovisual. Vi muita gente nova agora no Festival do Rio. Gosto desse cinema independente e tenho muita vontade de fazer. Acho muito bonito essa descentralização, com o cinema do Recife (PE), de Contagem (MG).”

“Não sinto que eu tenha saído do audiovisual, mas entendo que o público tenha essa sensação. Então aviso que estarei sempre voltando (risos).”

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