Lauro César Muniz lamenta falta de espaço: “A Globo não considera meu passado”
Novelista falou sobre seus projetos e analisou o momento atual da dramaturgia
Publicado em 12/06/2020 às 05:27
O autor Lauro César Muniz é um dos poucos veteranos que não teve nenhuma obra na lista de novelas inseridas no Globoplay. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, ele lamentou que suas obras não estejam no serviço de streaming: “Não entendo porque a Globo não considera meu passado, não reexibe meus trabalhos”.
Questionado se estaria impedindo que a emissora reprisasse suas produções, Lauro garante que nem tem poder para isso, mas ressalta que fez grandes trabalhos na empresa.
“Da minha parte não houve nenhuma restrição e eu nem teria o direito de impedir a TV Globo de exibir meus trabalhos. Trabalhei 32 anos na Rede Globo e deixei lá grandes títulos: O Salvador da Pátria, Escalada, O Casarão, Roda de Fogo, Espelho Mágico, todas no horário das oito, principal da emissora. Fiz também séries como Chiquinha Gonzaga e Aquarela do Brasil e teleteatros como O Crime do Zé Bigorna... Tantos sucessos!”, relata
Sobre um possível boicote no canal, o autor demonstra dúvida e não se enxerga tão importante para que diretores da Globo proíbam que suas tramas passem na televisão ou façam parte do Globoplay.
“Quem poderia estar boicotando meu nome da TV Globo?Não sei. Quem é prejudicado nisso, além do grande público? Os grandes atores com quem trabalhei: Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira, Francisco Cuoco, Eva Wilma, Maitê Proença, Suzana Vieira, Paulo Goulart... Por que? Nunca pensei que eu fosse tão importante assim para os atuais diretores da emissora, a ponto de me impor “castigos”, à distância”.
Lauro César Muniz e a Globo
Ainda sobre a Globo, Lauro concorda que a Globo não tem sido respeitosa com a maneira que vem dispensando autores consagrados da televisão, como Vera Fisher, Miguel Falabella, entre outros. “Uma coisa não entendo: quem, na Globo, estaria dispensando nomes tão importantes?”, indaga.
Em relação aos autores, como Walter Negrão, Aguinaldo Silva e Benedito Ruy Barbosa – ex-medalhões da Globo – Muniz faz uma análise sobre as saídas deles e a renovação praticada pela emissora.
“Você citou muitos autores ótimos e experientes. Todos nós nos empenhamos no passado para manter o Padrão Globo de Qualidade. Eu admiro muito o trabalho do Boni, do Daniel Filho, aqueles que realmente criaram o festejado padrão. Talvez os atuais comandantes da emissora queiram novos nomes, gente nova, aqueles que absorveram o estilo e qualidade do Dias Gomes, Benedito, da Janete Clair, do Jorge Andrade, do Negrão, Aguinaldo”, comenta.
Saída da Globo e o mercado
Lauro foi um dos responsáveis pela consolidação das novelas ao lado de Janete Clair, Dias Gomes, Bráulio Pedroso e Ivani Ribeiro. Sua saída da Globo para Record surpreendeu a mídia na época e o novelista relatou que a transferência se deu por atritos. “Tive que deixar a TV Globo por total incompatibilidade com Mário Lúcio Vaz e fui para a TV Record. Mário Lúcio foi afastado logo depois que saí”, explica.
Na Record, ele criou obras como Cidadão Brasileiro (2006), Poder Paralelo (2009) e Máscaras (2012). Sem contrato fixo há oito anos, o autor não enxerga possibilidade da Globo ter uma concorrência no Brasil.
“Infelizmente a TV Globo não tem um concorrente à sua altura e nunca terá. Reina absolutamente em paz. O mercado não vai se alterar. Sempre há um novo fato no ar, mas as coisas não acontecem: agora fala-se que a Netflix e outras empresas estrangeiras seriam o novo e grande concorrente”, comenta.
Relação com Silvio de Abreu
Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia da Globo, afirmou que gostaria de ter Lauro no casting da emissora. Pelo menos foi o que declarou o autor. “O Sílvio de Abreu me chamou uma vez com uma frase bem nítida: “quero você aqui! (na Globo, de volta)”. Quando deixei a Record eu o procurei, mas a promessa não se realizou”, revela.
Sem oportunidade na gestão de Silvio, Muniz elogia o colega pelos seus trabalhos como autor, mas lamenta que ele esteja preso na função de executivo ao invés de criar novas histórias.
“Sílvio de Abreu foi um ótimo autor! Dupla perfeita com o Carlos Lombardi! Como cabeça de dramaturgia tem conseguido bons resultados, mas tenho certeza de que ele sente saudades do tempo que bolava e escrevia suas novelas. Um artista condenado à burocracia administrativa”, completa.
Luta por novelas curtas
Quem conhece a trajetória de Lauro César Muniz na dramaturgia, sabe que ele é um dos defensores das novelas curtas bem antes da explosão de séries ao redor do mundo. Em 2000, o autor garantia que era possível ter lucro com poucos capítulos e mantinha a qualidade das produções. “Minha luta na Globo, a vida toda, foi para diminuir o número de capítulos das novelas”, explica.
“O Boni uma vez começou uma reunião com autores e diretores, dizendo: ‘Lauro, por favor, o assunto hoje não é o encurtamento das novelas.’ Se isso agora acontecer será uma festa para os autores, diretores e elenco. 200 capítulos, Boni?!”, comenta bom humor.
Projetos
Lauro admite que não gosta de ficar no lugar comum, mas garante que abandonou as novelas. Contudo, caso estivesse iniciando sua carreira, ele faria um remake. “Ninguém Crê em Mim, da TV Excelsior”, afirma.
Cheio de projetos, ele ressaltou que tem mais de 30 trabalhos entre novelas e séries e que ideias nunca lhe faltam. “Fui sondado há poucos dias e devo enviar títulos e sinopses para filmes e series. De três novelas consegui extrair novidades com sabor inédito”, confessa.
Por fim, contou que ainda é sondado para retornar para televisão e acredita que voltará ao ar. “Ainda sou procurado para projetos de séries e filmes, de outras emissoras. Devo fazer algum trabalho. Mas ainda não encontrei condições especiais como eu tinha na Globo. Quero ainda escrever uma peça teatral como despedida da arte e da vida”, conclui.