Pedro Carvalho fala sobre relação com trans na vida real: "A gente se apaixona por pessoas"
Em entrevista exclusiva, ator português revela que vai fazer fono para perder sotaque e elogia Walcyr Carrasco
Publicado em 02/07/2019 às 06:05
Prestes a completar 34 anos (a nova virá em 15 de julho), o português Pedro Carvalho está em sua terceira novela no Brasil. Esteve em "Escrava Mãe" (2016) na Record, no ano passado fez "O Outro Lado do Paraíso" e agora é o Abel em "A Dona do Pedaço", padeiro de Maria da Paz (Juliana Paes) que se apaixona por Britney (Glamour Garcia) mas não percebe que ela é transexual.
"Isso será um amor... Eles estão desenvolvendo um amor que terá vários obstáculos. É muito importante falar disso, ainda que em comédia. Porque é importante as pessoas perceberem que Abel representa um pouquinho das pessoas que não têm tanta cultura. A gente se apaixona por pessoas. O amor é o que conta, não o ódio. Estamos falando de amor", diz ele em entrevista exclusiva ao NaTelinha.
Animado com o papel e as boas oportunidades, Pedro espera que venham muitos outros trabalhos no Brasil. "Meu desejo é firmar minha carreira aqui como em Portugal", conta ele, dizendo também que está fazendo fono para perder o sotaque e mergulhar em personagens brasileiros.
Das três novelas que fez, duas são de autoria de Walcyr Carrasco, a quem rasga elogios: "As novelas do Walcyr são ótimas. É um autor que admiro bastante", e o classifica como "gênio".
Se na ficção seu personagem Abel tem grande proximidade com a culinária, na vida real não é muito diferente. "Nem todo mundo sabe, mas já lancei um livro de receitas em Portugal, em 2016. Um livro chamado 'Sopa para a Síria'", surpreende ele.
Ainda este mês, o ator estará em duas emissoras simultaneamente. Além de "A Dona do Pedaço", aparecerá na novela "Ouro Verde", folhetim português que a Band vai estrear dia 15 de julho. "As pessoas vão gostar, se agarrar muito a essa novela", promete.
Confira a entrevista com Pedro Carvalho na íntegra:
NaTelinha - Essa já é sua terceira novela brasileira. E pela segunda com Walcyr Carrasco. Como classifica essa oportunidade?
Pedro Carvalho - Realmente é minha terceira novela aqui no Brasil, espero que de muitas ainda, né? Meu desejo é firmar minha carreira como em Portugal já firmei, pois também estou fazendo fono, para conseguir fazer o sotaque daqui. Embora os meus personagens, esse é o terceiro, é português de Portugal. Espero ter a oportunidade de fazer um personagem falando português do Brasil. Espero que para breve é possível.
Trabalhar com o Walcyr pela segunda vez é muito bom. É um autor que admiro bastante. As novelas dele fazem muito sucesso em Portugal. Gostei da trajetória do meu personagem "O Outro Lado do Paraíso". A dramática que meu personagem teve, ficando cego, permitiu que explorasse outra vertente que me deu muito gozo fazer. Muita satisfação mesmo.
Atualmente meu personagem é cômico, outra vertente. As novelas do Walcyr são ótimas. Me sinto um sortudo na verdade, porque esse personagem é muito bom mesmo. E me permite explorar outra coisa que é comédia. Sou muito grato por isso. O Walcyr é um gênio. Quem não gostaria de fazer novelas dele?
Está sendo uma parceria muito legal. Ele gostou do meu trabalho e agora a gente repete. Com outro desenho de personagem.
NaTelinha - O que acrescentou na sua evolução como ator trabalhar em produções brasileiras?
Pedro Carvalho - Acrescentou em muita coisa. Em Portugal tenho uma carreira bem longe, comecei com 16, 17 anos. Fiz 13 novelas lá, muitos mocinhos, muito teatro, muito cinema. Já vim com uma bagagem. Me ajudou bastante. Meu primeiro personagem foi um protagonista em "Escrava Mãe".
Essa ida para a Globo foi num momento certo, crescente. Em 2015 comecei minha internacionalização da minha carreira, que queria fazer. Espero que continue sempre evoluindo. Estou me aplicando pra isso.
Não só o fato de mudar do país, mas trabalhar com outras pessoas, em outra estrutura como é a Globo. Foi benéfico pra mim. Fez que eu crescesse mais como profissional e ser humano. Me considero mais maduro e melhor ator. Arrisco a dizer isso mesmo.
Isso fez com que eu crescesse emocionalmente e automaticamente como profissional, ator.
NaTelinha - Como seu personagem, qual é sua relação com a culinária?
Pedro Carvalho - Eu adoro culinária. Nem todo mundo sabe, mas já lancei um livro de receitas em Portugal, em 2016. Um livro chamado "Sopa para a Síria". Aproveitei o fato de ter um nome no mercado e convidei jurados do "MasterChef" e juntamente com a Bárbara Assad, que é chef de cozinha e fotógrafa de guerra, a gente se juntou e elaborou um livro, que na verdade é uma adaptação, que foi feita para Portugal.
Cada chef de cozinha elaborou a receita gourmet de uma sopa. E no livro tem essas fotos, essas sopas, mostrando a cultura da Síria. 80% do verba das vendas do livro se reverteram para os refugiados.
Sempre gostei muito de cozinhar, sempre fui interessado nisso. Não sou muito de comer. Sou mais de comer doces. Mas gosto mais de cozinhar comida e doce eu não sei fazer. Tô aprendendo com meu personagem. Cozinhar é terapêutico. Resolver vários assuntos... gosto bastante.
NaTelinha - Abel, aliás, ainda não sabe que Britney é trans. Como acredita que será sua reação? Como você analisa essa relação?
Pedro Carvalho - O Abel ainda não sabe. Como vocês viram, ele é um personagem bem cômico. Bem português, do interior de Portugal.
Isso será um amor... Eles estão desenvolvendo um amor que terá vários obstáculos. É muito importante falar disso, ainda que em comédia. Porque é importante as pessoas perceberem que Abel representa um pouquinho das pessoas que não têm tanta cultura. A gente se apaixona por pessoas. O amor é o que conta, não o ódio. Estamos falando de amor.
Claro que vão ter obstáculos, mas espero que ele reaja bem. Estamos na fase do encantamento. Cenas engraçadas, porque os personagens são cômicos.
A história é leve, bonita, engraçada, mas de fato, em comédia estamos falando de coisas sérias. É inteligente do Walcyr porque o público aceita melhor. Faz o público pensar nas coisas. E muito bonito. Fico feliz em fazer parte dessa história, de contar essa história.
NaTelinha - Na vida real, isso poderia acontecer com você?
Pedro Carvalho - Por que não? Pessoas se apaixonam por pessoas. Acredito no amor e não no ódio. Toda forma de amor é válida. Cada um tem suas opções sexuais, mas o preconceito não tem sentido nenhum.
O preconceito é falta de cultura, falta de informação, de educação até. O objetivo é caminhar para uma sociedade livre, onde cada um pode amar quem quiser.
Se as pessoas se preocupassem mais em amor e não odiar, o mundo estaria melhor.
NaTelinha - Em "O Outro Lado do Paraíso", seu personagem se apaixonou por uma anã, e agora por uma trans. Como é mergulhar nesse universo de pluralidade na dramaturgia?
Pedro Carvalho - Verdade, verdade. Eu nem penso tanto assim, sabe? Sou muito... Pra mim todos são iguais, seja anão, hétero, gay ou o que for. O que posso falar é que fico feliz em ser escalado para contar histórias que precisam ser faladas.
Nosso papel como ator é também passar mensagens. Tudo que for pra melhorar, a sociedade onde vivemos, é válido. Então, fico feliz mais uma vez por fazer um personagem forte, com uma forte carga dramática, embora o tom seja de comédia. É preciso ser falado como foi a história de "O Outro Lado do Paraíso".
Como falei, pessoas se apaixonam por pessoas, independentemente do que for.
NaTelinha - Falando em novelas, nas próximas semanas estreia "Ouro Verde", na Band, da qual você integrou o elenco. Como foi participar da novela? Fale um pouco mais sobre seu personagem e a história.
Pedro Carvalho - É verdade, uma coisa inédita. Em Portugal é uma coisa frequente. Às vezes faço uma novela às 9 da noite e lá na hora do almoço tá passando uma reprise que gravei em 2008, 2009. Acontece.
Agora, aqui é uma coisa inédita, estar em duas emissoras ao mesmo tempo. "Ouro Verde" foi uma novela que fiz antes de gravar "O Outro Lado do Paraíso", porque depois voltei em Portugal para gravar "Terra Nova", uma série que vai estrear agora lá onde fui um dos protagonistas.
"Ouro Verde" é uma novela que fala de... baseada numa história real que aconteceu em Portugal, de um banqueiro que roubou vários contribuintes, várias pessoas que depositavam dinheiro na conta do banco. E ele foi preso. É a decadência dessa família. Uma família poderosa, meu pai é o vilão da história, minha mãe é a Silvia Pfeifer.
Meu personagem é um cara sem escrúpulos, mauricinho, playboy, tem as mulheres que quer. Racista, preconceituoso, ele é diretor de marketing do banco do pai e durante a história ele vai cair bastante. Vai levar muita porrada da vida. E toda a família vai desestruturar. A única relação boa dele é a irmã. É um cara muito esnobe.
Gostei muito de gravar, o diretor geral é o De Souza, é o segundo Emmy dele. Teve três nomeações. Foi muito bom porque tem esse link com o Brasil, vários atores brasileiros, a Zezé Motta que adoro. Tinha acabado de gravar "Escrava Mãe" com ela e Zezé foi a Portugal. Foi muito engraçado.
Foi uma troca incrível. Já me sinto metade brasileiro e metade português. Foi uma história bem contada pela autora, pela Maria João. E meu personagem é muito forte. As pessoas vão gostar, se agarrar muito a essa novela.
NaTelinha - Acredita que fará sucesso no Brasil?
Pedro Carvalho - Acredito sim. Estou trabalhando pra isso. Espero que seja a terceira de muitas novelas. Pretendo firmar minha carreira aqui, como falei, estou fazendo fono... Pra não ficar só em personagens portugueses, que adoro, mas para ter opção.
Além da novela, existe outros projetos em andamento na dramaturgia?
Estou muito focado na novela. Estou gravando bastante, o público gosta muito do Abel e da Britney. Temos mais incidência na história. Estou focado nisso. Depois, logo se vê.