Greta Antoine fala sobre carreira e virada em "Cristal": "Tinha desistido de ser atriz"
Atriz relembra papéis marcantes no SBT e TV Cultura, além de abordar outros assuntos
Publicado em 01/05/2017 às 09:00
Greta Antoine é dona de um longo currículo na televisão, cinema e teatro. Reconhecida até hoje por adultos que cresceram no começo dos anos 2000 por papéis como Inês de "Chiquititas" e a Rouxinol de "Ilha Rá-Tim-Bum", da TV Cultura, ela lembra com muito carinho da época em que estudava e trabalhava na Argentina, mas fazendo sucesso no Brasil pelo SBT. "Eram 24 horas juntos, uma família mesmo, e quando tudo acabou, foi triste", recordou-se.
Pouco tempo depois, Greta engatava outro papel infantil que marcaria toda uma geração, a Rouxinol da "Ilha". "Sou fã da Cultura desde pequena. Ter feito parte de um 'Rá-Tim-Bum' é sensacional", disse, e sempre exaltando: "são produtos de extrema qualidade".
Em 2006, ela conta que já havia desistido de ser atriz e estudava para se formar em Jornalismo, quando o telefone tocou e surgiu o convite para fazer a Bete Coelho mais nova em "Cristal". "Tinha desistido de ser atriz", lembra Greta.
A atriz fala ainda sobre "Nada Será Como Antes", série que fez parte da Globo no ano passado, dentre outros assuntos. Em breve, a emissora lança "Filhos da Pátria", onde Greta também atuou.
Confira a entrevista na íntegra:
NaTelinha - Você começou em "Chiquititas", e acredito que ainda seja reconhecida muito pela novela no SBT, no ano 2000. Como foi essa primeira experiência? Como você foi escolhida pra viver a Inês? E a experiência de morar na Argentina?
Greta - Sim, desde o começo até o final foi gravada na Argentina. Fiz a penúltima e última temporada, então já sabíamos que a novela era um sucesso. Mesmo assim, quandi vínhamos para o Brasil gravar os programas do SBT, era surreal, lá na Argentina a gente era desconhecido, e aqui tínhamos o choque de sermos conhecidos sem saber. Lá tínhamos uma vida de criança normal. Aqui, era uma outra realidade completamente diferente daquilo que a gente tinha vivido.
Foi meu primeiro trabalho na TV, mas já tava trabalhando com teatro amador, eu comecei muito criança. E comecei a fazer teatro porque era muito tímida. Mas sem nenhua ambição. Minha mãe nem imaginava que eu ia gostar disso e epgar disso como profissão. Antes de "Chiquititas" fiz muita publicidade, fazia desfile, foto, tudo isso que as crianças fazem quando começam. Não tinha feito nenhum outro teste antes. Foi um daqueles testes bizarros mesmo, de milhares de crianças no SBT. E tudo aquilo era verdade mesmo. Tinha milhares de crianças e foram vários testes. De dança, de entrosamento com o resto do elenco, fui passando e passei. Fiquei lá na Argentina um ano e pouquinho.
Não tenho televisão em casa
Greta Antoine, que vê séries em plataformas de streaming
No começo foi muito difícil a adaptacao, estudavámos numa escola Argentina. A equipe toda só falava espanhol. Então, foi um choque. Mas, quando você é criança esse tipo de coisaa é mais faci. Em menos deu m mês estava me virando bem. Depois desse período de adaptação foi só alegria. Aprendi muito. Vivi em outro país e tomei gosto pela carreira. Porque lá querendo ou não, a gente tinha uma carga horária puxada, mas a gente se divertia muito também. Era uma mescla de trabalho e diversão, a gente não sentia tanto, porque a gente realmente se divertia muito mesmo. Todo mundo gostava muito de fazer.
Eram 24 horas juntos, uma família mesmo, e quando tudo acabou, foi triste. Foi um choque voltar ao Brasil e voltar para a vida cotidiana normal. Demorou mais pra eu me adaptar na Argentina. Quando a gente volta, voltei para a mesma escola de antes, mas eu não era mais a mesma. Eu não era mais a Greta da escola, eu era uma "chiquitita". Foi uma adaptação pra eles também. Pra eles se acostumarem. Demorou um t empinho. Mas, tudo é um tempinho.
NaTelinha - Depois, você fez um papel que também ficou marcado na infância e adolescência de muita gente, a Rouxinol da "Ilha Rá-Tim-Bum", que era para ter menos capítulos do que deveria ter. Vocês esperavam esse sucesso?
Greta - Pra mim marcou mais a Rouxinol que "Chiquititas". As pessoas lembram bastante. Foi lindo. Um dos trabalhos mais lindos da minha vida, aquela emissora é uma família pra mim. Passamos muito tempo juntos, mas creio que por estar mais velha... O diretor que dirigiu "Ilha Rá-Tim-Bum" é um dos meus melhores amigos até hoje. A gente tem um vínculo muito forte.
Converso ainda com as pessoas. E a gente ficou mais de um ano fazendo, quase dois. A gente tinha muita viagem, muita coisa na praia mesmo. Foi incrível. Uma delícia fazer. E outra porque sou fã da Cultura desde pequena, assistindo "Castelo Rá-Tim-Bum", Rá-Tim-Bum. Ter feito parte de um Rá-Tim-Bum é sensacional. Tenho muito orgulho de ter feito parte da TV Cultura.
A TV Cultura tem tipo uma ponte que passa de um estúdio pro outro, do jornalismo pra dramaturgia, e nesse vidro você vê de baixo aqueles que fizeram parte da dramaturgia da TV Cultura. Isso é muito importante, muito gostoso, muito legal. Sem falar da qualidade que teve essa série. São os responsáveis pela cultura infantil na verdade. É muito difícil viabilizar os projetos na TV Cultura. Deveria ser mais fácil, porque são produtos de extrema qualidade, formam as crianças hoje em dia.
NaTelinha - Hoje, as emissoras deixaram o público infantil um pouco de lado. E você fez parte de dois produtos que são reconhecidos até hoje. Como você vê isso?
Greta - Acho que o público infantil migrou para a TV fechada, né? Ela investiu muito. Existem vários canais voltados para o infantil e acho que desde a minha época, já havia esse investimento. Essa grande qualidade. E acho que as famílias migraram para a TV fechada. A grande massa ainda não tem acesso a TV fechada, acesso a algo destinado a eles. Acho isso muito triste. As crianças devem migrar para o video game, para a internet. Pulam de uma fase, que é lúdica, que é diferente, não sei se é melhor ou pior... Não consigo acompanhar essa transição. É muito louco.
NaTelinha - Em 2006, você saiu do infantil e foi uma das protagonistas de "Cristal", no SBT. Como foi essa transição do infantil pro adulto?
Greta - Cara, foi muito bizarro porque eu tinha desistido de ser atriz. Tava fazendo faculdade de Jornalismo e tava super feliz. Um belo dia me ligaram na minha casa: "Tem como vir no SBT?". Não tinha carro na época, falei, "o SBT na Anhanguera"... "O Herval Rossano quer te ver".
Eu tinha pintado o cabelo de loiro, era pra fazer a Bete Coelho mais nova. Era só pra fazer ela mais nova mesmo. E depois decidiram que ia voltar como filha dela. Colocaram doce na boca da criança e depois dessa nunca mais desisti de nada. Não é todo dia que te ligam na tua casa, que você não quer mais fazer, pra fazer um puta trabalho legal que eu jamais tava esperando... Foi super gostoso.
Depois dessa fiz "Maria Esperança", fiquei um tempinho no SBT. Depois fiz "Uma Rosa com Amor".
NaTelinha - No ano passado, você fez "Nada Será Como Antes", na Globo. Como foi viver um papel ambientado na época da criação da TV no Brasil? O que você aprendeu com essa experiência?
Greta - Nossa! Aprendi várias coisas. Nunca tinha feito nada na Globo. De cara, fiquei encantada com toda a estrutura que eles têm. É óbvio que a gente sabe do que se trata a Rede Globo, mas quando você entra lá...
Tive muita sorte, fiz duas séries, não fiz novelas. E acredito, como as pessoas falam, que séries são mais cuidadosas. Novela é como uma indústria, tem que fabricar muito por dia. A série te possibilita meio que um cinema, tudo com mais cuidado. Foi uma surpresa pra mim. Foi uma dessas, me ligaram, na minha casa, pensei que fosse um papel pequeno. Uma participação mesmo. E quando vieram os roteiros falei: "caraca! é um puta personagem bacana! Que legal, né??".
Depois fui lendo do que se tratava a série. Falar sobre o surgimento da TV, não tem nada mais mágico que isso. De como era difícil as coisas, no bom sentido da palavra, de como era amador, amador de amor mesmo. De como eram feito as coisas. Fiquei muito feliz com o resultado do trabalho no todo. Assisti a série inteira. Não tenho TV em casa. Faz uns três anos que não tenho. Vi pelo Globo Play.
NaTelinha - Nossa, por quê?
Greta - Porque eu não assisto... Não assisto televisão. Bizarro, né? Sério, parei de assistir TV aberta e prefiro assistir coisa na internet. Séries, essas coisas. Pra mim não vale a pena fechar um canal... Vou ter uma TV aqui que eu não uso. Mas tenho a Globo Play, e pelo menos os produtos da Globo eu consigo assistir.
Eu gostava muito de novela, mas com essa febre que veio de série, a gente vai se acostumando com outro tipo de linguagem. E hoje é difícil parar pra uma novela que tenha oito, nove meses de duração. Às vezes tinha interesse, mas não tinha tempo nem paciência de assistir aquilo. Por isso a Globo Play e a Netflix têm futuro.
As pessoas às vezes não têm disponibilidade, tempo para assistir aquele conteúdo naquela hora. Por isso assino a Globo Play, porque assisto a hora que eu posso. E "Nada Será Como Antes" assisti muito amarradona. Foi incrível o resultado. Massa demais. Tanto a dramaturgia e o roteiro, como feito a fotografia. Achei primoroso.
Não que eu não goste de novela, a última novela que assisti foi "Avenida Brasil", que assisti de ponta a ponta. Uma das coisas mais incríveis que foram feitas. Essa novela me fazia parar tudo que eu tava fazendo e assistir. Era surreal o que o cara fez. Ele mudou o jeito de se fazer novela, tanto que o Brasil parou no último capítulo pra ver. Depois não assisti mais nenhuma de ponta a ponta.
NaTelinha - Você tem algum personagem favorito ou que te marcou mais na carreira? Qual e por quê?
Greta - Tem personagens que vocês ainda não conhecem, porque nosso cinema é aquela engrenagem a manivela ainda. Tem filme muito bacana. Em 2015, chama "Introdução a Música do Sangue", com Ney Latorraca, Bete Mendes, estivemos em festivais em Gramado, no Rio, e tá esperando uma burocracia pra entrar em circuito. E a personagem que fiz lá, Isabel, foi muito bacana, ficamos um mês internados em Minas Gerais, no meio do mato, gravando no meio da fazenda. Foi incrível, tanto a experiência como o personagem.
Tem outro que é super importante, que ainda não finalizei, comecei a fazer em 2014, e não finalizamos, chama "Supernova", é uma menina da pá virada, a Eugênia, ela é inteira tatuada, com aquelas tatuagens de chiclete que ficam perfeitas. É uma personagem que eu amo e não finalizamos ele.
Sem falar do teatro, que tenho grandes amores que eu fiz, peças que ganhei prêmio... Tem muita coisa, é tão difícil falar... Óbvio que TV te dá uma visibilidade maior... Queria muito que as pessoas conhecessem essas histórias, personagens. Mas é muito difícil viabilizar. O teatro é incrível porque ele não abrange tanto as pessoas, mas o que ele tem, é que quem vai assistir, se toca pela história, se toca pra sempre. Ela vai levar essa história para a vida inteira. São poucas pessoas, mas quem é atingido, é atingido de forma visceral. Essa é a mágica do teatro.
NaTelinha - Você fez vários papéis no teatro e no cinema. Alguns atores têm predileção por algum segmento. Esse é o seu caso? Tem preferência por algum?
Eu tenho fases. Agora minha fase de preferência é o cinema. Amo o teatro, adoro fazer TV. Acho TV uma escola importantíssima. É muito difícil fazer TV. Pra mim é a linguagem mais difícil que tem. Mais difícil que teatro, mais difícil que cinema. Ainda tenho dificuldade de entender. Hoje o que me pega mais, o que me dá mais tesão é cinema. Tem mexido muito comigo. Hoje. O que mais me toca.
NaTelinha - No seu Instagram, dá pra ver que você tem sua posição política bastante contundente. Como você vê a situação que o país atravessa? Ano que vem temos eleições, você acha que é a hora do povo limpar quem merece ser limpado? Acredita na soberania popular?
Greta - Querer acreditar eu acredito, mas acho muito difícil. Eu quero acreditar. É um querer acreditar a todo momento. Fez um ano que foi a votação que deu abertura ao processo de impeachment. Eu estava no olho do furacão, em Brasília, e jurava que aquilo não ia acontecer. Lembro que cheguei da peça, comecei a assistir, não tinha acabado. E no outro dia tinha acontecido. Lembro que encontrei o Ivan Valente, ele estava hospedado no mesmo hotel que ele. E falei, comecei a chorar, porque não acreditei que aquilo fosse acontecer. Achei que ia ser revertido.
Vamos com essa esperança. É golpe em cima do golpe. Caraca, não tem pra onde... Cada vez mais, vou falar de mim: vivo numa bolha. Todos os meus amigos tem o mesmo pensamento que eu. Mas ainda falta muita consciência política. Porque falta educação, cultura para essas pessoas. Boto a culpa no sistema mesmo. Então, o meu querer é que mude, a minha esperança, mas é muito difícil ter essa utopia. Não é nem utopia, essa esperança. A cada dia a gente acorda com um desastre, um terromoto, espero que haja consciência.
Tenho muito medo das votações de 2018, porque é bizarro ver alguns posicionamentos na rua. Existem camisetas de um cara que é um criminoso, homofóbico, sexista, machista, não dá, e as pessoas apoiando a candidatura dele. Eu tenho muito medo. A esperança é que as coisas melhorem. Chegamos no fundo do poço, mas não... Dá muito medo do que pode acontecer ano que vem.
Não é só aqui no Brasil, estamos vivendo uma onda no mundo inteiro. E pelo menos tento praticar o amor e o afeto no meu pequeno círculo. Tá tudo muito bizarro. Meu pequeno esforço é praticar o afeto e a tolerância. Tento não recriminar, não colocar o dedo na cara... Tolerar. Tolerar. É difícil, mas é só o que eu posso fazer.