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Em 2004, crianças ameaçaram ir às ruas por causa do fim da Fox Kids

"Eu Paguei Pra Ver" relembra histórias e curiosidades da TV paga brasileira


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Divulgação

Em 2001, uma grande notícia abalou o mundo do entretenimento infantil: a Disney anunciou a compra da chamada Rede Fox Family, uma associação da Fox com a Saban Entertainement - que hoje tem o nome de Saban Brands e é conhecida pela produção da série "Power Rangers".

Na época, o negócio foi avaliado em 3,5 bilhões de dólares - cerca de 5 bilhões de reais na ocasião - e dava controle total da Disney para a distribuição do canal Fox Kids e dos desenhos que faziam parte de seu casting.

Ao comprar a Fox Kids, a Disney começou a fazer estudos para a mudança de nome da nova emissora - o perfil de canal infantil para meninos de 4 a 11 anos seria mantido, mas com a inclusão de animações para família também. Desse estudo, nasceu o Jetix, que foi implementado em 2002 nos Estados Unidos, Europa e grande parte da América Latina, lugares onde a Fox Kids já vinha tendo uma pequena queda de prestígio.

Só que no Brasil, o buraco foi mais embaixo, digamos assim. De todos os países onde a Fox Kids atuava, o Brasil era, de longe, a de maior audiência e popularidade. A Fox Kids era o canal infantil mais popular da época em 2002, rivalizava com Nickelodeon e Cartoon Network pelo primeiro lugar geral na TV paga - vencendo os dois na maioria. Com a grande aceitação, a Disney traçou um planejamento: o canal seria retirado no segundo semestre de 2004 e estrearia novidades aos poucos durante o tempo.

Entre 2002 e 2004, a Fox Kids estreou desenhos com menos ação, como "Os Padrinhos Mágicos", "Sorriso Metálico", "Três Espiãs Demais", dentre outros. Revelando um lado mais família, a audiência do canal disparou de vez no Brasil. Porém, o seu fim já estava fadado. Em agosto de 2004, não deu outra: a Fox Kids teria de virar Jetix, e uma grande campanha de divulgação foi feita em revistas, jornais, internet e até mesmo em canais de TV aberta.

O que vem a seguir nunca foi publicado na imprensa, e foi dito à reportagem do NaTelinha por um membro da direção dos canais Disney na época, mas pede sigilo, já que não seria autorizado pelo atual empregador para falar do assunto.

Segundo o executivo, um grupo de pais e crianças ficou revoltado ao saber que o canal se encerraria. E não foi pouca gente. "Recebemos mais de 2 mil cartas e cerca de 250 e-mais de pais e até crianças furiosas com o fim do canal. Os pais argumentavam que a paz na sua casa iria acabar, já que as crianças só ficaram bem comportadas quando assistiam à Fox Kids. Já as crianças eram mais bobinhas, falaram que os 'Power Rangers iriam me destruir', ou que os monstros de 'Goosebumps (série de terror infantil exibida pelo canal em toda sua trajetória) iriam me pegar durante a noite'. Era engraçado ler aquilo", diz.

Porém, um e-mail em especial chamou a atenção dele na época. Era de uma criança de São Paulo, que afirmava ter 11 anos. Nele, o menino dizia que havia organizado, com colegas de escola, um protesto na sede da Disney no Brasil, localizada na capital paulista.

"Me impressionei com o garoto, parecia ser um gênio, escreveu tudo muito bem, falava que nem adulto. Disse que iria com os amigos dele fazer, de qualquer jeito, o canal voltar pro ar, protestando dia e noite na frente do prédio da Disney aqui no Brasil. Ele adorava tudo e estava bem revoltado, mas escreveu em tom de muito respeito", completa o diretor. Por sorte, segundo ele, tal protesto nunca chegou a ocorrer. "Eram crianças, garotos. Mas imagina se acontece e fosse violento?", ri o executivo.

O Jetix durou até julho de 2009, quando foi substituído pelo Disney XD, que se mantém no ar até hoje. A audiência não é mais a dos tempos da Fox Kids. Atualmente, o Disney XD perde para Cartoon Network, Discovery Kids, Disney Channel, Nickelodeon, Gloob e Boomerang no Ibope da TV paga.

Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Na coluna "Antenado", fala sobre TV aberta quando a necessidade pedir. Já no "Eu Paguei Pra Ver", às segundas, conta histórias curiosas sobre a TV por assinatura no Brasil. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer

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