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2015 no telejornalismo: desastres tomam as manchetes em ano surpreendente

Território da TV faz retrospectiva comentada deste ano na TV


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Globo caprichou em seu especial de aniversário, proporcionando uma bela homenagem para Cid Moreira e Sérgio Chapelin - Fotos: Divulgação

As faces acima representam bem as expressões de susto que caracterizam 2015 para o telejornalismo. Não havia muitos fatos marcados na agenda para esse ano de intervalo entre a Copa e as Olimpíadas, mas os eventos surpreendentes tiveram intensidade brutal, como o horror das armas e o horror da natureza que afetaram diretamente Cecília Malan e Carol Barcellos, destaques da Globo em duas das maiores coberturas do ano.

Cecília abriria essa retrospectiva até mesmo se a ordem escolhida fosse cronológica. No começo de janeiro ela foi enviada até Paris, o epicentro do planeta em 2015, para cobrir o atentado terrorista contra o jornal satírico Charlie Hebdo.

 

Mal podia prever que aquele não seria o ponto máximo da carnificina na cidade-luz. Em novembro, um novo banho de sangue ainda maior. Dessa vez com o momento emblemático da cobertura sendo o desabafo de Ilze Scamparini sobre o cansaço de acompanhar os desdobramentos.

Meses antes, quem se cansava mesmo que distante era Christiane Pelajo, ainda apresentadora do “Jornal da Globo”, que adentrou pela madrugada para acompanhar a caçada aos suspeitos do massacre na publicação francesa.

Mas eles acabariam pegos mesmo quando era tarde no Brasil e o plantão caiu sob a responsabilidade de Evaristo Costa, do “Jornal Hoje”, que chegou a interromper a si próprio para os estados que assistem o telejornal gravado. Efeitos da Rede Fuso, que prejudica a integração do país nesses grandes momentos.

Evaristo, aliás, ficou muito tempo afastado de sua parceira de bancada Sandra Annenberg. Mas por um bom motivo: a apresentação eventual do “Fantástico”, função que voltará a exercer em 2016.

Outras profissionais que tiveram subida de status profissional destacadas nas colunas do NaTelinha foram Paloma Tocci, a nova titular do “Jornal da Band”, e Monalisa Perrone, que além do seu “Hora 1”, também voltou a se destacar no Carnaval.  

Enquanto isso, alguns excelentes profissionais se viram dispensados, casos de Eduardo Grillo e Sidney Rezende na Globo News e Aurora Bello no SporTV.

Outra saída da Globo News, porém há mais tempo, Mariana Godoy estreou seu talk-show na Rede TV em altíssimo nível. Seu desempenho no comando da atração é uma das melhores surpresas do ano.

O canal osasquense, além desse, vem emendando diversos outros acertos, como a aquisição de eventos do porte da Superliga e do NBB. Na cobertura dos ataques em Paris, por exemplo, a Rede TV foi a primeira brasileira a estabelecer link nas ruas da cidade.

Em um primeiro momento, a emissora foi até melhor que a Globo, que exibiu um fraquíssimo “JN” enquanto a capital francesa estava em chamas. O canal carioca, porém, se redimiu no dia seguinte com uma ampla cobertura, mobilizando seu time de correspondentes e convocando até mesmo uma edição extraordinária do “H1”.

E foi justamente nessa cobertura que William Waack se revelou bem melhor sozinho no comando do “Jornal da Globo” do que acompanhado por Christiane Pelajo. O que é de se estranhar é que Christiane teve sua abrupta saída sem nenhum anúncio oficial no ar.

Mas nem só de caos se fez o telejornalismo no ano. A espirituosa dúvida sobre a cor do vestido (azul e preto ou branco e dourado?) também ganhou todas as manchetes.

E duas duplas formadas via satélite ganharam o público com boas sacadas na ponte aérea Rio-SP: Chico Pinheiro e Rodrigo Bocardi e William Bonner e Maria Júlia Coutinho. Seja na chamada matinal, seja na previsão do tempo noturna, esses pares de grande sintonia se destacaram.

O estilo de bom humor invadiu também muitas reportagens, com Phelipe Siani e Danilo Vieira sendo os seus maiores expoentes para o bem e para o mal, já que muitas vezes as gracinhas passaram do ponto.

Tudo depende de uma questão de adaptação, como o próprio “JN” fez após exageros no lançamento de seu novo formato.

Enquanto isso, outros nomes querem mesmo é partir para uma escala mais séria, como José Luiz Datena, declarado pré-candidato a Prefeitura de São Paulo.

No pleito, ele pode ter como oponentes Celso Russomano (do “Hoje em Dia” e “Cidade Alerta”), João Dória Júnior (do “Show Business”) e Marta Suplicy (ex-“TV Mulher”).  Seriam eles a solução para conter a revolta dos brasileiros com a política?

Além das investigações em curso na Lava Jato que vem destacando as equipes das grandes emissoras em Brasília, o palco do poder e as decisões tomadas de lá também geraram grandes manifestações que varreram o país em diversas ocasiões.   

A primeira delas, em março, ganhou tanta atenção que ofuscou outro grande acontecimento daquele fim de semana: uma tragédia rodoviária com 51 mortos.

São mais vítimas fatais, por exemplo, do que no igualmente lamentável desastre das barragens em Mariana, que teve sua melhor cobertura nos canais fechado, com os meios locais de Minas Gerais decepcionando.

O futuro, aliás, não parece estar sendo alto de tanta atenção assim mesmo com esses alertas. A cúpula do clima em Paris também acabou escanteada no agendamento dos grandes meios.

O que não deu para ignorar foi o desastroso terremoto no Nepal, ocorrido justamente enquanto Clayton Conservani e Carol Barcellos gravavam o “Planeta Extremo” no país.

A dupla, claro, acabou fazendo uma cobertura do sismo e de suas consequências ao longo de diversos dias, conseguindo furos até mesmo em nível internacional.

Digna de entrar nos momentos que serão revisitados ao longo dos próximos 50 anos. E sobre os tempos que já se foram, a Globo caprichou em seu especial de aniversário, proporcionando uma emocionante homenagem para Cid Moreira e Sérgio Chapelin.  

Enquanto o SBT não consegue acertar nem mesmo o seu presente. Tirou o “Notícias da Manhã” do ar e tornou o “Jornal do SBT” gravado, restando apenas 1 noticiário ao vivo fixo na emissora. Saíram de cena ainda os boletins ao longo da programação e o “SBT Manhã”, substituído por reprises do “JSBT”.

Na via contrária, a Globo colocou programetes do seu portal ao longo dos intervalos e de determinados programas. Do “G1 em 1 minuto”, aliás, destaca-se o excelente desempenho de Mariana Palma.

Enquanto novos nomes surgem, outros se vão. 2015 foi ano de se despedir de Beatriz Thielmann e Sandra Moreyra, donas de textos impecáveis e que farão muita falta para todos.

Mas o grande momento de comoção por um falecimento ficou para a morte de Cristiano Araújo, ídolo sertanejo. Os principais canais seguiram todos os seus funerais com boletins constantes e até modificações de grade. Já o “A Tarde é Sua” muito possivelmente deve estar com “novidades” sobre o tema até agora.

Em regra geral, porém, o sensacionalismo perdeu espaço no ano. Até como consequência da grave crise que bateu na porta dos brasileiros, a revolta maior ficou para as notícias da política e a economia, sem ser preciso que a fórmula de usar crimes passionais fosse tão desgastada em busca de números quanto em outras ocasiões.

Já para 2016, os olhos do telejornalismo terão que se dividir entre a atual e a antiga capital federal: com o processo de impeachment em andamento e as eleições municipais ocorrendo, Brasília renderá muito assunto. E nada indica que o arsenal de Sérgio Moro tenha se esgotado.

Em agosto, porém, seja com quem estiver no poder, vai ser a vez dos Jogos Olímpicos tomarem a tela.

E enquanto o maior evento poliesportivo do planeta ainda não desembarcou por aqui, o futebol europeu segue avançando, com a Liga dos Campeões se tornando um produto cada vez mais valorizado.

Tamanha a importância da Champions que a sua aquisição finalmente concedeu ao Esporte Interativo o passe livre para ser disponibilizado aos assinantes da NET. Em breve, somente a Sky irá ignorar o EI entre as grandes operadoras.

Já na TV aberta, o ano foi de despedidas por motivos bem diferentes. Tiago Leifert deixou o “Globo Esporte SP” para se dedicar de vez ao entretenimento. Alex Escobar também saiu da edição carioca, mas seguindo no jornalismo esportivo, agora no “EE”. Em seu lugar, entrou Fernanda Gentil.

Enquanto o “Jogo Aberto Rio” ficou sem Larissa Erthal. Ou qualquer outra apresentadora. A atração foi encerrada por causa na crise da Band. Pior ainda é a falta de bom senso muitas vezes existente na sobrevivente versão paulista do programa.

A Record também decepcionou. No Pan de Toronto, o grande aquecimento para Olimpíada, a emissora chegou ao ponto de ignorar até a abertura do evento.

A Globo também não passou ilesa de “furadas”, como quando deixou de transmitir a decisão da Copa América, mas para os Jogos do ano que vem já constrói um trabalho mais consistente.

Só resta aguardar o que os canais irão de fato colocar em prática nessa que vai ser apenas uma das marcantes coberturas que o novo ano nos promete. Nós estaremos de olho. 

O colunista Lucas Félix mostra um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira. Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

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