Programa mais baixo do mundo tem briga vale-tudo, ringue e beijo gay

Muitos dizem que a televisão é guiada pela audiência, pelo poder de chocar os telespectadores e principalmente pelo carisma junto ao público. Por mais ruim e baixo que o programa seja, se ele for divertido, pode fazer sucesso.

Na última semana, o conceitual Wall Street Journal fez uma lista com programas considerados "os piores já exibidos no mundo". Traduzindo: aqueles que apelam para a baixaria para chocar o telespectador, na busca de índices de audiência um pouco maiores do habitual.

O campeão dessa lista é um senhor de 71 anos, considerado o rei da baixaria no mundo: Jerry Springer. O "The Jerry Springer Show" é exibido na televisão americana desde 1991. A atração não está em nenhuma grande rede fixa, ou como os americanos falam, é o syndication: são programas independentes que são comprados pelas afiliadas das grandes redes e exibidos durante a sua programação. Normalmente, Jerry Springer é mostrado em afiliadas da NBC, até pela atração ter distribuição da rede, mas também é exibido em canais locais da Fox e da ABC.

O programa teve seu auge, principalmente, durante os anos 90, mais exatamente em sua segunda metade. Jerry Springer tinha média de 10 milhões de telespectadores e em várias cidades importantes dos Estados Unidos, chegava a vencer com larga vantagem o famoso "The Oprah Winfrey Show", principalmente entre os anos de 1997 e 1998. Jerry faz parte do que a crítica americana chama de "Trash TV" ou "O Lixo da TV", juntamente com outros programas famosos como o "The Ricki Lake Show" - este, inclusive, serviu de inspiração para o SBT criar o "Márcia" em 1997 - e o "Maury", que é uma espécie de Ratinho americano - sua principal atração são testes de paternidade de DNA.

O porém é que Jerry não sabe o que é limite, muito pelo contrário. Não são raros os casos onde ele usou do choque para subir a audiência. O programa é conhecido nos Estados Unidos apenas por mostrar brigas onde tudo é válido, com agressões físicas fortes. Socos, pontapés, puxões de cabelos, voadoras... "The Jerry Springer Show" faz o "Teste de Fidelidade" e o antigo "Programa do Ratinho" parecerem leves. Veja um compilado de brigas do programa:

O mais curioso é que o clima do programa instiga brigas físicas. Na verdade, o próprio Jerry, em várias entrevistas, considera o ápice justamente as porradas que acontecem. E para isso, em 2005, a atração assumiu isso de vez: colocou um cenário parecido com o esgoto americano (referência a ser considerado o lixo da televisão mundial), com formato de ringue de academia, com direito a gongo. Veja um vídeo de uma briga de casal já neste cenário:

Por fim, o "The Jerry Springer Show" não se destaca apenas pelas brigas, mas também pelos temas grotescos e pelo poder de surpreender o telespectador pelas coisas que vão ao ar. Um caso exibido em 1997, e lembrado até hoje, mostrou uma avó e o seu neto obtendo um caso de amor. O fato levado ao ar fez com que autoridades religiosas pedissem ao governo americano que retirasse o programa do ar.

Mas o caso mais chocante e que inclusive viralizou muito na internet quando ocorreu, foi o beijo gay no programa em 2006. Um garoto foi à atração conhecer uma mulher que ele teve contato no MySpace. Mas acontece que esta menina era um travesti. Quando soube do fato, o homem teve um pequeno choque inicial, mas o amor foi maior: beijo para todo o país ver, recorde de audiência nos últimos dez anos e muito burburinho. Veja a cena:

Armações?

Em 1999, o "The Jerry Springer Show", juntamente com os já citados "The Ricki Lake Show" e "Maury", foram acusados de armar vários casos como se fossem reais, usando atores ou figurantes contratados.

Na época, todos os programas negaram. Porém, alguns anos depois, Jerry admitiu que sua produção utiliza atores em alguns casos em que pessoas reais não tem coragem de ir ao ar, usando os figurantes para dramatizarem as histórias e as brigas. Jerry, no entanto, nunca disse que casos foram esses, cabendo ao telespectador tentar sacar quando isso acontece.

O fato é que as acusações fizeram "Ricki Lake" mudar o tom de seu programa, tirando o sensacionalista e agressivo e exibindo um lado mais feminino e leve, fazendo-a inclusive ganhar um Emmy de melhor apresentadora de talk-show. A atração saiu do ar em 2013, por opção da própria Ricki.

Já Jerry até tentou mudar o formato do programa para algo mais familiar, mas com a queda grande de audiência, voltou ao antigo formato e ainda consegue um número respeitável: quase 4 milhões de telespectadores. Em paralelo ao seu programa de baixarias, Jerry comanda alguns programas mais leves, como o "Baggage on the Road", um game-show que estreou no mês passado e vem sendo elogiado.