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NaTelona: Quem quer ser um milionário?


Bruno Pires
para o NaTelinha

 



"Jamal Malik está a uma pergunta de ganhar 20 milhões de rúpias. Como ele conseguiu? a) Ele trapaceou; b) Ele tem sorte; c) Ele é um gênio; d) Está escrito." É assim, com esta pergunta e as opções de respostas escritas na tela, no melhor estilo Show do Milhão, que começa Quem Quer Ser Um Milionário?. Logo em seguida, vemos o mesmo Jamal Malik sendo torturado pela polícia, que quer saber como afinal um garoto pobre das favelas da Índia pôde ter chegado tão longe no jogo televisivo e estar prestes a levar o prêmio máximo.


Se, com um começo desses, você não fica com os olhos arregalados, ansioso para conhecer aquela história, ao menos bate uma curiosidade. Daí, conforme o filme vai acontecendo, a gente vai se decepcionando. E onde está a decepção? a) Na história; b) Nas atuações; c) Na edição; d) Na direção; e) Na trilha sonora. E aí?


Não, a decepção não está na história em si, que é gostosa e bonitinha: Jamal (Dev Patel) não está ali para ganhar o prêmio; sua presença no programa se deve a uma garota, o amor da sua vida, Latika (Freida Pinto). Temos também uma relação de amor e ódio com seu irmão, Salim (Madhur Mittal); além de diversos momentos de aventura, humor e alguma tensão. Não vou contar mais porque estragaria as pequenas surpresas que a história vai causando, pouco a pouco, conforme as perguntas do show são respondidas e os flashbacks de Jamal vão aparecendo.


Também não nos decepcionamos pelas atuações, que, se não são exuberantes, são no mínimo competentes. Patel é simpático e nos faz acreditar nele; Mittal mostra bem os sentimentos com relação ao irmão, e a química entre os dois é boa. As atuações mirins são deliciosas e os coadjuvantes são convincentes.


O que mais merece ser destacado, entretanto, é a ótima edição do filme, e também sua trilha sonora. A direção de Danny Boyle, por sua vez, é sábia e competente, fazendo da película quase uma fábula, mesmo ao mostrar a pobreza, o sofrimento e a violência das classes mais pobres da Índia (em algumas cenas, nós chegamos a nos lembrar de Cidade de Deus... teria sido uma inspiração, mesmo apesar de o exemplar brasileiro ser muito mais pesado?).


Mas, afinal, onde está a decepção? Resposta: alternativa "a", na história! Ué, mas não tínhamos eliminado? Sim e não... vamos lá.


Apesar de, essencialmente, a trama ser atraente e, no fim das contas, entreter o público (que, afinal, é a meta da produção), Quem Quer Ser Um Milionário? conta com alguns absurdos na construção de determinadas situações. Exemplos?


Jamal tem um objetivo ao decidir participar do show televisivo e, apesar de milhões de pessoas concorrerem à vaga no programa, nosso herói facilmente chega lá. E a explicação que ele dá para facilitar seu sorteio é simplista e não convence. Quantas vezes eu quis vencer vários sorteios e nunca, nunca, nunca consegui... se bem que, pela frase final do filme, o diretor já nos impossibilita de questionar qualquer acontecimento da história, como um dogma religioso.


Outro absurdo está na reviravolta que a história dá, ao mostrar como Jamal foi levado para a polícia. Sem nenhuma verossimilhança! Ou será que tem alguma? Acho bom começarem a espiar o que Silvio Santos faz entre um intervalo e outro de seus programas, sei não...


E o absurdo maior está na própria polícia, que tortura Jamal de forma mais cruel do que Alexander Mahone fez com o assassino por aluguel da Companhia em Prison Break. Tá bom, exagerei... Mas a questão é que não é fácil acreditar que uma polícia, mesmo a indiana, que nos é desconhecida, seria capaz de promover tamanho ato de crueldade baseada em evidência nenhuma.


Fora isso, algumas outras coisinhas mais incomodam, aqui e acolá, contudo nem merecem menção. Também presenciamos alguns diálogos sem inspiração, mas qual filme não os tem?


Por fim, Quem Quer Ser Um Milionário? funciona como uma boa distração, mas não espere encontrar ali todas as respostas para esta pergunta: por que esta produção foi tão aclamada e conquistou tantas premiações? Talvez a resposta mais adequada seja a eterna: "nenhuma das alternativas anteriores".


Enquanto isso, na telinha...

 



Fiquei abalado com a morte de Clodovil Hernandes. Eu gostava muito dele, como apresentador. Genioso? Sim. Convencido? Ele podia. Cínico? Imagina. Às vezes, cruel? Ora, sempre cai bem aquela batatinha inglesa apimentada.


O fato é que, apesar de ter tido todas essas características que muitos julgavam como defeitos, Clodovil Hernandes tinha um extremo bom-gosto televisivo. Foi com ele a única época em que eu me prendi a um programa vespertino. A um programa vespertino feminino. A um programa vespertino feminino em que boa parte do tempo era gasta com a feitura de arranjos de flores e conversas despretensiosas entre o apresentador e a empregada! Mas, quer saber... a delícia daquela fase do A Casa é Sua residia justamente nisso: despretensão. A graça do programa era o próprio Clô!


Que maravilha era ouvir o Clodovil falar, sobre tudo e sobre todos. Que maravilha era ouvir suas opiniões, mesmo se não concordássemos com elas. Que maravilha era nos perdermos em meio a tantos raciocínios, assim como ele, que falava sem parar e emendava assuntos uns nos outros, às vezes sem finalizar aqueles que havia começado anteriormente.


Clodovil na TV não era um simples apresentador. Na verdade, ele nem era um apresentador. Ele era uma ótima companhia. Não por ser boa pessoa, não o estou defendendo porque ele se foi. Era, sim, uma ótima companhia simplesmente porque era uma companhia interessante. Não, interessante não: interessantíssima!


Que pena não o termos mais, e que pena ele não ter sido tão aproveitado quanto merecia. E que pena maior ainda não termos outros apresentadores como ele!


Se houvesse mais gente nas produções televisivas brasileiras com a criatividade e o bom-gosto de Clodovil Hernandes, nossa TV teria uma qualidade bem mais elevada, e ainda assim muito interessante. Pois ele provou que um programa assistível pode ter, sim, bastante qualidade.


Enfim, nada é para sempre. E tudo o que é bom parece durar menos ainda. Clodovil se vai e nos deixa com gosto de desperdício, de quero mais.


Que descanse.

 
A volta do CQC, que já chega arrebentando com novos quadros e força total para sua temporada 2009. Viva Marcelo Tas e sua trupe, que fazem o melhor programa da Band e - por que não? - o melhor programa da TV brasileira atualmente.

 
A Record começa a se render à mexicanização da dramaturgia. Temos muitos talentos escondidos por aqui, basta procurar. E, cá entre nós, a história de Betty, a feia, é legal... mas já rendeu "filhos" demais, não? Ainda assim, desejo muito sucesso para Gisele Joras e sua Bela.

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