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TV Crítica: Novos hábitos: a mudança no consumo das telenovelas brasileiras



SBT voltou a investir em telenovelas no ano passado, depois de um período parado.
 

 

Demorou mas aconteceu. O consumo da telenovela brasileira, tão cultuada pelos quatro cantos do mundo, enfim se abriu para o mercado interno. O comportamento da audiência se diferenciou, dando espaço para produções segmentadas e novos formatos. A dramaturgia nacional evoluiu, ganhou novos personagens e até mesmo uma nova vilã, disposta a tudo para roubar uma fatia mais polpuda do mercado e desbancar uma liderança que perdura por décadas. Desenlaces surpreendentes, traições e disputas: a novela das novelas chega ao seu clímax com a promessa de muitas emoções para os próximos capítulos.


Os personagens


Vamos aos protagonistas. No papel principal, destaca-se a “heroína”, a Rede Globo, detentora de três novelas inéditas, uma reprise e um seriado adolescente. Uma emissora de forte apelo popular e reconhecimento por suas obras. No lado oposto, a antagonista Rede Record ataca com duas produções em curso e um repeteco nas tardes. Completando o triângulo, no núcleo cômico, encontra-se o SBT que, de modo quase que patético, transmite “Revelação”, escrita pela mulher do patrão. Há ainda os figurantes, que exibem melodramas importados, como a CNT, mas eles raramente aparecem no contexto.


A trama


Flashback para ambientar a história e a rivalidade dos protagonistas: 1999. Tínhamos uma Rede Globo prepotente e invicta, com suas novelas em alta, faturando muito bem, com algumas ameaças do SBT, que freqüentemente emplacava algum “furacão mexicano”. Na Record, a dramaturgia nacional engatinhava, com produções baratas de retorno minguado.


A reviravolta


No início dos anos 2000, o SBT ousou em firmar uma parceria com uma das maiores exportadoras de conteúdo do mundo – a emissora mexicana Televisa. Deste acordo, que durou oito anos de co-produções, surgiram alguns destaques, como “Pícara Sonhadora”, “Marisol” e “Esmeralda” que, embora tivessem textos sofríveis, garantiram médias significativas. Neste tempo, o SBT chegou a exibir no mesmo dia até seis novelas da Televisa (inéditas e reprises). Cômico se não fosse trágico.


O clímax


A ameaça à hegemonia das produções globais, contudo, não estava no SBT, mas sim na Rede Record, que a partir de 2004 passou a se utilizar da mesma fórmula da emissora líder. Desde que injetou cifras miliomárias em sua programação, a rede da Barra Funda entrou na dramaturgia disposta a investir pesado em elenco, em texto e em produção. O primeiro golpe foi apostar na ousadia: estreou em um domingo a telenovela “Metamorphoses”, em parceria com a produtora Casablanca. O resultado foi desastroso. Um enredo que se perdeu pelo caminho, obtendo índices irrisórios. A grande tacada, entretanto, viria logo a seguir, com a estréia do remake de “A Escrava Isaura”, que rendeu média de 13 pontos e picos de 25 em sua reta final.


O núcleo cômico


Com o sucesso de “A Escrava Isaura”, a Rede Record engatou vários sucessos e investiu em novos horários e temas. Eis que surge o inusitado: uma trama romântica que tem como pano de fundo uma história que envolve mutantes. Com índices animadores, a Record engata uma segunda temporada, com um enredo que beira o absurdo, concorrendo direto com o principal produto da sua rival. Desde então, a novela global pena para chegar aos 40 pontos de audiência na faixa das 21h (sendo que a meta é 45).


Neste cenário de guerrilha entra em cena o atrapalhado SBT, que resolve investir na dramaturgia nacional e contrata Íris Abravanel, a esposa de Silvio Santos, para escrever uma trama recheada de improviso, amadorismo, pieguice e escracho, apesar de nada disso constar na sinopse original.


A análise por trás do enredo



Esse melodrama dos bastidores das novelas é uma obra aberta. Portanto não há como supor o desfecho dos protagonistas. Pode ser que venha um furacão e elimine metade dos personagens e mude todo enredo, assim como fez Janete Clair em “Anastácia, a mulher sem destino”, em 1976. De repente, a antagonista pode vencer e se tornar absoluta com suas tramas. Ou mesmo ser esmagada pela líder. Há ainda a remota possibilidade de o núcleo cômico, encabeçado pelo SBT, se destacar com alguma palhaçada, “arma secreta” ou “espasmo criativo” do patrão.


A diminuição dos índices de audiência – ou a pulverização deles, melhor dizendo – não indica que a dramaturgia brasileira esteja em crise. Mostra que o telespectador está aberto a novas propostas e que o mercado televisivo, mesmo em meio a uma crise mundial, ainda está aquecido. Com isso todos ganham: o mercado anunciante, a equipe de produção, os investidores e o público. Final feliz. Até que alguém inove mais uma vez e invista em outros formatos mais rentáveis. Mas aí já é enredo para uma outra história.


João Claudio Lins é Publicitário, Especialista em Propaganda e Marketing e em Novas Mídias: Rádio e Televisão. Mais matérias no www.circoeletronico.blogspot.com. Quer conversar sobre TV? joaoclins@yahoo.com.br

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