Por que Preta Gil não se curou do câncer? Os desafios do câncer colorretal metastático

Preta Gil, cantora e filha de Gilberto Gil, foi diagnosticada em janeiro de 2023 com adenocarcinoma na porção final do intestino, um tipo de câncer colorretal. Após passar por cirurgias, quimioterapia e radioterapia, ela chegou a ser considerada curada no final de 2023.

No entanto, em agosto de 2024, exames de rotina identificaram a volta da doença em quatro locais diferentes do corpo — dois linfonodos, uma metástase no peritônio e um nódulo no ureter — o que levou à retomada dos tratamentos oncológicos, incluindo uma cirurgia de 21 horas em dezembro de 2024 e tratamentos experimentais nos Estados Unidos.

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"Eu sou outra Preta de 2024, cheia de vontade de viver, com muita energia e cercada de amor. Quero ter uma vida perto de uma normalidade.", disse a cantora à época.

A situação é tão séria, que familiares deram indícios de sentir o baque a ponto de, em um momento do tratamento, o pai dela, Gilberto Gil, fez uma sugestão devastadora. "Filha, a natureza é sábia. Somos parte dela e vamos voltar para ela, isso faz parte da vida. Se estiver sendo muito difícil para você, e se for sua hora, aceite. Se estiver muito pesado para você, vai. Se deixa ir. É muito ruim viver com esse incômodo e lutando da forma que você está lutando".

No Saia Justa dessa semana, Bela Gil deu uma forte declaração sobre a irmã e se emocionou. “A minha irmã, a Preta, está doente e ela está agora nos Estados Unidos fazendo um tratamento para o câncer e eu lembro de eu estar aqui nesse sofá, há mais de um ano, mandando um beijo para ela durante uma cirurgia que ela fez. Ela está nessa batalha há mais de dois anos e é uma mulher muito forte, que sempre me inspirou, e eu era a bonequinha dela quando criança”

O que é o câncer de Preta Gil e por que é mais difícil de tratar?

O câncer colorretal é um tumor maligno que pode acometer o intestino grosso e o reto. Quando detectado precocemente, em estágios iniciais, a chance de cura é superior a 90% apenas com cirurgia. Porém, quando a doença se espalha para outros órgãos — o que se chama metástase — o tratamento se torna mais complexo e a cura, mais difícil.

O oncologista Victor Hugo Fonseca explicou ao Oncoguia, uma revista especializada no tema: "Quando o comprometimento é mais externo e os gânglios não estão acometidos (estágio clínico II), a cirurgia seguida ou não de quimioterapia é o padrão. Já no estágio clínico IV, com metástases, o tratamento padrão é a quimioterapia. Porém, ainda que haja metástases, há possibilidade de cura através da remoção cirúrgica, dependendo do caso."* Ele ressalta que cerca de 20% a 30% dos pacientes podem apresentar recidiva, como no caso de Preta Gil, e que a avaliação molecular do tumor é fundamental para definir o tratamento mais eficaz.

O patologista Arthur Gentili para o mesmo veículo complementou: "Exames como a imuno-histoquímica identificam proteínas específicas no tumor que indicam tratamentos personalizados, como imunoterapia para tumores com instabilidade microssatélite, ou terapias-alvo para tumores com alterações genéticas." No entanto, muitas dessas terapias ainda não estão disponíveis no SUS, o que limita o acesso a tratamentos modernos no Brasil.

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Por que Preta Gil não se curou?

A recidiva do câncer colorretal, especialmente com metástases em órgãos como peritônio e ureter, torna o controle da doença mais difícil. Preta Gil enfrentou uma forma agressiva da doença que voltou a crescer em múltiplos locais, exigindo uma abordagem mais complexa e multidisciplinar.

Em entrevista ao Fantástico, Preta afirmou: "Em seis meses, quatro tumores cresceram. Não é fácil, mas a gente não tem outra opção a não ser encarar. Tudo nessa doença é um grande tabu. Eu amputei o reto e não posso ter vergonha, porque é a minha realidade."* Ela também destacou a importância do apoio familiar e da força para enfrentar a doença.

O oncologista Victor Hugo detalhou a estratégia: "Primeiro começa-se um tratamento sistêmico, como a quimioterapia, para observar a resposta. Dependendo da resposta, pode-se pensar em cirurgia para metástases. Além disso, há tratamentos experimentais e imunoterapia que podem ser indicados conforme o perfil molecular do tumor."* Preta Gil está atualmente em tratamento experimental nos Estados Unidos, buscando terapias personalizadas que avaliam mutações genéticas específicas para indicar medicamentos mais eficazes, como imunoterapia e tratamentos-alvo, que ainda são pouco acessíveis no Brasil.

Expectativa de vida para pacientes com câncer colorretal metastático

A expectativa de vida para pacientes com câncer colorretal metastático é significativamente menor do que para aqueles diagnosticados em estágio inicial. A sobrevida em cinco anos para pacientes com metástases é inferior a 20%, embora isso varie conforme o tipo de metástase, resposta ao tratamento e avanços terapêuticos.

O oncologista Victor Hugo explicou que, apesar das dificuldades, há casos em que a combinação de cirurgia para metástases e tratamentos sistêmicos pode prolongar a vida e, em alguns casos, levar à cura. Novas terapias, como imunoterapia, têm mostrado resultados promissores, principalmente em tumores com características moleculares específicas.