Drauzio Varella diz a Mano Brown que já foi parado pela polícia: "Fui preto um dia"
Durante live, médico relembrou momentos de tensão com dois amigos; veja
Publicado em 24/06/2020 às 19:50
Drauzio Varella relatou a Mano Brown um momento de tensão envolvendo a polícia. Durante live realizada nesta quarta-feira (24), o médico contou ao líder do Racionais MC's que já foi parado por guardas porque estava acompanhado de dois amigos negros.
"Você sabe que eu já fui preto um dia, né? Um dia só, e não gostei", ironizou Drauzio. "Eu achava que o senhor era preto quando olhei daqui", brincou o rapper. O médico, em seguida, falou sobre o episódio.
"Eu saí uma noite para tomar um chope e ouvir um samba em um bar na avenida Antártica (SP). Na hora de ir embora, falei ao meu amigo que pegaria um táxi, e ele: 'Não, espere, meu filho vem pegar a gente'. Era um menino de 19, 20 anos com o carro. Entramos, eu no banco de trás e os dois na frente, pai e filho. Andamos uns 200 metros, o menino disse: 'Vamos ser abordados'", relembrou Drauzio.
Brown interpretou a reação do motorista do veículo, como se ele soubesse que seria abordado por ser negro: "O mano já estava treinado, né? Não tem jeito, é o instinto".
O médico continuou o relato e citou momentos de terror ao ver seus dois amigos sendo repreendidos pelos policiais, mesmo sem terem cometido um crime sequer.
"O menino já sabia. Encostou o carro, vieram dois guardas com revólver na mão apontando para a cara da gente, eu levantei os braços, eu já era conhecido com essa coisa de televisão. Falei: 'Vocês me conhecem?'. Eles: 'Conhecemos o senhor, não conhecemos esses dois aí'. E foram com o revólver na cabeça dele. E eu gritando com os caras: 'Para, são meus amigos!'", disse Drauzio.
"Os manos são 'negão', né?", perguntou Mano Brown. "É, acharam que estavam me raptando ou qualquer coisa dessa. Precisei gritar com eles", respondeu o médico. O rapper, então, ensinou como é a estrutura racista em torno do episódio vivido por Drauzio Varella.
"A mentalidade racista está em todo mundo, naquele exato momento, funcionando ao mesmo tempo. Cada um no seu lugar de fala. Os dois 'negão' porque estão vendo a vida por um triz ali, os caras [policiais] porque estavam vendo o senhor no meio, um branco no meio de dois 'negão'. Se tem um descuido, pelo racismo, pela lógica errada da leitura antecipada que leva à tragédia, a leitura de um cara quando tem um branco no meio de dois 'negão': 'Ele é vítima, temos que proteger esse branco agora, depois a gente vê quem está certo'. O Brasil é isso aí", explicou o cantor.
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