Atuação da semana: Sheron Menezzes foge do industrialismo em Bom Sucesso
Atriz desempenha seu melhor papel na TV
Publicado em 10/11/2019 às 09:35
Desde que surgiu na TV em Celebridade, há quase duas décadas, Sheron Menezzes mostrou em praticamente todos os seus trabalhos uma semelhança artística muito grande com nomes que ganharam fama na dramaturgia televisa, como Paolla Oliveira: o industrialismo. Pela primeira vez a atriz consegue fugir deste elemento que assola as interpretações em novelas brasileiras e brilha em Bom Sucesso.
Falar de industrialização da interpretação parece uma crítica, e é. Mas vai muito além que uma avaliação pedante ou distanciada dos olhos do público; é uma afirmação que deveria preocupar os produtores e também os artistas. A telenovela é, como base do formato, uma produção industrial. Diferente de todas as outras formas de dramaturgia, ela não oferece tempo para apuro estético devido ao ritmo de produção que exige um capítulo por dia.
E Sheron Menezzes desde que se aventou como atriz sofreu desde mal que nem sempre é culpa dos intérpretes, mas é uma imposição do próprio sistema que raras vezes permite um apuro maior na construção de um personagem por parte de um ator ou atriz. Além dela e Paolla Oliveira, muitos nomes sofreram do mesmo mal, como Caio Castro, Cauã Reymond e, mais recentemente, Ágatha Moreira.
Em todos os seus papéis, Sheron recorreu ao estilo industrial de interpretação que prejudica demais a composição da personagem. Na prática, o termo se refere a quem constrói uma personagem sem nuances. A atuação é convincente, competente, porém não há trejeitos, não há elementos de vida própria. Sempre é possível notar que trata-se de uma interpretação, não se transmite verdade em cena.
Outros artistas abandonaram o modelo a fim de uma busca por respeito na carreira. Foi o caso de Caio Castro que aceitou o desafio de deixar de lado o galã em I Love Paraisópolis e construiu um tipo cheio de nuances. Agora, é a vez de Sheron Menezzes com sua Gisele.
Comparsa e amante de Diogo (Armando Babaioff), a personagem poderia ser apenas uma sombra devido à força dramatúrgica do vilão, mas isso não acontece graças ao tom que Sheron oferece a Gisele. É uma aprendiz de vilã que não se importa em enganar a chefe, em tentar roubar a fortuna dos Prado Monteiro, mas que tem sua própria régua de moralidade e não admite assassinatos e coisas que o valha.
Pensando assim, superficialmente, poderia dar a sensação que Gisele é uma esquizofrênica sem sentido, afinal, ela é aliada do maior vilão da trama. A verossimilhança cabe justamente pelo tom dado por Sheron que acerta ao recorrer a pequenas expressões e olhares que oferecem ao público pistas de que a jovem secretária é apenas uma mulher vazia que foi plenamente ocupada por um psicopata, mas que não soube ainda como fugir disso.
Pela coragem de fugir do industrialismo da interpretação e por uma construção cuidadosa de Gisele, Sheron Menezzes merece aplausos e se tornou a atuação da semana.