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A violência nos realities shows brasileiros seria o "ovo da serpente"?


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Fotomontagem/ NaTelinha Divulgação

Entre as palavras e termos que retornam de tempos e tempos, a expressão “ovo da serpente” é a eleita atual, percorrendo, especialmente, os editoriais da imprensa.

Como a casca de ovo do réptil é muito fina, e por isso, o seu filhote é visível antes de nascer, a analogia é usada para falar de algum tipo de mal que está incubado, pronto para surgir, mesmo que todos o estejam vendo. Essa expressão já deu nome a filmes que retratam determinados períodos históricos que antecedem a outros mais turbulentos.

É possível que a televisão abrigue algum ovo de serpente? Para telespectadores mais aflitos, a resposta é positiva, e esse ovo, afirmam, está entre nós há muito tempo, especialmente no formato da teledramaturgia. Enquanto a Bibi Perigosa e seu amor bandido na novela “A Força do Querer” (Globo) são acusados de glamourizar o mundo do crime, como uma espécie de Bonnie e Clyde nacionais, alguns realities shows seguem à margem, vistos como um entretenimento decadente e cafona, longe de ameaçar o reino da ficção tal qual se previu no início dos anos 2000.

A violência nos realities shows brasileiros seria o \"ovo da serpente\"?

Embora gerem, ainda, certa audiência e comentários, alguns realities shows experimentam essa decadência, como é o caso da edição atual de “A Fazenda” e do fiasco “A Casa”, ambos da Record TV. Mais do que a dinâmica falha desses programas, que se desfizeram dos princípios essenciais do formato, como a edição ágil, os apresentadores carismáticos, a exploração de personalidades e os participantes-chamarizes, há um fator preocupante: a presença quase diária de conflitos violentos.

Fábio Arruda, consultor de etiqueta das celebridades (?) e participante de “A Fazenda”, nos primeiros dias do programa, xingou a modelo Ana Paula Minerato de “macaca” e “marginal”, enquanto em “A Casa”, cujos participantes anônimos se apinhavam em uma residência lotada, houve agressões físicas por comida. O “BBB” deste ano, mesmo testemunhando uma repaginada em sua edição, chocou ao mostrar o cirurgião Marcos Harter (agora na atual edição do reality da Record TV) encurralando a participante Emily contra a parede durante uma discussão.

Para muitos telespectadores, o formato reality, diferente da teledramaturgia, é o lugar propício para esses conflitos que chegam a ser físicos, pois é um tipo de programa impregnado pela tensão do confinamento e pela criação de rixas (muitas vezes feita pela própria produção) para movimentar a disputa. Mas se os realities shows selecionam participantes, anônimos ou não, para representarem uma parcela da sociedade, e assim, gerar identificação no telespectador, por que a violência constante, artificializada ou não, é a tônica atual desses programas? Não somente a violência verbal, mas a sua versão mais preconceituosa e explosiva.

A ficção oferece a chance de o telespectador interpretar aquilo que ela retrata, mesmo que timidamente. O reality show, por partir do pressuposto de uma suposta realidade, mas misturada com entretenimento e manipulação da imagem, é mais perigoso. Pode ser que “A Fazenda”, “A Casa” e o “BBB” representem o brasileiro nada cordial cujo ovo da serpente está, atualmente, perto de irromper a sua casca diante de vários televisores.

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