As telenovelas aproximam ou distanciam o telespectador?
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Publicado em 16/04/2018 às 06:00
A primeira telenovela brasileira surgiu em 1951, na extinta TV Tupi. De lá pra cá, muitas histórias já prenderam o Brasil: autores de assassinatos sendo desmascarados no último capítulo, mortes e romances dentro e fora da trama, etc.
Antes eu acreditava que, tudo aquilo passado na telinha tinha como objetivo aproximar o telespectador da narrativa apresentada, através da identificação. Hoje, já coloco isso em dúvida.
Atualmente, várias narrativas de uma mesma novela só distanciam aqueles que as acompanham. Talvez isso aconteça devido aos inúmeros erros cometidos pela direção e/ou autoria; talvez aconteça por falhas na própria história, não sei. O fato é que a intenção em fazer com que tudo dê certo para os mocinhos APENAS no final da novela faz com que muitas cenas acabem sendo esdruxulamente irreais.
“Tempo de Amar” (2017-2018) foi uma narrativa-exemplo do estapafúrdio: podíamos ver diversas oportunidades de reencontro do casal principal e ele não aconteceu porque diretores pediam que a cena fosse feita daquela maneira ou de outra. Na vida real tudo seria bem diferente.
É assistindo a essas histórias que vemos também que as telenovelas apresentam o princípio do 8/80: ou você é bom, ou você é mau. Será que essa dualidade entre o bem e o mau é tão fiel na vida real? As pessoas consideradas “do bem” podem ter algumas atitudes impiedosas. O mesmo acontece do lado oposto: algumas pessoas consideradas ruins às vezes podem ter comportamentos positivos.
A aproximação do mundo televisivo para o mundo real também precisa incluir mais negros contando histórias diferentes que as racistas, brancos interpretando grandes criminosos, personagens descobrindo que o que sabota sua realidade são os próprios conflitos internos e não atitudes externas. Inovações como essas podem dar um zoom à realidade x telinha e diminuir frases como: “Só em novela mesmo”.
A ausência dessas novidades é visivelmente desaprovada quando observamos temas importantes e vividos por tantas pessoas reais, sendo abordados em novelas, haja vista que esses são os capítulos que elevam a audiência dos canais televisivos. A descoberta de Ivana/Ivan sobre si próprio (na telenovela “A Força do Querer”) e julgamento do pedófilo Vinícius (“O Outro Lado do Paraíso”) são exemplos clássicos que a equipe televisiva deve estar sempre atenta ao reconhecimento daquele que assiste àquele que é assistido.
De fato, o surgimento da telenovela em 1951 foi uma grande evolução. E de lá pra cá muitas particularidades evoluíram, mas hoje o público pede mais. E ter cuidado com o que o público anseia deve ser indispensável não somente pelos números do Ibope, mas também para que a trama não vire deboche e cumpra seu objetivo: entreter e influenciar de maneira positiva o comportamento social da comunidade.
Laís Lubrani é Jornalista, residente na cidade de Orlândia, interior de São Paulo. Faça como ela, envie sua análise, crítica ou reflexão sobre a TV.