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Roda o VT: A derrota na televisão


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Foto: Flávio Florido/UOL

Hegemônicos no futebol mundial, reis do vôlei, vencedores na Fórmula 1. Tricampeonato de futebol no México, em 1970; oito títulos mundiais de Fórmula 1; as medalhas de ouro olímpicas no vôlei, o tetra em 1994 e o penta em 2002. A televisão brasileira acostumou-se a transmitir grandes conquistas esportivas dos atletas do país. E, por isso, ficou mal acostumada.

Ayrton Senna estabeleceu um padrão de autoconfiança e cobrança para si mesmo que ainda é referência, mesmo que inconsciente, para todos os atletas. Eles querem vencer como Senna, erguerem a bandeira verde amarela no pódio, mas nem todos são capazes disso. Por não conseguirem, pedem perdão à pátria, ao povo. Esta cena é vista em Jogos Pan-Americanos, Jogos Olímpicos, Copas do Mundo e em qualquer outra competição.

A Copa de 2014 foi a que contou com maior cobertura televisiva desde a realizada na França, em 1998. Naquela ocasião, eram cinco emissoras abertas transmitindo os jogos (Globo, Bandeirantes, SBT, Record e Manchete), além de duas por assinatura (SporTV e ESPN Brasil). Desta vez, duas emissoras abertas (Globo e Bandeirantes) e quatro fechadas (SporTV, BandSports, ESPN e FOX Sports), que transmitem em oito canais diferentes.

A quantidade de canais não altera um elemento: a torcida pelo Brasil. A cobertura isenta dos acontecimentos se limita aos jogos em que a camisa canarinho não está em campo. Atletas brasileiros sempre serão heróis em potencial. Rivais, subestimados - quando não inimigos - até que seja impossível não admitir que também são talentosos.

É verdade que a derrota não é imprevisível e, por cautela, sempre são preparadas, com antecedência, imagens e palavras de consolo para serem exibidas após um mal resultado. Foi assim naquela Copa de 1998 perdida para França. Porém, desta vez, o fiasco da goleada para a Alemanha, numa semifinal de Copa do Mundo, totalmente inesperado, acabou com qualquer palavra de conforto.

As equipes de transmissão praticamente pararam de narrar e comentar o jogo ainda no primeiro tempo e passaram a tentar buscar respostas para o que acontecia em campo. Foi a cobertura ao vivo de uma tragédia nacional.

A televisão, que sempre procura transmitir patriotismo, otimismo, confiança e orgulho dos atletas brasileiros, foi obrigada a mudar de postura. Não pela derrota, que é algo normal no jogo, mas pela humilhação. É um fato inédito em coberturas esportivas.
 


Hamilton Kenji é titular dos blogs obaudosilvio.blogspot.com, letrasdotrem.blogspot.com e transcendentes.blogspot.com

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