Repórter do povão

Susana Naspolini ajudou a popularizar o jornalismo da Globo com bom humor

Repórter cobrava das autoridades melhorias para os moradores do Rio de Janeiro e tratava o assunto com bom humor. Ela já se fantasiou de jacaré, andou de triciclo, de skate e comemorava resultado com moradores

Susana Naspolini já se fantasiou de jacaré e de Marylin Monroe para reportagens populares na Globo - Reprodução
Por Marcela Ribeiro

Publicado em 25/10/2022 às 23:18:00,
atualizado em 26/10/2022 às 14:31:45

Susana Naspolini, que morreu aos 49 anos de complicações de um câncer no osso da bacia, era uma repórter que cativou o público com sua simplicidade, simpatia, bom humor e que falava a língua do povo. Ela popularizou o jornalismo da Globo no quadro RJ Móvel, do RJTV que tratava de problemas das comunidades e cobrava melhorias.

Apesar de tratar de assuntos lamentáveis como vazamento de esgoto, obras inacabadas, ruas sem asfalto, dentre outros problemas recorrentes de alguns bairros do Rio de Janeiro, Susana Naspolini tratava do assunto com bom humor e protestava, seja andando de triciclo de criança em uma rua esburacada, de carona na bike do entregador de água e até dentro do carrinho de supermercado.  Ela também celebrava com os moradores de regiões carentes e esquecidas pelas autoridades.

Certa vez, a repórter se fantasiou de jacaré para cobrar a reforma de uma ponte localizada no Canal das Tachas, conhecido como Canal do Jacaré, e localizada no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro. De peruca loira e vestido branco, inspirada em Marylin Monroe, Naspolini protestou contra o vazamento de um esgoto no bairro Pedra de Guaratiba, Zona Oeste carioca.

"Gente, eles estão bravos, estão tristes. Chove, o esgoto levanta, invade tudo, entra nas casas. Quem já perdeu coisas de casa?", perguntou a repórter. "Eu perdi a minha tartaruga", respondeu uma criança.

Quando a cobrança dava certo, Susana Naspolini ia até o bairro, na data combinada e marcada em um calendário para mostrar o resultado e comemorar com os moradores que a recebiam com bolos, café e docinhos. Ela adorava visitar a casa de alguns deles e era sempre recebida com muito carinho.

"É o meu jeito de trabalhar, podem ou não gostar. Sou muito feliz fazendo, me sinto em casa. No outro dia, minha filha falou: ‘Mãe, sua blusa estava toda suada’. Respondi: 'Filha, estava gravando em Bangu, meio-dia, não vai ter suor?'. Tem suor, tem o cafezinho. Se eu tiver andando e tropeçar, vai entrar o tropeço. Se eu sentar na calçada pra falar com alguém, vai mostrar. Ah, esse ângulo tem mais sol do que o outro? Não tem problema, é ali que a gente está".

Susana Naspolini ao Memória Globo

Em uma reportagem no bairro Encantado, a repórter desceu até a beira de um rio poluído amarrada por uma corda e presenciou ao vivo um morador caindo no chão na sua frente. Sem poder rir da situação, a jornalista, que conhecia todos pelo nome, perguntou se seu Valdir precisava de ajuda.

Solidária, forte e guerreira. Susana merece muitos adjetivos pois foi um exemplo de jornalismo popular e lutou bravamente contra seu quinto câncer.

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Susana Naspolini, repórter da Globo, morreu aos 49 anos de complicações de um câncer no osso da bacia. A informação foi confirmada nesta terça-feira (25) pela filha dela, Júlia no Instagram oficial da mãe.

"Oi, amigos, Julia aqui. É com o coração doendo que venho contar pra vocês que a mamãe não está mais com a gente. Ela lutou muito, nossa guerreira! Agradeço muito pelas orações, muito mesmo, muito obrigada, mas infelizmente não deu", escreveu.

A jornalista estava internada em São Paulo há mais de uma semana e Júlia usou as redes sociais da mãe, na última sexta-feira (21) para pedir orações após Susana Naspolini apresentar piora em seu quadro clínico.

No início do vídeo, ela explicou que Susana Naspolini estava internada em um hospital de São Paulo há uma semana, pois o especialista que cuida de seu caso é de lá, mas que já vinha de diversas internações no Rio. Na sequência, ela disse que havia acabado de conversar com o médico e ele afirmou que não sabia mais o que fazer e nem se tinha algo a ser feito, pois a situação piorou muito.

"Ela tava com metástase no osso da bacia, já tinha se espalhado pra medula óssea desde julho", continuou Julia, dizendo que foi nessa época que Susana começou a fazer uma quimioterapia mais forte e perdeu os cabelos.

Renata Vasconcellos chorou ao vivo no Jornal Nacional desta noite após a notícia da morte ir ao ar. Vários jornalistas da Globo deixaram mensagens de apoio para Júlia, filha de Susana, entre eles: Fátima Bernardes, Ana Paula Araújo, Maria Gross e Márcio Gomes.

Ela era viúva do também jornalista Maurício Torres, que morreu em maio de 2014, aos 43 anos, de falência múltipla de órgãos decorrente de quadro infeccioso depois de ter uma arritmia cardíaca em um voo entre Rio de Janeiro e São Paulo. Eles tiveram uma única filha, Julia, que hoje tem 16 anos.

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