Publicado em 14/06/2020 às 05:00:00
Seis anos após ser demitido da Gazeta, Fernando Solera retornará à TV em grande estilo. O narrador esportivo aparecerá na Globo a partir deste domingo (14), no Esporte Espetacular, como convidado especial de uma série sobre os 50 anos da Copa do Mundo de 1970. O locutor participou da transmissão histórica, que marcou a conquista do tricampeonato mundial pela seleção brasileira.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Fernando Solera antecipou como foi voltar à televisão como homenageado, rótulo que ele prefere não adotar. "Não foi uma homenagem, é um fato histórico. Eu sou o único vivo de todos os locutores e comentaristas que participaram da Copa de 1970”, afirma o narrador de 87 anos.
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O Mundial do México foi o primeiro transmitido ao vivo para o Brasil, mas as quatro principais emissoras da época precisaram dividir o sinal do recém-inaugurado satélite da Embratel. Na Globo, Geraldo José de Almeida narrou com comentários de João Saldanha, técnico da seleção antes da Copa. A Tupi escalou Walter Abrahão em São Paulo e Oduvaldo Cozzi no Rio de Janeiro.
Band e Record uniram suas equipes e levaram, respectivamente, Fernando Solera como narrador e Leônidas da Silva, craque brasileiro da Copa de 1930, como comentarista.
Três locutores se revezaram na final, entre Brasil e Itália: Cozzi narrou a primeira metade do primeiro tempo (e o gol de Pelé); Abrahão ficou com o restante da etapa inicial (o empate italiano). Solera foi o sorteado para dar a emoção dos três gols restantes da seleção brasileira.
Para o pool de emissoras, Solera adaptou o bordão "o melhor futebol do mundo no 13", em referência ao número da Band no televisor, para "o melhor futebol do mundo no barbante deles". O narrador, que participava de sua primeira Copa, até hoje se impressiona por ter sido o escolhido para a final.
"Foi uma surpresa, entendeu? Porque até 1969 não se dizia uma palavra do que poderia acontecer com a televisão e com a Copa. Eu estava de férias de fim de ano, na praia, e a Bandeirantes foi me procurar. Não deu tempo de voltar das férias para discutir o esquema de transmissão”, recorda.
Após 25 anos na Band e uma passagem pela Record, Solera emendou outras duas décadas na Gazeta, até ser demitido no início de 2014. O locutor não guarda mágoas da emissora e enxergou a saída forçada como a oportunidade certa para se aposentar.
“Encerrei a carreira, já finalizei as atividades. Recebi propostas de rádio, mas ficou em uma palavra ou outra, sem confirmação. O país está em crise, o mercado está em crise… é hora de gente perder emprego, não conseguir emprego. Foram 56 anos trabalhando, muita coisa, né? A vida de narrador esportivo é muito bonita, tem momentos felizes, mas você não tem sábado e domingo livres, nem 31 de dezembro porque tem a corrida de São Silvestre”, analisa.
Recluso ao lado da mulher, Beatriz, Solera tem evitado sair de casa em função da pandemia do novo coronavírus, mas abriu uma exceção para ser homenageado pela Globo. O narrador revela ter sido convidado por Galvão Bueno, com quem trabalhou rapidamente na Band, antes de o colega ser a principal voz do esporte na TV brasileira.
"Não saio na rua. Estamos dentro de casa. Estou me cuidando, não tenho outra opção. Vieram buscar a gente aqui e depois me trouxeram. O Galvão me ligou e a gente gravou há dois meses. Já estava começando [a pandemia]. Falamos em cima da final”, antecipa.
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