É penta!

De prejuízo a Fátima Bernardes musa: a cobertura da Globo na Copa de 2002

Emissora exibiu todos os jogos do título da seleção brasileira

Ronaldo Fenômeno na Copa de 2002 - Foto: Reprodução
Por Redação NT

Publicado em 12/04/2020 às 08:00:00

A seleção brasileira pentacampeã do mundo voltará a jogar na tela da Globo neste domingo (12), a partir das 16h00. Sem futebol inédito por conta do novo coronavírus, a emissora vai reprisar a final da Copa do Mundo de 2002, no qual Ronaldo, Rivaldo e companhia derrotaram a Alemanha.

O canal fez uma extensa cobertura da competição naquele ano, tendo como protagonista a jornalista Fátima Bernardes, que deixou o status de âncora do Jornal Nacional para se tornar uma repórter especial do elenco da equipe canarinho. Ela viajou no ônibus do time verde e amarelo durante um mês e ganhou o apelido de “musa” da Copa.

A apresentadora acompanhou de perto os principais detalhes do torneio e seu desempenho rendeu elogios da imprensa por levar um jeito mais humanizado para cobertura, algo considerado diferente para os padrões Globo naquela época.

“Foi uma surpresa gigantesca. Acho que o meu período de convivência com os jogadores foi tão longo e intenso que acabou nos aproximando. Era uma convivência de parceria mesmo. Por isso o título de musa soou muito diferente para mim. Mas claro que achei o máximo, uma homenagem linda, retribuição a um trabalho respeitoso que foi feito durante mais de 40 dias”, contou Fátima ao jornal Extra em entrevista publicada no último sábado (11).

Como a Copa era no Japão e Coréia do Sul, o Jornal Nacional começava no horário em que os jogadores estavam iniciando os treinos, ou seja, ela levava informações quase que em tempo real e entrevistava a comissão técnica com frequência por causa do fuso horário.

“Vivíamos no horário de lá, para acompanhar os treinos, que aconteciam cedo, mas também no daqui, porque o “Jornal Nacional”, por exemplo, acontecia em um horário diferente. Era muito intenso. Quando acabava o JN, estava começando o treino da seleção. Mas não pensava muito nisso. Queria aproveitar e cobrir tudo, afinal, estava voltando a viajar após ter os meus filhos”, explicou Bernardes.

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Musa da Copa

Pagode, agitação e alegria. Esse era o resumo da seleção brasileira pentacampeã do mundo. Ronaldinho Gaúcho ficava com a responsabilidade de puxar o samba, enquanto os outros cantavam e batucavam em objetos do ônibus e Fátima Bernardes não foi poupada.

Ela acabou sendo colocada para sambar, cantou com jogadores e Ricardo Teixeira a chamou de “musa”, recebendo o apoio de Lúcio. “Vamos entregar aqui para musa da seleção brasileira”, disse o zagueiro, dando a taça da Copa do Mundo para a apresentadora segurar.

Como Fátima viajava de uma cidade para outra no ônibus da seleção, William Bonner iniciava o Jornal Nacional com a seguinte pergunta: “Onde está você, Fátima Bernardes?”. O bordão se popularizou em todo país e seguiu por outros dois mundiais.

“Foi completamente diferente do que inicialmente estava previsto. Porque a gente não mudava só de cidade, mas na mesma cidade, mudávamos o cenário do jornal várias vezes. O Jornal Nacional entrava no ar às oito da manhã de lá e eu acompanhava o ônibus da Seleção. Era uma Copa cigana mesmo, que nos permitiu a brincadeira: vamos correr para onde?”, relatou Fátima ao Memória Globo.

Pré Copa do Mundo

Antes da apresentadora viajar para a Ásia, ela comandou no Jornal Nacional um quadro intitulado de Família Scolari, apresentando diariamente o perfil de cada um dos jogadores convocados para a Copa do Mundo. Ronaldo Fenômeno, que voltava de uma contusão, foi escolhido para inaugurar a série.

O craque da seleção brasileira foi até os estúdios Globo e sentou na bancada do JN. Foi a primeira vez que um convidado sentou na bancada do telejornal mais importante da TV brasileira.

A cobertura da Copa do Mundo de 2002 teve 96 profissionais das áreas de jornalismo e engenharia enviados pela Globo, que ficaram cerca de 45 dias no Japão e Córeia do Sul. Ainda contou com 12 equipes de reportagens, sendo que seis viajaram entre os dois países.

Não ter prejuízo

A Globo comprou os direitos da Copa do Mundo por US$ 220 milhões e vendeu seis cotas de patrocínio a R$ 35 milhões, ou seja, não conseguiu pagar o Mundial, já que não conseguiu repassar parte dos direitos para outros canais – SBT e Band não quiseram comprar a competição na época.

O valor pago pela empresa surpreendeu, porque custava dez vezes mais do que pagou em 1998. Uma das poucas vantagens é que a emissora também adquiriu a competição de 2006, além de ter exclusividade para TV fechada, rádio e internet, além de poder transmitir os jogos do torneio até 2012.

Para diminuir o prejuízo, o canal lançou a revista Show de Gols, com um cupom que permitia a participação no sorteio de 300 automóveis. Ciro Bottini aparecia no Planeta Xuxa e realizava o sorteio ao vivo.

A sorte dos telespectadores começaram a valer a partir do dia 12 de maio e seguiram até o final da competição. A direção da emissora tinha expectativa que vender 20 milhões de revistas, que custavam cerca de R$ 3,00.

Xuxa ao vivo

Após a vitória da seleção brasileira, a Globo colocou no ar Planeta Xuxa ao vivo para comemorar a vitória da equipe canarinho. Cheia de bom humor, a apresentadora apelidou aquela edição de Planeta Penta e todos os convidados, além da plateia, usaram verde e amarelo.

As assistentes de palco ficaram balançando bandeiras no cenário e a loira fazia questão de mencionar a vitória do Brasil. Nos intervalos do programa, a Globo colocava os gols da equipe de Felipão que levaram o país ao pentacampeonato.

Mas Xuxa não foi a única que comemorou o título. O Domingão do Faustão também teve uma edição especial e o apresentador Jô Soares aceitou reviver por um dia o Zé da Galera, personagem que fez muito sucesso no Viva o Gordo durante a Copa de 1982.

Audiência da Copa do Mundo

Mas se a Copa do Mundo não foi um sucesso comercial, em termos de audiência os números foram expressivos, principalmente por ser em horários que fugiam da faixa tradicional de jogos.

A final entre Brasil e Alemanha obteve 67 pontos e participação de 91%, com pico de 69 de média. Entretanto, o confronto não atingiu o recorde da competição, que ficou nas mãos das partidas da seleção brasileira contra a Turquia, na semifinal, e a goleada em cima da China na primeira fase.

Nessas duas ocasiões, a Globo alcançou uma média de 69 pontos e cada ponto correspondia a 47 mil domicílios em 2002 – esses índices representam apenas a Grande São Paulo, principal praça de medição do Ibope.

De acordo com a notícia da Folha de S. Paulo, publicada em 30 de junho, a Globo não esperava recorde de audiência na final. A justificativa era que a decisão reúne grandes grupos de pessoas em um lugar só, o que diminui o número de televisores ligados.

As quartas-de-final, contra a Inglaterra, teve média de 65 pontos – o confronto ocorreu de madrugada. A estreia contra a Turquia, a emissora atingiu 64, enquanto as oitavas-de-final chegou a 68 pontos.

A menor audiência acontece contra a Costa Rica, que consolidou com 56 de média. Na época, a Globo informou que a “baixa” audiência ocorreu pelo horário – o confronto aconteceu às 3h30 – e o Brasil estava classificado por antecipação.

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