Publicado em 18/12/2019 às 10:50:00
O presidente Jair Bolsonaro, através do MEC, não renovou o contrato de gestão da TV Escola e há profissionais que não estão satisfeitos com a decisão do governante. A ACERP (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto) se manifestou publicamente nesta quarta-feira (18) explicando os motivos sobre a não renovação desagrada a classe.
“Desde que esses fatos se tornaram públicos, 367 famílias vivem momentos de angústia e medo”, iniciou. “Não medimos o sucesso de nossa programação por meio de índices de audiência. Esse nunca foi um parâmetro. O que nos orienta é a certeza da utilização de nossos programas em salas de aula; em cursos de formação de professores e em outras iniciativas voltadas à capacitação de estudantes e profissionais de educação”, explicou.
A associação afirma que o trabalho deles é para que a educação no Brasil seja de qualidade e possa ter todos os tipos de debate em alto nível. “Estamos alinhados em defesa de uma educação pública de qualidade, que seja laica, inclusiva e democrática!”, declarou no comunicado.
A ACERP enxerga que a educação é uma forma do país se desenvolver como sociedade, extinguindo as desigualdades e os preconceitos. “Entendemos que só o investimento em educação pode garantir que o Brasil cresça e que nossa sociedade se torne mais justa. Nesse sentido, a TV Escola é uma contribuição fundamental, sobretudo em municípios que não possuem recursos ou estrutura para promover iniciativas de formação continuada de professores”, defendeu.
Por fim, eles declararam que lutarão para que a educação do país melhore. “Essa luta não é apenas nossa. Todo o Brasil deveria se preocupar quando instituições como essa que representamos se vêem ameaçadas”.
Confira a nota na íntegra abaixo:
“NÓS DEFENDEMOS A TV ESCOLA, A TV INES E A CINEMATECA BRASILEIRA NA ACERP
Nós, funcionários e funcionárias da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, a ACERP, reunidos em assembleia, vimos a público manifestar apreensão pelas últimas notícias que, desde sexta-feira, 13/12, dão conta da não renovação, pelo MEC, do contrato de gestão da TV Escola. Desde que esses fatos se tornaram públicos, 367 famílias vivem momentos de angústia e medo.
A Roquette Pinto é a instituição responsável pela produção e operação da TV Escola desde o lançamento do canal, em 1996. Há décadas a ACERP carrega o legado do educador Edgard Roquette-Pinto, e tem um histórico compromisso com a democratização do acesso ao conhecimento e a defesa da educação pública do país. Um compromisso que também é de todos e todas nós.
Ao longo de mais de 20 anos de existência, a TV Escola sempre se pautou pela pluralidade de ideias e pela qualidade de seus programas, muitos premiados no exterior. A atenção às necessidades de nosso público também fez com que o canal investisse em acessibilidade: com recursos de closed caption (legenda oculta), audiodescrição e tradução em LIBRAS. Tudo isso é fruto da expertise desenvolvida pela equipe da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.
Não medimos o sucesso de nossa programação por meio de índices de audiência. Esse nunca foi um parâmetro. O que nos orienta é a certeza da utilização de nossos programas em salas de aula; em cursos de formação de professores e em outras iniciativas voltadas à capacitação de estudantes e profissionais de educação.
Estamos alinhados em defesa de uma educação pública de qualidade, que seja laica, inclusiva e democrática!
Reafirmamos nosso total respeito aos educadores, educadoras, alunos e alunas deste país, que há mais de 20 anos acompanham e contam com a nossa programação para divulgar as inúmeras experiências bem-sucedidas em curso nas escolas públicas brasileiras; bem como na divulgação e nas discussões acerca das políticas públicas de educação implementadas no país.
Entendemos que só o investimento em educação pode garantir que o Brasil cresça e que nossa sociedade se torne mais justa. Nesse sentido, a TV Escola é uma contribuição fundamental, sobretudo em municípios que não possuem recursos ou estrutura para promover iniciativas de formação continuada de professores.
Também expressamos nossa preocupação com o futuro da TV INES, a única emissora voltada para a comunidade surda do país – com programação em LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais. Não há garantias de que o contrato de prestação de serviço para gestão da TV INES se manterá sem o suporte da TV Escola, uma vez que os dois canais compartilham a estrutura física, equipamentos e equipes, em diversas áreas.
A Cinemateca Brasileira, também gerida pela ACERP, é outro patrimônio brasileiro ameaçado. Lá, desenvolvemos um precioso trabalho de recuperação e digitalização de um rico acervo da cinematografia brasileira.
A não renovação do contrato de gestão da TV Escola com a ACERP compromete todas essas atividades. Atinge frontalmente nosso compromisso histórico de contribuir para a melhoria da qualidade da educação nas escolas do país. Atinge igualmente a possibilidade de construirmos uma sociedade na qual surdos e ouvintes tenham acesso à informação e à cultura. E atinge, também, a preservação da memória do cinema e da cultura brasileiros.
Essa luta não é apenas nossa. Todo o Brasil deveria se preocupar quando instituições como essa que representamos se veem ameaçadas.
Funcionários da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, em assembleia”
No dia 13 de dezembro, o contrato com a associação responsável por gerir a TV Escola desde 1995 não foi renovado. O Ministério da Educação declarou que estuda a possibilidade das atividades da emissora ficarem nas mãos de outra instituição da administração pública.
O presidente Jair Bolsonaro explicou que a renovação de contrato custaria aos cofres públicos cerca de R$ 350 milhões. “Quem assiste a TV Escola? Ninguém assiste. Dinheiro jogado fora”, declarou.
O político disse que a instituição seguia a ideologia de esquerda, promovendo discussões sobre ideologia de gênero e não acrescentava para o desenvolvimento da educação do país.
“Era uma programação [da TV Escola] totalmente de esquerda, ideologia de gênero, dinheiro público para ideologia de gênero. Então, tem que mudar”, falou o presidente.
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