Publicado em 14/10/2019 às 18:01:00
O filme Central do Brasil (1998), de Walter Salles, vai ao ar nesta segunda-feira (14) na Tela Quente, em comemoração aos 90 anos de Fernanda Montenegro. Na história, ela é Dora, uma professora aposentada que escreve cartas para analfabetos, cuja amizade com o menino Josué (Vinícius de Oliveira) encantou o mundo. Por sua atuação, a veterana se tornou a primeira - e, até hoje, a única - brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz. A produção também foi nomeada pela Academia como melhor filme estrangeiro, em 1999.
Esses, contudo, foram apenas alguns dos feitos conquistados por Central do Brasil e por Fernanda Montenegro, a estrela-maior do longa. Não à toa, será a primeira vez que a Tela Quente exibe um filme com mais de 20 anos. Além da aclamação internacional, a produção ressignificou o cinema brasileiro junto ao grande público e marcou o início da “retomada”, período em que o país voltava a investir na sétima arte.
Confira, a seguir, cinco curiosidades que você provavelmente não sabia sobre Central do Brasil:
A gênese de Central do Brasil está em Socorro Nobre, documentário de Walter Salles lançado em 1995. O curta-metragem leva o nome de uma mulher injustamente presa pela morte de seu irmão, que passou sete anos na cadeia escrevendo cartas para outras detentas. A história real de Maria do Socorro Nobre chegou ao diretor de cinema, que vislumbrou no drama daquela mulher os dois projetos para a telona.
Socorro é a primeira personagem a aparecer em Central do Brasil, como uma das pessoas que dita cartas a Dora. "Querido, meu coração é seu. Não importa o que você tenha feito, eu te amo. Esses anos todos que você vai ficar trancado aí dentro, eu também vou ficar trancada aqui fora, te esperando", dita Socorro em sua breve passagem.
Assim como a de Socorro, algumas das cartas ditadas no início de Central do Brasil são depoimentos reais. E, ao contrário do que fazia Dora, o diretor Walter Salles fez questão de encaminhá-las aos Correios. Um dos relatos é o de José Ferreira da Silva. Ele fala sobre o sumiço do filho, que, quatro anos antes, saiu de Arcoverde, em Pernambuco, para morar em Castanhal, no Pará.
O rapaz assistiu a Central do Brasil no único cinema da cidade em que vivia e reconheceu o pai na telona. Graças àquela participação e à carta recebida, João resolveu visitar José, com quem passou o fim de 1998. Naquele ano, a história foi contada em reportagem da Revista Época. A matéria de Jorge Pontual também revelou o forte impacto do filme em localidades pobres do Nordeste que serviram de locação para as filmagens.
O diretor Walter Salles realizou testes com aproximadamente 1,5 mil meninos para o personagem Josué. O escolhido, Vinícius de Oliveira, então aos 11 anos, foi garimpado em um aeroporto do Rio de Janeiro, onde trabalhava como engraxate. Assim que o conheceu, Salles fez o convite, o que gerou desconfiança na mãe do garoto. O cineasta precisou voltar ao aeroporto, acompanhado de sua equipe, para insistir na proposta.
Sem nunca ter tido qualquer contato com artes cênicas, Vinícius brilhou na pele do garoto que perde a mãe e conta a ajuda da nova amiga para procurar o pai. O sucesso o rendeu um convite para a TV: fez sua estreia na novela Suave Veneno (1999), em que contracenou com Glória Pires.
Vinícius de Oliveira nunca abandonou a carreira. Atualmente, ele pode ser visto no elenco das séries Sintonia, na Netflix, e Segunda Chamada, na Globo.
Ao assistir a Central do Brasil, é possível notar certa progressão nos planos e enquadramentos. O diretor de fotografia Walter Carvalho revelou detalhes da construção da imagem cromática do filme em entrevista à F. de São Paulo, no ano passado. Segundo ele, a fotografia acompanha a trajetória de descoberto do afeto entre Dora e Josué.
Para as primeiras cenas, Carvalho optou por “apertar” os quadros, utilizando lentes mais fechadas para representar o enclausuramento dos personagens em seus próprios mundos. À medida em que Dora e Josué se aproximam, nota-se a abrangência panorâmica das lentes - assim como os personagem se abriam à nova relação.
Na entrevista, Walter Carvalho revelou ainda ter dispensado filtros de efeitos e vernizes, a fim de realçar a paisagem ampla e árida do Brasil profundo.
As derrotas no Oscar 1999 ainda são uma amarga lembrança para os fãs do filme. Fernanda Montenegro perdeu a estatueta de melhor atriz para a jovem Gwyneth Paltrow (de Shakespeare Apaixonado), enquanto o italiano A Vida é Bela, de Roberto Benigni, levou o prêmio de melhor filme estrangeiro.
Já as vitórias de Central do Brasil em outras premiações nem sempre são lembradas. O longa levou o Globo de Ouro - possivelmente, o segundo prêmio mais importante do cinema nos Estados Unidos - e também saiu vitorioso em importantes festivais pelo mundo, como o de Berlim, em que levou o prêmio máximo, o Urso de Ouro.
Assista à entrevista de Vinícius de Oliveira ao Fantástico, em 1999, sobre o Globo de Ouro:
A repercussão alçou Fernanda Montenegro ao posto de estrela internacional. Um momento memorável dessa época foi sua entrevista ao apresentador David Letterman, um dos maiores nomes da TV norte-americana, a quem a brasileira se apresentou como “The old lady from Ipanema (a velha senhora de Ipanema)”, arrancando risadas da plateia.
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