Luto no jornalismo

Bacci, Datena, Cabrini, Chris Flores e Patrícia Maldonado: O adeus a Paulo Henrique Amorim

Paulo Henrique Amorim morreu nesta quarta-feira (10), vítima de um infarto

Fotos: Divulgação
Por Sandro Nascimento

Publicado em 10/07/2019 às 12:10:50

Vítima de um infarto, o jornalista Paulo Henrique Amorim,76, morreu na madrugada desta quarta-feira (10) em sua casa na zona sul do Rio de Janeiro. Ainda não existe confirmação para o horário do velório. 

Dono dos famosos bordões "Boa noite e boa sorte!" e "Plá, tudo bem?", PHA, como também era conhecido, trabalhou em inúmeros veículos de comunicação. Na Globo, ficou por 11 anos e foi apresentador e correspondente em Nova Iorque. Em 1996, assumiu por dois anos a bancada do "Jornal da Band". 

Em seguida, Paulo Henrique Amorin teve passagens por UOL, TV Cultura e IG. Em 2003, foi contratado pela Record e até junho apresentava o "Domingo Espetacular".

Ao NaTelinha, Roberto Cabrini, José Luiz Datena, Patrícia Maldonado, Luiz Bacci e Chris Flores falaram sobre sua relação com Paulo Henrique Amorim e o legado que ele deixa para o jornalismo.

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Roberto Cabrini

Ele foi sem dúvida um dos maiores ícones, uma da poucas pessoas que poderia comandar qualquer projeto na televisão. Poucas pessoas no telejornalismo têm condição de comandar um projeto e ser um fator relevante. Ele era uma dessas pessoas, numa lista de poucas pessoas.

No meio como o nosso, onde repórteres são produzidos em série, com a mesma entonação, mesmo tipo de texto, abordagem, ele era um cara de estilo próprio, abordagem própria, pensamento próprio. Claro que isso causava a ele alguns problemas, mas você podia concordar ou discordar da posição política dele, mas jamais ignorar, porque ele era um cara brilhante. Paulo Henrique Amorim era um dos caras mais carismáticos, arrojados...Eu tive uma convivência bem grande com ele quando éramos correspondentes em Nova York, e era impressionante como ele vibrava com um furo de reportagem, com a notícia, com o dia a dia do telejornalismo. Era um caçador de grandes matérias, era brilhante nisso, foi um dos correspondentes mais importantes, mais icônicos. Não tem substituto, o estilo dele é único.

Paulo Henrique Amorim trilhou um caminho único, e a versatilidade dele era tão grande, que até quando ele fazia narração daquele segmento de animais na Record, ele dava o toque humorístico dele, era versátil, brilhante, criativo, ele era um desses caras especiais que o jornalismo cria de tempos em tempos.

José Luiz Datena

O Paulo era um cara que eu admirava muito e que eu convivi durante um tempo na Record. Ele sempre me tratou com muito carinho, de uma forma muito legal. A gente perde um grande jornalista, que vai fazer falta.

Ele era um cara que sempre jogava a gente pra cima, tinha uma forma bem parecida com o Boechat. A gente se encontrava e ele te jogava pra cima: "Datenão, vi lá o seu programa ontem, gostei daquela reportagem". Era um cara que ajudava as pessoas que estavam começando, sempre me ajudou, me apoiou. Sempre tive o maior respeito por ele.

A gente perde um jornalista de primeira qualidade, infelizmente as pessoas estão indo. Um espaço que dificilmente vai ser ocupado. Ele devia estar vivendo um momento difícil, tava afastado da Record, mas enfim, são os tempos atuais. Quando você fala o que pensa, cada vez mais prova pra mim que não existe liberdade de expressão no Brasil porcaria nenhuma. Nao só no Brasil, lugar nenhum, esse negócio de imprensa livre não existe, vai até determinado momento. Quando você fere o interesse de alguém, apertam o botãozinho e tiram você do ar. É assim que funciona, pra todos nós...

Patrícia Maldonado

Paulo Henrique foi determinante na minha carreira. Foi ele que me escolheu para apresentar o Tudo a ver e, a partir desse programa, minha vida profissional deslanchou. Ele me ensinou a rir no ar, chorar se fosse o caso. Me ensinou a ser natural numa época em que os jornalistas não eram naturais. Ele era. Sempre foi. A frente do seu tempo. O jornalismo perde uma referência hoje. Eu perco um mentor, um professor, um amigo.

Luiz Bacci

Na festa de lançamento da programação da Record em 2014, logo após minha estreia no Balanço Geral, eu estava ainda deslocado pois havia acabado de chegar do Rio de Janeiro para começar essa nova etapa em São Paulo. E não esquecerei e serei grato pela forma carinhosa com que Paulo me abordou, me acolhendo como colega de trabalho e vibrando pelos primeiros resultados. Achei muito humilde da parte dele essa atenção toda comigo nos bastidores. Paulo tinha a essência do jornalismo: a reportagem. Nunca deixou de lado a importância de ir atrás da notícia e manter as fontes de informação. Vai deixar saudade.

Chris Flores

O que ficou na minha memória é impressionante a vontade de dar furo de reportagens, de fazer coisas importantes e criar, e de não ficar acomodado. Ele era uma pessoa que lutava contra a acomodação, ele não podia jamais concordar em ficar na zona de conforto, tinha sempre que criar alguma coisa diferente. E ele criava coisas diferentes.

Politicamente podia concordar ou discordar das visões dele, mas jamais ignorar, porque ele era um cara brilhante em suas exposições, em tudo que ele fazia. Se você pegar os 10 principais nomes da historia do telejornalismo brasileiro, ele com certeza está nessa lista.

Paulo Henrique Amorim trilhou um caminho único, e a versatilidade dele era tão grande, que até quando ele fazia narração daquele segmento de animais na Record, ele dava o toque humorístico dele, era versátil, brilhante, criativo, ele era um desses caras especiais que o jornalismo cria de tempos em tempos.

Aprendi demais com ele, se estou hoje na televisão é graças ao Paulo Henrique. Eu trabalhava em redação, trabalhava na revista Contigo e ele precisava de alguém para fazer colunismo de televisão, celebridades no Tudo a Ver e ele me chamou para conversar.

Ele me chamou para conversar, foi maravilhoso. Quando ele me chamou, achei que era pra ajudar encontrar uma pessoa que formasse o quadro, porque conhecia a diretora que tinha trabalhado comigo na Editora Abril. E quando cheguei na reunião, ele falou: é você que vai trabalhar comigo. Eu falei: "não, pelo amor de Deus, não quero trabalhar em televisão, eu gosto de escrever". Ele olhou pra minha cara e disse que eu falou: "você parece uma professora de geografia falando de fofoca. Todo mundo vai acreditar na sua fofoca". Ele criou o nome Chris Flores. Eu assinava como Cristiane Flores. Ele falou: "Cristiane Flores não, Chris Flores!".

Ele brigava desde cedo, desde às 6h: "o que vai acontecer, o que vamos ter hoje no jornal?". Eu falava, pelo amor de Deus, Paulo, celebridade não acorda esse horário. Só depois das 10h que vou te dar mais ou menos...

Ele criou um manual de redação para o jornal que é espetacular, que guardo até hoje. São muitos ensinamentos de como se portar, escrever , o que falar, como se vestir, era uma aula de jornalismo diário. As broncas que levávamos eram construtivas. Aprendi a fazer link com ele. Nem sabia o que tava fazendo. Ele falou: "senta aqui que vou te explicar o que é um link". Ele fazia crítica construtiva porque queria o melhor pro telespectador. Era um professor da vida. Encontrei com ele no começo do ano viajando, sem querer se esbarrou. Foi uma delícia. Pude homenageá-lo no chapéu do Raul Gil. Falei tudo que sentia por ele, minha gratidão. Ele viu e escreveu: "não mereço tudo isso". Fora do ar ele era muito engraçado. Era ótimo estar com ele.

Eu posso te dizer em uma palavra o que era Paulo Henrique: um gênio. Ele era criativo, bem humorado e um grande jornalista. Só posso levar isso de legado. O jornalismo não pode morrer. Temos que respeitar as opiniões, ouvir todos os lados, mas acima de tudo entender que o jornalismo é necessário.

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