Publicado em 26/03/2019 às 09:02:15
O jornalista Renê Astigarraga, de 64 anos, está de saída da Globo. Na emissora desde 1987, ele irá se aposentar. Há 16 anos, atuava como diretor de jornalismo em Minas Gerais.
Segundo apurou o NaTelinha, quem entra em seu lugar é o jornalista Marcelo Moreira, que atualmente estava no portal de notícias G1. Procurada, a emissora confirma a informação.
Marcelo foi um dos responsáveis por criar a campanha "Fato ou Fake", projeto da Globo que combatia as fake news nas eleições de 2018. Além disso, atuou também como editor-chefe do "RJTV2" entre 2008 e 2013, e ajudou na cobertura das Copas do Mundo de 2010 e 2014, além das Olimpíadas do Rio em 2016.
Há 32 anos na casa, Renê Astigarraga trabalhou nos principais jornais da rede, como "Jornal da Globo", "Jornal Hoje" e "Jornal Nacional". Neste último, ficou até o ano de 2003, onde foi editor de notícias internacional e editor, cobrindo inúmeros fatos importantes.
Saiu do "JN" para assumir a Globo em Minas, sendo responsável pelos telejornais locais e por programs de reportagem, como o "Terra de Minas". Sua última grande cobertura foi a tragédia de Brumadinho, ocorrida dois meses atrás. O NaTelinha apurou que a saída de Renê partiu dele, com o desejo de deixar o jornalismo.
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Vale ressaltar que, nos últimos meses, a Record tem ganhado espaço na audiência em horários locais de jornalismo. Segundo divulgou a Record TV Minas, entre os dias 14 e 20 de março, por exemplo, o "Balanço Geral MG", apresentado por Mauro Tramonte, foi líder com 11,1 pontos de média.
Marcelo chega com a missão de modernizar o jornalismo da emissora, que é criticado nas redes sociais por insistir numa linguagem antiga e mais distante do telespectador.
Para homenagear o colega, o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, fez um extenso comunicado interno, celebrando a carreira do colega e detalhando que o próprio Renê pediu a dispensa.
No início do mês, Renê Astigarrada me chamou ao telefone para dizer que precisava conversar comigo. Depois de uma cobertura gigantesca e irretocável da tragédia de Brumadinho, não intuí o assunto. Em visita ao Rio, dia 11 passado, Renê foi gentil e amável como sempre e me disse que, depois de 40 anos de jornalismo e aos 63 anos de idade, decidiu se aposentar. Com filhos criados e formados e com trajetória profissional já brilhante, decidiu se dedicar mais à Silvia, sua mulher, na linda casa que construiu em BH. Para mim, esse tipo de decisão sempre provoca uma mistura de sentimentos: de um lado, sinto de imediato a falta que sentirei de um companheiro de um profissionalismo ímpar; de outro, fico feliz porque percebo que o desejo é justo e genuíno.
Na nossa conversa, rememoramos a trajetória de sucesso dele na Globo. Gaúcho de Porto Alegre, formado na PUC, depois de alguns anos numa editora de revistas, decidiu que queria trabalhar em televisão. E tinha que ser na Globo, ele me contou. Mas começou na extinta TV Manchete. O Colégio Eleitoral, a doença de Tancredo e a posse de Sarney foram as primeiras grandes coberturas. Mas ele não desistiu da Globo. Mesmo estando bem empregado, aceitou um trabalho temporário de três meses no Jornal Hoje. Logo, foi chamado para o JN. Nunca mais saiu.
Editor de Internacional, Editor de Esporte, Editor de Política, Editor Executivo. Passou por todos os telejornais da casa. Dos programas, só não fez o Globo Repórter. Em 1988, estava na equipe de retaguarda nas madrugadas dos Jogos de Seul. Fez parte também das redações especiais na emissora das Copas da Itália e do tetra nos Estados Unidos. Em 1998, esteve com a seleção brasileira na França. Na Copa da Coréia e do Japão, em 2002, usou o fuso horário como vantagem para cuidar da cobertura do Penta na Redação do Jornal Nacional.
Mas viveu mesmo as grandes emoções do Jornalismo no calor dos fechamento do JN. Foram doze anos como Editor Executivo. Estava lá nas guerras do Iraque e do Golfo, nas Torres Gêmeas, no Tsunami na Ásia, na morte de Jean Charles em Londres, nas muitas Campanhas Eleitorais. Em 2003, destaco a brilhante edição de uma série sobre as Fronteiras do Brasil. Ela deu ao Jornal Nacional o Prêmio Rei de Espanha, um dos mais importantes do Jornalismo Internacional.
E naquele mesmo 2003 veio o convite para cuidar do Jornalismo na Globo Minas. Era mais um reconhecimento do talento de Rene. Um desafio dos grandes e dos bons. Trocar o foco da Rede para o Local demandou um mergulho na alma da peculiar e exigente audiência mineira. Nessa jornada de dezesseis anos em solo mineiro, lembro as edições ao vivo do Terra de Minas nas principais cidades históricas do estado. O Mensalão do PT, em 2005, foi marcado pelas entrevistas exclusivas com Marcos Valério, um furo nacional (eu mesmo me desloquei para BH para ajudar o Renê na empreitada). Em 2007, um dia inteiro ao vivo para marcar em todos os jornais Locais e de Rede os 110 anos de Belo Horizonte. Impossível deixar de registrar a exaustiva cobertura do Caso Bruno. As violentas manifestações na Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014 foram outros marcos. O glass studio foi um marco naquela cobertura. Nem o trágico 7x1 no Mineirão apagou o brilho da atuação da equipe da Globo Minas.
Corria 2015, começo de novembro. A barragem do Fundão, em Mariana, se rompeu e um mar de lama cobriu distritos e escorreu pelo Rio Doce até o mar, no Espírito Santo. A cobertura dessa tragédia deu à equipe da Globo Minas uma experiência como nunca tinha imaginado, com a liderança sempre segura de Rene. No ano passado, outra empreitada inédita: cobrir uma semana de greve de caminhoneiros que parou o País. E, em janeiro deste ano, nossa experiência em grandes tragédias foi novamente desafiada. A barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, explodiu matando mais de 300 pessoas. Uma cobertura que uniu informação, tristeza, indignação e solidariedade. Mais uma cobertura brilhante de BH com a assinatura de luxo de Renê.
Na nossa conversa, Renê disse mais ou menos assim: “Minha carteira de trabalho foi assinada num primeiro de abril. O dia da Mentira. Agora, tantos anos depois, a verdade: é hora de parar e descansar.”
Diante de uma trajetória como a de Renê, como discordar, como protestar? Ele merece seguir os seus sonhos. A mim, em nome da TV Globo, cabe agradecer a ele pelos anos de profissionalismo e reconhecer o seu imenso talento. Muito obrigado, Renê.
Para o lugar de Renê, convidei o companheiro Marcelo Moreira, atualmente no G1. Tenho a certeza de que será um substituto à altura, com garra, entusiasmo e dedicação.
Começou no jornalismo aos 18 anos, como estagiário do jornal Folha Dirigida, no Rio de Janeiro. Em 1990 entrou para o jornal O Dia, ainda estagiário. O primeiro emprego profissional foi como repórter da madrugada no jornal A Notícia. Em 1992 ainda na madrugada foi contratado pelo Jornal do Brasil.
No JB ficou nove anos. E começou a se destacar com matérias investigativas sobre crime e corrupção no Rio de Janeiro.
Em 1996, com a matéria “O Cartel dos ônibus”, denunciou o grupo de empresários liderados por Jacob Barata e José Alves Lavouras, que controlavam o transporte do Rio desde os anos 60. A reportagem provocou uma investigação do Ministério da Justiça e forçou o início de estudos para o reordenamento das linhas de ônibus na cidade. Os mesmos personagens que hoje povoam a Lava Jato do Rio.
Em 1997 foi vencedor do prêmio da Confederação Nacional de Transportes, na categoria principal com a reportagem “O Metrô mais caro da terra”. A matéria mostrava que o custo do quilômetro para construir o metrô do Rio era o mais alto do planeta.
Em 1998 cobriu sua primeira Copa do Mundo, na França. Fez parte da equipe que contava com Oldemário Toguinhó, Luiz Fernando Veríssimo e Artur Xexéo.
Entrou para a TV Globo em 1999 como chefe de produção da Editoria Rio, convidado por César Seabra. Em seis meses passou a chefe de reportagem onde ficou por oito anos. Em 2001 chefiou a equipe liderada pelo saudoso e brilhante Tim Lopes, vencedora do primeiro prêmio Esso de Telejornalismo com a reportagem “O Feirão das Drogas”. E, como todos nós, participou sofrida cobertura do brutal assassinato do companheiro querido. Uma cobertura que foi um divisor de águas.
Em 2008, convidado por Renato Ribeiro, foi promovido a Editor-Chefe do RJTV Segunda-Edição. E foi nesta função que participou da cobertura da ocupação do Morro do Alemão em 2010. A cobertura da Editoria Rio, então liderada por Erick Bretas, Marcio Sternick e Carlos Jardim, foi vencedora do Emmy e entrou para a história do nosso jornalismo.
Em 2010 cobriu a terceira Copa do Mundo, na África do Sul, como chefe de reportagem da equipe de repórteres que cobriu a Seleção Brasileira.
Em 2013, convidado por Miguel Athayde, chefiou a equipe do núcleo de reportagens especiais na Editoria Rio, onde ficou responsável pela integração com o Esporte e a preparação do Rio para a Copa do Mundo no Brasil e os jogos olímpicos de 2016.
Depois dos jogos se licenciou da Globo para estudar em Michigan, como fellow na Knight Wallace House, da Universidade de Michigan, onde estudou o futuro das mídias digitais, liberdade de expressão e os movimentos dos Direitos Civis nos Estados Unidos.
De volta à Globo no ano passado Marcelo fez parte da equipe que criou o Fato ou Fake. No início deste ano, convidado por Márcia Menezes, passou a fazer parte do time do G1, como coordenador do Fato ou Fake e cuidando da integração do portal com a TV.
Marcelo foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. A Abraji foi criada em 2003 e tem como objetivo garantir a liberdade e a melhoria do trabalho dos jornalistas no Brasil. Em 2013, como presidente da entidade, foi premiado na principal categoria do prêmio “Faz Diferença” do jornal O Globo. O projeto que inspirou o prêmio foi uma contagem de todas as agressões sofridas por jornalistas nas manifestações de 2013.
Desde 2006 Marcelo, a meu pedido, representa a TV Globo no board do International News Safety Institute, entidade sediada na Inglaterra que promove políticas de segurança para jornalistas em áreas de risco. Pelo INSI coordenou treinamentos de segurança para mais de 500 jornalistas em todo o Brasil e em todas as regionais da TV Globo, ajudando a reforçar uma cultura de segurança na profissão.
Com uma trajetória assim, eclética e brilhante, certamente vai liderar BH com mão segura e criativa. Fará um jornalismo local brilhante, ágil, ligado à comunidade, solidário com ela. Os mineiros se verão ainda mais na tela da Globo. Tenho alegria de dizer aos companheiros de BH que vão encontrar em Marcelo um diretor aberto, que sabe ouvir e liderar. E tenho alegria de dizer ao Marcelo que os companheiros de BH o receberão de braços abertos.
Desejo ao Renê que realize seus sonhos. Desejo ao Marcelo que tenha sucesso e êxito.
Parabéns aos dois.
Ali Kamel.
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