A Band não possui mecanismos profissionais de governança; nem sabe o que é
Publicado em 12/02/2019 às 13:01:39
A reunião do conselho da Band ocorrida na última quinta-feira (07), composta por cinco membros da família Saad, decidiu com o placar de 3 a 2 pelo afastamento do seu atual presidente, Johnny Saad. Contra sua permanência votaram as três irmãs, Márcia, Marisa e Maria Leonor, e a favor, os outros acionistas, Ricardo Saad e ele próprio.
De acordo fontes ouvidas pelo NaTelinha, antes de registrar a decisão na ata do conselho, Johnny teria alegado um problema de saúde, deixando o local e motivando o encerramento antecipado do encontro.
Mesmo com a maioria do conselho optando pela sua saída, o atual presidente continuará exercendo o cargo. Ele está amparado por uma decisão favorável dada pelo juiz Eduardo Pellegrinelli, do dia 4 de fevereiro, em resposta à tutela de urgência incidental, pedida pela três irmãs sócias do Grupo Bandeirantes.
Pellegrinelli alegou que deve se respeitar acordo de acionistas assinado em 2014, e que o mérito do tema precisa ser julgado na arbitragem, como determina o documento. O acordo concede a João Carlos Saad, conhecido como Johnny Saad, um mandato à frente da Band até 2026.
Porém, segundo fontes em conversa com o NaTelinha, o pedido ao juiz foi para que Johnny Saad não pudesse presidir a reunião do conselho onde a pauta era seu próprio afastamento, e que além disso, era para que seu voto não fosse computado por "conflito de interesse".
A maior crítica referente a decisão entre pessoas interessadas que acompanham este imbróglio, seria o fato de Eduardo Pellegrinelli não ter analisado o pedido central das autoras e insistir sobre a lentidão em uma ação arbitral. "Entretanto, o descontentamento das autoras em muito deve ser atribuído à sua própria inércia, eis que a presente ação foi ajuizada no dia 11/09/2018 e o requerimento de instauração do procedimento arbitral apenas foi formulado em dezembro, pelo corréu João", disse no documento.
O acordo assinado prevê uma cláusula de arbitragem em caso de conflito na Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC). Contudo, a situação da Band é vista entre a família como algo de extrema emergência e entendem que uma discussão arbitral pode levar até cinco anos. O maior temor gira em torno da saúde financeira da empresa não resistir até essa data.
Outra justificativa para Márcia, Marisa e Maria Leonor Saad não terem entrado com a ação arbitral seria o fato delas ainda não terem recebido uma série de documentos da Band, já solicitados, fundamentais para a propositura desta ação. Estes problemas estariam ocorrendo mesmo com outra decisão da Justiça, onde garante o acesso irrestrito dos conselheiros a todas as informações administrativas do Grupo Bandeirantes.
Porém, com sérias acusações e baseado em inúmeras provas juntadas pela família, uma outra ação cautelar de afastamento de Johnny Saad corre nos tribunais em 1ª instância, para assegurar a decisão de uma assembleia realizada em dezembro. A previsão é que o julgamento, feito por três desembargadores, ocorra em alguns meses. Em paralelo a isso, Johnny Saad entrou com sua uma arbitragem na Câmara de Comércio Brasil-Canadá.
A Band não possui mecanismos profissionais de governança; nem sabe o que é
Executivo ouvido pela reportagemcontinua depois da publicidade
O NaTelinha apurou que não existe nenhuma proposta de condições para a permanência do atual presidente do grupo, em busca de um entendimento. O afastamento de Johnny Saad é visto como o pilar para iniciar a reestruturação da Band. Ao seu lado, também surge o nome do vice-presidente executivo, André Aguera, e mais dois diretores. A intenção é afastar essas pessoas para que seja feita uma auditoria sem influências.
Não há clima para acordo. Esses pontos são considerados inegociáveis pela família Saad, que busca a profissionalização da emissora, disseram pessoas envolvidas. A explicação para isso, é que não se trata de uma disputa de poder para substituir um membro por outro no comando da presidência da Band. Mas a tentativa da sua administração passar a ser realizada por profissionais de TV, ter conselheiros independentes, inserir processos de gestão, ser transparentes e que as decisões ocorram de maneira técnica. Afastando desta tarefa sócios e herdeiros.
"Qualquer empresa do mercado possui esses mecanismos de governança, mas até hoje a Band não sabe o que é", disse um executivo à reportagem.
A análise que o site ouviu é que a Band não se preparou para o futuro da mídia no país e tem uma governança estagnada nos anos 90, onde só haviam quatro emissoras para disputar o bolo publicitário e hoje não existiria um projeto e nem metas de faturamento.
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Repartida em 20% para cada irmão, os cinco conselheiros da Band são: Johnny, Ricardo, Márcia, Marisa e Maria Leonor. De acordo com fontes, seus sócios não recebem dividendos mas o grupo comprou participações em outras empresas, como concessões de rádio, obtendo em sua maioria um resultado considerado "fiasco".
A Band atravessa uma crise empresarial histórica. Em 2018, investiu em uma nova grade que acabou fracassando em audiência e faturamento. Liderada pelo vice-presidente André Aguera, das seis atrações que estrearam, apenas uma permanece no ar: o "Melhor da Tarde", com Cátia Fonseca.
De acordo com o site Brazil Journal, a TV fundada em 1967 deve cerca de R$ 1,2 bilhão, em torno de oito vezes mais que a geração do seu caixa. Nestes números estão inclusos dívidas cada mais maiores das afiliadas, que já ameaçam deixar a rede.
O Grupo Bandeirantes começou com uma emissora de rádio em 1937, fundada pelo ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros. Mais tarde, o político passou o controle do veículo para sua filha Maria Helena Saad e o genro, João Saad.
Com outras empresas repassadas aos outros filhos de Ademar, coube a João Saad a virtude de transformar a Rádio Bandeirantes numa das maiores do Brasil e criar a TV Bandeirantes em 1967, hoje chamada apenas de Band.
Procurada, a emissora não se pronuncia sobre a questão.
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