Entrevista exclusiva

Estrela de Renascer, Patrícia França opina sobre remake na Globo: "Ciúme"

Atriz fala sobre a possibilidade de ser convidada para nova versão da novela exibida há 30 anos

Patrícia França viveu Maria Santa em Renascer há 30 anos; papel no remake deve ser tão disputado quanto o de Juma Marruá na segunda versão de Pantanal - Fotos: Reprodução
Por Walter Felix

Publicado em 16/02/2023 às 04:30:00,
atualizado em 16/02/2023 às 12:17:37

Clássico de 1993, Renascer completa 30 anos em 2023 e está prestes a ganhar um remake no horário nobre da Globo. É com orgulho daquele trabalho e com certo “ciúme” desse novo projeto da emissora que Patrícia França fala nesta entrevista exclusiva ao NaTelinha. Longe das novelas desde Gênesis (2021), na Record, ela ainda responde sobre a possibilidade de ser convidada para a adaptação da trama.

“Não deixo de ficar com uma pontinha de ciúme, é óbvio (risos)”, comenta Patrícia França sobre a nova versão de Renascer, prevista para 2024. “Não discordo inteiramente dos que dizem que não se deve mexer nos clássicos, e talvez resida aí um pouco do meu ciúme. Existem coisas que deveriam permanecer intocadas”, opina.

A atriz, então em início de carreira na TV, participou da primeira fase da novela como Maria Santa, personagem central que morre no parto ao dar à luz a um dos filhos do protagonista José Inocêncio – vivido por Leonardo Vieira e, depois, por Antonio Fagundes. O prólogo marcou a novela recebeu o aplauso do público e da crítica na época.

“Aqueles primeiros capítulos de Renascer foram realmente muito especiais. Tentar repetir aquilo seria como fazer a imitação de uma obra de arte, que é exclusiva, inédita, única. Uma réplica não tem o mesmo valor. No entanto, estamos falando de televisão. É um outro veículo, uma outra maneira de se fazer arte.”

Patrícia França

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Ela frisa que certas histórias, como a de Renascer, são atemporais. “O Benedito [Ruy Barbosa, autor] é um grande contador de histórias e joga para a cena temas muito pertinentes, como, no caso da Maria Santa, o abuso sexual e a repressão feminina”, recorda a atriz. Ela cita uma presença essencial para o êxito da nova versão:

“O remake pode dar muito certo, e torço para que dê. Só não sei se vai ter a mesma magia que teve a primeira versão. Tomara. É preciso que se escolha o diretor certo, e acho que seria o Luiz [diretor da novela original]. O sucesso de Renascer se deu muito pelo texto incrível do Benedito e pela direção impecável e sensível do Luiz Fernando Carvalho.”

Patrícia França

Para alguns, os remakes denunciam uma crise criativa na TV. A atriz discorda: “Não acho que faltam boas histórias, porque tem gente boa escrevendo. Exemplo disso é a Manuela Dias, que escreve Justiça. Como é bom o trabalho dela! Você não consegue parar de ver... É algo fora do comum. Tem gente muito talentosa escrevendo, então não faltam boas histórias, mas talvez faltem boas escolhas”.

“Eu era aquela moça que a Globo dizia: ‘Parece a Sônia Braga’”

Patrícia França conquistou papel em Renascer após estrear na TV como Tereza Batista - Foto: Divulgação/Globo

Ao ser chamada para Renascer, Patrícia França colhia os frutos do sucesso de sua estreia na TV, como protagonista da minissérie Tereza Batista (1992), baseada no romance de Jorge Amado. “Eu era aquela moça que a Globo dizia: ‘Parece a Sônia Braga’. Tanto que, anos depois, quando trabalhei com a Sônia, ela me chamava de ‘euzinha’”, revela a atriz.

“Consegui personificar aquela moça morena, de cabelos revoltos, com sotaque e muito cheia de atitude”, define Patrícia. Depois da minissérie, ela entrou em turnê com o grupo musical Quinteto Violado. “Não entendi que tinha que fazer capa de revista e aproveitar aquele sucesso para ganhar dinheiro. Preferi ficar reclusa e cantar, subir nos palcos.”

No retorno à TV, houve um contraste. “Eu tinha feito todas as fases da vida da Tereza Batista, que era uma personagem multifacetada. Ela começava como uma menina esperta, destemida, que se transforma em uma mulher que precisa fazer de tudo para ganhar a vida, sozinha no mundo. Vira cantora, prostituta, defende suas causas, aprende a lutar capoeira...”

Já Maria Santa de Renascer era inocente e reprimida. “De repente, eu estava ali fazendo uma moça que achava que tinha engravidado por causa de um beijo! Consegui levar para as pessoas essa versatilidade que o artista precisa ter. Acho que ali eu disse mesmo a que vim, e entenderam: ‘Essa daí veio para ficar’ (risos).”

“Renascer foi o trabalho que mais me trouxe alegria. A resposta que eu recebi do público foi a melhor possível. As pessoas queriam me botar no colo, me recebiam com muito carinho. Cheguei no coração dos brasileiros. Foi um clássico da TV brasileira, e ter feito parte disso me deixa muito orgulhosa. Maria Santa ocupa um canto especial no meu coração.”

Patrícia França

“Não queria ficar nua”

De tanto sucesso, Patrícia França e Leonardo Vieira viveram outro casal no mesmo ano, em Sonho Meu (1993) - Foto: Divulgação/Globo

Dos bastidores das gravações, ela guarda boas recordações de Ana Lúcia Torre e Cacá Carvalho, que interpretaram seus pais, e também de Solange Couto. “Ficávamos hospedados em um hotelzinho em Ilhéus [onde a novela era ambientada]. Saíamos de noite dando risada pelas ruas, uma verdadeira trupe de atores”, relembra.

“Não queria ficar nua. Hoje, diante de tudo que eu já vi de cena de nudez na televisão, acho que nem foi nada demais, mas naquela época aquilo me assustava muito. Eu vinha de uma Tereza Batista em que eu me expus muito, e não queria mais. Achava que aquele tipo de exposição já tinha sido suficiente.”

Patrícia França

A saída encontrada para uma cena de banho foi ficar de calcinha e esconder os seios com os longos cabelos. Grande paixão de José Inocêncio, Maria Santa morria logo nos primeiros capítulos, mas seguiu aparecendo durante toda a novela, como fantasma. “Antônio Fagundes é um gentleman, me deixava tranquila em cena, e eu surfava na onda dele. Lembro que não ficava nervosa, como poderia ser esperado.”

Na fase inicial, a personagem tinha na cafetina Jacutinga, papel de Fernanda Montenegro, uma conselheira. “A Fernanda é tão brilhante que, ao contracenar com ela, é preciso tomar um pouco de cuidado, porque ela te transforma em plateia, você começa a assistir o que ela está fazendo. Acabei usando isso a meu favor em uma cena em que Jacutinga explicava como é que se engravida, e a Maria Santa ouvia tudo admirada.”

“O Luiz impunha um clima ritualístico nas gravações, e eu adorava, porque vinha do teatro”, recorda a artista. Ela lembra ainda da vez em que levou uma chamada do diretor por comer muitas jacas nos bastidores, o que fez seu rosto ficar cheio de espinhas. “Minhas recordações são essas bobagens de menina, porque eu era mesmo uma menina, e eu nem sabia que era (risos).”

“Hoje eu poderia ser a mãe de Maria Santa”

Patrícia França está longe das novelas desde Gênesis (2021), na Record - Foto: Reprodução/Instagram

O remake de Renascer pretende pegar carona no sucesso de Pantanal, outra novela de Benedito Ruy Barbosa, exibida em 1990 e que ganhou nova versão em 2022, adaptada pelo neto do escritor, Bruno Luperi. Tal como ocorreu com Juma Marruá, o posto de Maria Santa deve ser disputado por muitas atrizes, mas Patrícia França hesita em indicar sua “substituta” no papel:

“Sinceramente, não me vem ninguém à mente agora. Tem algumas atrizes jovens que considero maravilhosas, mas é preciso ser muito jovem para fazer a Maria Santa.”

Patrícia França

Vários atores do elenco original de Pantanal retornaram no remake, no ano passado. Sobre a chance de ser chamada para a nova versão de Renascer, a atriz responde: “Se for um bom papel, por que não!? Se alguém pensar em mim, e eu simpatizar com a proposta, é claro [que toparia o convite].”

Ela garante que não almeja um papel específico: “Sinceramente, não sei dizer. Digamos que fosse o papel de Ana Lúcia Torre, porque hoje eu poderia ser a mãe de Maria Santa… O que eu posso dizer é que eu ficaria com muito medo! Não consigo me imaginar fazendo nada melhor nem igual ao que ela fez”. Nesta entrevista, ela se lembra de outra personagem da primeira fase e reage:

“A Jacutinga… Imagina só!? Fernanda Montenegro! (risos) Se chamassem para fazer a Jacutinga, acho que eu fugiria para o Alasca!”

Patrícia França


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