Hoje, eu me sinto muito mais perto de Deus em uma praia paradisíaca da Bahia do que em qualquer outro templo erguido pelo homem
Publicado em 15/08/2018 às 06:01:47
Aos 39 anos, André Dias é só sorrisos. Convidado pela direção geral de “Segundo Sol” a poucos dias das gravações começarem, ele não teve como recusar. “Fazer uma novela dirigida por Dennis Carvalho, escrita por João Emanuel Carneiro e contracenando com Giovanna Antonelli... Quem é que vai dizer não?”, questiona.
Em sua segunda novela, o ator tem um papel de destaque. Na trama, o islandês Groa é o melhor amigo da protagonista Luzia. O intérprete do gringo, como é chamado pela personagem da colega, conta que teve muito pouco tempo para se preparar antes de estrear.
“Fizemos um estudo fonético a partir de algumas expressões do islandês e aplicamos ao texto em português do João Emanuel. Nosso compromisso era fazer uma pessoa real, humana”, ressalta. Compromisso, este, que foi mais do que bem aceito pelo telespectador.
Em um bate papo com o NaTelinha, André Dias reafirma a química que se formou entre ele e sua parceira, Giovanna, fala da fé que o envolve e revela, entre outras coisas, qual seria a sua segunda chance, conforme a temática da novela sugere.
NT- Vivendo seu segundo papel na TV, o primeiro em uma trama do horário nobre, como recebeu o convite para interpretar o Groa?
André Dias - Eu fui contatado pouco tempo antes de começar a gravar a novela. Perguntaram sobre minha disponibilidade, pois as gravações estavam prestes a começar. Foi tudo muito rápido, aquele tipo de convite que não tem como dizer não.
NT - Seu personagem é um gringo vindo da Islândia que fixou residência na Bahia. Como se deu a preparação, principalmente em relação ao idioma e sotaque.
André Dias - Eu tive apenas uma semana de preparação. Se fôssemos fazer o sotaque pesado do islandês poderia ficar incompreensível, o público não ia entender o que o Groa estava falando. Então, foi feita somente uma pesquisa sonora, fonética do idioma, e aplicado ao texto em português do João Emanuel.
Hoje, eu me sinto muito mais perto de Deus em uma praia paradisíaca da Bahia do que em qualquer outro templo erguido pelo homem
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André Dias - A parceria com a Giovanna teve uma química imediata e natural. O que vocês veem na tela da televisão é o que acontece na vida, somos nós dois na vida. (risos). A gente ficou muito amigo, ela me ajuda bastante, uma vez que domina o veículo da televisão, já faz há muito tempo enquanto que eu estou chegando. É um privilégio ter uma parceira de cena como a Giovanna. O caco é tudo aquilo que não está escrito e que colocamos no calor de uma cena, é quando criamos uma expressão ou uma frase, eventualmente rola sim”.
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NT - O que o telespectador ainda pode esperar do Groa na trama? Dá para adiantar algo do que ainda vem por aí? Você torce para o "Gringo" encontrar um grande amor, por exemplo?
André Dias - Novela é uma obra aberta, a gente nunca sabe o que esperar. Está apontado no caminho da personagem herdar o terreiro do Pai Didi e se transformar em um babalorixá, em um Pai de Santo, um líder espiritual. Eu acho que ainda tem muita confusão pela frente, ele vai salvar muito a Luzia até os capítulos finais. Em relação a um amor para o Groa, a gente não tem como saber. Se rolar, deve ser mais para o final da novela. Um final feliz daqueles bem novelísticos (risos).
NT - Estar em uma novela das nove coloca o ator ainda mais em evidência. Como está sendo a repercussão nas ruas? Nos conte alguma situação curiosa, caso já tenha passado por ela.
André Dias - Uma novela das nove é um produto poderoso, é muito assistido, tem uma audiência altíssima. É claro que existe o assédio nas ruas, mas é o carinho do público que deixa tudo mais caloroso. A gente está sendo muito bem recebido e a personagem é alguém que as pessoas gostam, tem muito carisma, empatia junto ao público. Então, é muito gostoso receber este carinho. Outro dia, eu estava na fila de um restaurante a quilo para almoçar e um senhor atrás de mim me olhou e disse assim: ‘Cara, você pessoalmente é igualzinho’. Eu achei isso muito bacana.
NT- Atuando há quase 30 anos, você consolidou sua carreira no cinema e teatro. O que mais chamou sua atenção ao mergulhar no universo da televisão?
André Dias - Eu sempre quis fazer televisão! Eu acredito que os meus quase 30 anos de carreira em teatro tenham me formado como artista para eu chegar pronto em um veículo com uma velocidade e uma urgência muito grande. São seis capítulos semanais, é uma responsabilidade enorme, uma novela das nove, em um horário nobre, com uma exposição imensa. Eu costumo dizer também que em ‘O Novo Mundo' (2017), novela na qual eu tinha uma personagem um pouco menor, com menos responsabilidade, foi uma espécie de estágio. Foi um lugar onde eu realmente aprendi a fazer televisão, a gostar do cotidiano de estúdio. Eu acreditava que por vir do teatro ia achar maçante ficar horas esperando para gravar uma cena de cinco minutos. Na verdade, é um trabalho que a gente entende as longas esperas. É um trabalho em equipe e o respeito que eu tenho por esses profissionais é imenso. É isso que me faz chegar cada vez mais pronto, com o um texto decorado, não atrasar, porque nós estamos juntos, não fazemos nada sozinho nessa carreira. Além disso, o astral da nossa equipe desde o início, quando passamos um mês gravando na Bahia, contagia o público”.
NT - Na novela das nove, o Groa segue o Candomblé. Antes, você teve a chance de conhecer o espiritismo ao interpretar Emmanuel em "Chico Xavier", longa que posteriormente foi transformado em microssérie para a TV. Para ambos os papéis você precisou estudar muito a respeito das religiões? Você tem uma religião? No que realmente acredita?
André Dias - É verdade! Eu fiz o ‘Chico Xavier’ como Emmanuel, que é um líder espiritual, um mentor espiritual do Chico Xavier e, agora, eu estou fazendo o Groa, que é um estrangeiro apaixonado pela cultura brasileira, pela religião africana e que acaba entrando para o Candomblé. Eu fiz um estudo sim, na época, sobre o Kardecismo, sobre o Espiritismo e, agora, eu tenho estudado bastante, lido sobre o Candomblé. Eu acho que se deve tratar esse tema com o respeito que ele merece. A gente vive em um Estado laico e todos nós temos a liberdade de escolher a religião, de expressar a nossa fé da maneira que a gente quiser, como nos aprouver. Eu costumo me classificar como uma pessoa espiritualista. Eu não tenho uma religião definida, mas acredito nas energias que nos cercam, no poder, na força da natureza. Hoje, eu me sinto muito mais perto de Deus em uma praia paradisíaca da Bahia do que em qualquer outro templo erguido pelo homem”.
NT - A trama de "Segundo Sol" dá a ideia de uma nova chance. Na sua opinião, qual seria a "segunda chance" do Groa? E do André Dias?
André Dias - Segundo Sol é realmente uma história que fala sobre uma segunda chance. Todos nós na vida merecemos uma segunda chance. Todos nós erramos, temos a chance de consertar os nossos erros e vivermos uma vida um pouco mais feliz. Eu acho que essa é a história da Luzia, uma segunda chance para consertar o que deu errado. A própria história do Groa se transformar em babalorixá, em pai de santo, é uma segunda vida para ele. Ele que sai de um país de relações frias, de clima frio, que se apaixona pelas relações calorosas do brasileiro, pela paisagem da Bahia, pelo nosso mar, nosso sol, ele tem uma segunda vida, uma segunda chance. E, agora, como mentor espiritual de uma cultura que ele escolheu. 'Segundo Sol’ é a minha segunda chance como artista. Eu que tenho quase 30 anos de carreira, já tinha quase desistido de fazer televisão quando ‘Novo Mundo’, ano passado, e ‘Segundo Sol’, hoje, me mostraram que eu estou no páreo (Risos). Eu estou aqui, firme, forte, e pretendo continuar, fazer outra personagem, de preferência irreconhecível para o público. Continuar me transformando em um ator melhor, em um ser humano melhor, cada vez mais. Eu acho que ‘Segundo Sol’ significa isso para mim, a segunda chance de eu me tornar uma pessoa melhor.
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