Publicado em 24/11/2016 às 16:47:16
Repórter especial da Record Rio Grande do Sul, onde atuava no "Domingo Espetacular", Luiz Barbará foi vítima de cárcere privado durante uma investigação e teve ajuda negada pela emissora.
Segundo informações obtidas com exclusividade pelo NaTelinha, na última quinta-feira (17), Barbará foi investigar o caso da "farra do semi-aberto" - casos de presos e condenados pela Justiça que, em vez de trabalhar durante o dia, curtem a vida - em Porto Alegre, à mando da Record Rio Grande do Sul.
Durante seu trabalho de apuração, o repórter chegou até uma fábrica e, ao pedir esclarecimentos do dono do local, foi surpreendido. O empresário trancou Luiz Barbará e sua equipe na fábrica e passou a fazer vários tipos de ameaças e constrangimentos, tudo com a câmera ligada. Um caso claro de cárcere privado.
A reportagem conseguiu sair do local quase uma hora depois, com a chegada da Brigada Militar, como é chamada a PM no Rio Grande do Sul. Num primeiro momento, a câmera foi apreendida, mas acabou liberada pela Polícia Civil.
O caso foi parar na delegacia, onde Barbará gostaria de registrar um boletim de ocorrência juntamente com a Record, como acontece de praxe quando matérias investigativas têm algo diferente do normal. Ele também pediu auxílio jurídico e proteção da emissora.
Mas foi aí a surpresa: a Record RS se negou a prestar ajuda e fazer qualquer tipo de B.O., e nem mesmo ajudá-lo nas outras questões. O canal alegou que não teria responsabilidade alguma, porque o crime foi cometido contra a pessoa, e não contra a empresa - mesmo que o repórter tenha ido com identificação da emissora, como canopla no microfone, carro adesivado e crachá.
Documento mostra resposta da Record RS ao repórter
A matéria foi ao ar durante os programas jornalísticos da casa no final da última semana, como o "Balanço Geral RS" e "Rio Grande Record", e também estava em seu site oficial. Após o NaTelinha procurar a emissora para falar, no entanto, a página com o vídeo foi excluída.
Luiz Barbará agora está sem trabalhar, com laudo psicológico por um mês, por conta de todo o trauma que passou.
Caso a Record RS não entre em acordo com o jornalista, ele já estuda com seus advogados a rescisão de contrato por conta do descaso. O fato está chocando sindicatos de trabalhadores do Rio Grande do Sul, que preparam algum tipo de retaliação.
Este é o segundo escândalo em menos de dois meses na Record do Rio Grande do Sul. Em outubro, jornalistas do canal entraram em greve por falta de condições adequadas de trabalho na emissora gaúcha.
Na ocasião, programas foram prejudicados e o "Balanço Geral RS" foi ao ar, no dia 17 de outubro, com o seu apresentador Alexandre Motta mostrando apenas vídeos de flagrantes e câmeras de trânsito, porque equipes de reportagem se negaram a fazer matérias em protesto à falta de apoio e por condições inadequadas para fazerem jornalismo de qualidade.
Outro lado
O NaTelinha entrou em contato com a asessoria de imprensa da Record em São Paulo, já que a filial não possui departamento de comunicação. O caso então foi passado para diretores do Rio Grande do Sul, que ficaram de se pronunciar e o fizeram já na noite desta quinta (24), por volta de 21h.
Confira a nota na íntegra, assinada por Rodrigo Falcão, diretor de jornalismo da Record RS:
"Inicialmente esclarecemos que a emissora nunca deixou de prestar qualquer apoio ou ajuda, seja ao repórter Luiz Barbará ou a qualquer outro colaborador desta empresa.
Relativamente ao fato envolvendo o nosso repórter, esclarecemos que no dia do ocorrido, tão logo a emissora tomou conhecimento da sua situação, o Dep. Jurídico foi acionado. Antes mesmo de qualquer deslocamento até a cidade de Sapiranga (80 km de Porto Alegre) o mesmo foi contatado por telefone por um dos nossos advogados, tendo informado que já havia sido liberado, juntamente com seus colegas e equipamentos, e que estavam em deslocamento para a sede da emissora.
Na última segunda-feira, o repórter Luiz Barbará solicitou providências da emissora quanto aos fatos ocorridos. Imediatamente, a emissora comunicou-lhe que o Departamento Jurídico estava a sua disposição para deslocar-se até a cidade de Sapiranga, a fim de comunicar a Autoridade Policial local o fato ocorrido durante a produção da reportagem. Para nossa surpresa, o repórter Luiz Barbará disse que não iria fazer o registro do fato à Autoridade Policial, pois entendia que era a emissora quem deveria registrar o boletim de ocorrência.
Porém, para a lavratura do boletim de ocorrência da situação noticiada, é imprescindível a presença de quem vivenciou os fatos na delegacia, para que a autoridade policial possa iniciar a investigação.
Verificamos que não constou na reportagem o último parágrafo da correspondência entregue ao repórter Luiz Barbará, que dizia:
Certos de que nossos esclarecimentos irão colaborar para a conclusão da matéria publicada, nos colocamos a sua disposição para quaisquer outros esclarecimentos".
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