Repórter descobre agressões do marido na mulher, se emociona e denuncia

Algumas alas do jornalismo defendem que o repórter precisa ser imparcial e não se envolver na história que conta. Mas algumas vezes, isso torna-se impossível.

Nesta sexta-feira (29), o programa "Que Venha o Povo", apresentado por Casemiro Neto na TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia, exibiu uma matéria feita pela repórter Mariana Sena, que tem tocado toda a internet.

Ela contava a história de Cailane, uma garota de 9 anos, moradora do subúrbio de Salvador que fez um apelo para que a avó pudesse fazer uma cirurgia no olho. Caso ela não conseguisse, corria um sério risco de ficar cega, e não ver a neta crescer e realizar o seus sonhos, como a própria disse. A senhora já havia feito uma cirurgia dois anos antes, mas a médica que fez o procedimento errou e agravou a sua situação.

Mariana Sena já havia se impressionado com o carinho e o amor que a menina tinha com a avó. Mas o drama só viria a piorar. O avô da garota, um evangélico fervoroso, expulsou a equipe da emissora aos berros. A partir disso, a equipe descobriu que o homem batia em sua companheira de forma recorrente. Eles foram casados por 30 anos, mas há 2 estavam separados - ainda moravam juntos por conta da pobreza e da necessidade.

A repórter contou toda a descoberta em um vídeo feito com o seu celular, fez a denúncia e se emocionou, mostrando-se também impressionada com a maturidade da garotinha. A reportagem repercutiu positivamente, e Mariana vem sendo muito elogiada nas redes sociais por sua humanidade.

O NaTelinha conversou com Mariana Sena durante a tarde desta sexta por telefone, e ela falou sobre tanta emoção: "A gente sempre acha que vai conseguir ser imparcial, mas existem situações que fogem o nosso controle. E quando digo a gente, digo eu e meus amigos da TV Aratu. E em algumas situações a gente consegue ser imparcial. Mas quando a gente se depara com situações como essa, é muito chocante. É uma pessoa que não tinha instrução nenhuma, já que na cabeça dela era absolutamente normal, e na cabeça dele também, porque ele deixava ela morar lá, como se fosse um favor. Quando a gente vê a ignorância do outro, a precariedade mesmo, do precisar... Não é um precisar financeiro, é um precisar psicológico. É muito fácil julgar, dizer que apanha mas continua lá. Eu fazer uma matéria de uma pessoa que precisava de uma cirurgia, mas na verdade ela precisava de apoio, de carinho, era uma pessoa que precisa ser vista. E a única pessoa que enxergava ela era a neta Cailane".

A repórter disse que tinha medo do senhor fazer alguma coisa com ela dada a sua agressividade, mas ficou muito mais preocupada com a neta e sua avó: "Quando ele chegou eu realmente fiquei com medo dele fazer alguma coisa com ela só pela questão de nossa equipe estar ali. Lógico que eu fiquei com medo dele fazer alguma coisa comigo, eu saí correndo. Mas meu maior medo era quando eu saísse dali, ele fizesse alguma coisa com ela".

Por fim, Mariana afirma que tem tido contato frequente com Cailane, que um advogado já cuida do caso e que mesmo na edição da matéria, chorou bastante: "Eu falei com ela agora há pouco, inclusive. Estou entrando em contato com o advogado também, ele já está com toda a documentação da avó, e a gente está resolvendo se vamos fazer de novo no mesmo hospital, lógico que não com a mesma médica. Quanto a agressão, estamos com o advogado também, é o mesmo advogado que vai resolver as duas coisas. Estou acompanhando tudo de perto, por mais que não seja obrigação minha. Meu trabalho eu fiz, que era reportar e contar a história, meu trabalho acabaria por aí. Mas eu sou humana, senti e não vou deixar isso morrer. Meu trabalho como repórter foi contar a história, mas meu trabalho como ser humano é acompanhar a história".

Veja a reportagem na íntegra, disponibilizada pela própria TV Aratu/SBT em seu canal no YouTube: