Publicado em 13/02/2009 às 16:25:11
Bruno Pires
para o NaTelinha
Ok, este filme não é um lançamento, mas vamos combinar assim? A cada edição da coluna, revezaremos entre um lançamento e um não-lançamento. Pois há filmes já lançados que são tão interessantes e sobre os quais eu gostaria de falar! Combinado? Então, vamos lá.
Este é o segundo filme de James Bond. Sim, o segundo. Afinal, apesar de o personagem ter tido traços de sua personalidade alterados a cada vez que mudavam seu intérprete, a essência dos filmes do agente secreto mais famoso do cinema permanecia a mesma. Porém, quando lançaram “007 — Cassino Royale”, mudou tudo. E isso é papo para uma futura crítica, sobre aquele filme. Voltemos a “Quantum”...
O filme já começa mostrando a que veio, com uma cena de ação frenética mostrando uma perseguição de carros barulhenta. Iniciando exatamente no ponto em que terminou seu filme antecessor, 007 está com o Sr. White (Jesper Christensen) no porta-malas de seu carro e tem sede de vingança contra quem foi o responsável pela morte de sua amada Vesper Lynd.
Essa busca por vingança acaba levando James Bond à descoberta de uma grande organização chamada Quantum, tão poderosa e influente que nunca ninguém ouviu falar dela. Para os fãs da série, uma referência explícita à antiga SPECTRE, antiga organização que tanto atormentou o pobre 007 nos anos anos 60 e 70, e era comandada pelo icônico Ernst Blofeld — o famoso vilão carequinha, megalomaníaco, de voz calma e que vivia acariciando um gato branco fofinho.
E por falar em vilão, o cara mau de “Quantum of Solace” não é nada marcante, ainda que seu plano seja ambicioso: a Quantum planeja fazer um acordo com um ex-ditador boliviano, levando-o ao poder e evitando que os Estados Unidos se intrometam no governo do país latino-americano, em troca de determinadas terras desérticas daquele país para... bem, aí já seria contar demais.
Daniel Craig, como o novo James Bond, continua ótimo. Totalmente diferente dos anteriores (o que é muito bom, já que a nova realidade dos filmes do 007 exigem isso), o ator transparece tudo o que a nova versão do agente britânico pede: brutalidade, rancor, crueldade, raiva. Nada de cenas engraçadinhas: aqui, 007 está ainda pior do que no filme anterior, e mata com menos remorso ainda. Talvez porque a história exija, já que Bond está numa busca por vingança e acaba agindo quase sempre pela impulsividade que traz a sua raiva.
Judi Dench, sempre magnífica como M, ganha cada vez mais espaço e importância; e sua personagem, embora seja a grande chefe do MI6, continua sendo humanizada, como acontecera em “Cassino Royale”.
As bondgirls continuam firmes e fortes, ajudando Bond a cumprir sua missão ou parte dela. Infelizmente nada mais que isso, já que Olga Kurylenko, a garota que acompanha o herói durante quase toda sua jornada, faz nada além do que o essencial. Marcante mesmo é o fim trágico que leva uma outra bondgirl, que, para os fãs, será uma referência delirante à clássica morte da mulher, em “Goldfinger”, assassinada quando teve seu corpo todo pintado de dourado.
Com uma história relativamente simples e diversas locações pelo mundo — algumas até soam desnecessárias —, o que “007 — Quantum of Solace” tem de melhor são suas cenas de ação. Apesar de confusas, com os cortes muito rápidos que deu a direção de Marc Forster, os trechos em questão são alucinantes, desde sua natureza até sua realização. E, aqui, volto a destacar Craig, que transpira realismo quando o assunto é lutar brutalmente com vários ao mesmo tempo, perseguir adversários até as últimas consequências ou fazer qualquer outra loucura daquelas que só 007 faria.
Não espere se surpreender com “007 — Quantum of Solace”. É um bom filme de ação, só isso. E quanto a ser ou não um bom filme de James Bond, aí depende... se você é conservador e ainda levanta a bandeira do antigo espião britânico, quase vazio de personalidade e cheio de fantasias ao seu redor, certamente este filme será uma decepção — assim como foi o anterior. Mas se você, como eu, já aceitou o inevitável e acabou se rendendo ao novo universo brutal e realista de 007, divirta-se.
Enquanto isso, na telinha...
House é o melhor em “House”
A minha maior paixão televisiva é acompanhar séries. Nesse filão, não é difícil encontrar histórias interessantes, interpretações competentes, textos bem construídos e produções de qualidade. Uma a que assisto atualmente é “House”. Estou na terceira temporada ainda. Não expliquei: eu assisto pela Internet, fazendo o download dos episódios. Mais cômodo e conveniente, impossível. Viva a era do computador!
Para quem não conhece, trata-se de uma série médica um pouco diferente... afinal, seu personagem-título, o Dr. Gregory House, é o mais incomum dos médicos que podemos encontrar na telinha: grosso, sarcástico, anti-ético, manipulador, viciado em pílulas para dor e com sérios problemas para lidar com outras pessoas, o especialista em diagnósticos é capaz de curar qualquer doença, mas faz questão de evitar ao máximo olhar para a cara de seus pacientes.
No hospital, os casos mais misteriosos que os médicos não podem solucionar são enviados diretamente à equipe do Dr. House, que, episódio por episódio, “desvenda os mistérios” escondidos nos organismos dos enfermos até que o diagnóstico correto seja encontrado.
Você pode pensar: essa idéia parece interessante, mas, depois de seus 10 primeiros episódios, já se torna cansativa — certo? Errado. E é aí que eu quero chegar: no próprio Dr. House.
O médico grosseiro que dá fora em todo mundo e diz sem a menor cerimônia que um paciente vai morrer porque está sendo idiota, é o maior atrativo de “House”. Interpretado por Hugh Laurie, o Dr. House é um personagem cheio de graça e carisma. Mesmo que o episódio trate de um paciente com câncer em estado terminal, Laurie quebra toda a tensão e faz o público gargalhar com as tiradas únicas do médico malucão.
É cada pérola! Como quando House está atendendo uma freira que tem uma doença incomum e seus sintomas parecem algumas das chagas de Cristo. “Nossa, você deve ser o assunto nas rodinhas de água-benta”, diz o doutor, com sua expressão de deboche sem igual. Ou como quando House acaba de constatar que sua paciente está grávida e lhe dá a notícia dizendo: “Você tem um parasita dentro de você.”
Não poderiam ter escolhido melhor ator para o papel. Nem melhor papel para o ator. É um daqueles casos em que a coisa fica tão bem encaixada que está perfeito; se melhorar, estraga. E é por causa do próprio House que eu faço questão de acompanhar “House”. Recomendo a todos!
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