Publicado em 04/01/2023 às 04:00:00,
atualizado em 04/01/2023 às 17:34:12
Jair Bolsonaro deixou o poder no último sábado (31), mas as atitudes de seu governo seguem refletindo no país e também nas emissoras de TV. O ex-presidente não conseguiu realizar o Censo, que deveria ter sido feito em 2020 e passado a valer em 2021 e até agora não teve o resultado. Sem esses dados concretos, a Kantar Ibope, que mede a audiência das TVs no país, foi atrapalhada e a decisão prejudicou emissoras.
Conforme mostrou o NaTelinha, a Kantar apresentou os dados de pontuação para 2023 e a tabela já nasceu defasada por conta da prévia disponibilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do Censo populacional. A empresa medidora de audiência alegou que o Instituto ainda não revelou os números consolidados e que a audiência com base no novo número de habitantes somente passará a valer em 2024.
O problema é que, pelos cálculos do Ibope, o Brasil tem 214,4 milhões, como havia divulgado o próprio IBGE e outros órgãos governamentais no início de 2022. Porém, os números não são reais e o Censo, mesmo não tendo terminado, já mostrou parte dos resultados e indica que o país tem, na realidade, 208 milhões de moradores. A diferença, ao fazer a média ponderada de uma atração de TV, prejudica as emissoras porque seus programas perdem pontos reais.
Cada ponto no Ibope é baseado num número de pessoas assistindo TV e este universo é composto com base no que diz os órgãos de governo sobre o número de habitantes do Brasil. O Censo é um dos elementos utilizados, além do PNADC, como explica a nota da empresa no fim da reportagem. Caso a Kantar utilizasse os valores reais para compor sua pontuação, toda a programação da TV teria audiência aumentada automaticamente, já que seria necessário menos pessoas para cada ponto.
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Isso parece pouca coisa, visto que o resultado seria em coisa de um ou dois pontos, mas não é. Atrações da TV fechada, que contam com um público muito menor na comparação com a TV aberta, podem ter sido canceladas ou perderam patrocínios porque apresentaram relatório de audiências que não são reais, já que os dados estão todos maquiados com números falsos.
A culpa, porém, não é da Kantar. Desde 2021 era possível que a pontuação do Ibope já fosse baseada em números reais e não aproximados, se o Censo tivesse sido feito no ano previsto. Em 2020, o governo federal suspendeu as entrevistas, alegando que a pandemia da Covid-19 inviabilizava o levantamento. No ano seguinte, em 2021, a alegação do governo de Bolsonaro foi falta de dinheiro para contratar os funcionários que fariam o trabalho.
Isso significa dizer que, como o Ibope avisou que em 2023 vai se basear nos dados do ano passado e não na prévia do Censo, são três anos que a empresa utiliza dados equivocados do governo federal para criar seu sistema de pontuação. Com isso, todas as emissoras do país são prejudicadas e perdem a chance de buscar patrocínios, que é a base de sustentação de um programa.
Coincidência ou não, nos últimos anos o resultado de audiência de boa parte dos programas da TV aberta sofreu queda significativa e não parece ter força para se recuperar. Como o Ibope divulga o resultado em pontos e não em milhões de habitantes que assistem determinada atração, o número baixo pode estar subvalorizado por conta da diferença da população brasileira.
Procurada, a Kantar enviou a seguinte nota: "Para a atualização anual das estimativas populacionais e do ponto de audiência, a Kantar IBOPE Media utiliza fontes consolidadas tanto próprias e oficiais do mercado.
Ressaltamos também que a estimativa populacional anual é de conhecimento do comitê técnico composto por representantes de nossos clientes. A elaboração das estimativas populacionais e do ponto de audiência é estabelecida previamente e validada em parceria com o mercado, de forma que todos os envolvidos trabalhem a partir de um critério uniforme.
Entre as informações que consistem o ponto de audiência, estão: a PNADC do IBGE; O estudo proprietário LSE – Levantamento Socioeconômico, que apresenta as características sociais, demográficas e econômicas dos domicílios das principais regiões metropolitanas do país – e, por fim, as informações consolidadas e completas disponíveis do IBGE sobre a projeção da população, desde que sejam liberadas em tempo hábil para atualização anual da estimativa.
Tanto as informações do IBGE quanto as do LSE são consolidadas do período diretamente anterior para estimativa do universo do ano seguinte, ou seja, são os dados os oficiais mais recentes para realização de um trabalho robusto, assertivo e confiável. Dessa forma, não são utilizados dados prévios para o cálculo dos universos. Novas atualizações serão realizadas com os dados finais e oficiais liberados ao longo de 2023 para atualização do universo do ano posterior, assim como previsto em nosso critério e realizado anualmente."
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