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Clodovil 85 anos: "Cortina de fumaça" na morte do apresentador ainda instiga biógrafo

Livro de Carlos Minuano, Tons de Clô pode ter continuação em breve; série está confirmada e terá Silvero Pereira no papel principal

Ex-assessores e amigos de Clodovil fugiram de entrevistas para a biografia lançada em 2017 - Foto: Divulgação
Por Walter Felix

Publicado em 17/06/2022 às 05:45:00,
atualizado em 17/06/2022 às 08:57:01

Se estivesse vivo, Clodovil completaria 85 anos nesta sexta-feira (17). Há cinco anos, o jornalista Carlos Minuano lançou Tons de Clô, sobre o estilista, apresentador e político cuja trajetória tem passagens que, até hoje, instigam o escritor. Em entrevista ao NaTelinha, o biógrafo afirma que o então deputado federal foi vítima de um esquema de corrupção nos últimos dias de vida, encoberto por uma “cortina de fumaça” e especulações sobre as circunstâncias de sua morte, em 2009.

Segundo Carlos Minuano, ex-assessores e supostos amigos de Clodovil fugiam de entrevistas para a biografia lançada em 2017. “Depois, descobri indícios contundentes de que na fase política, já bastante fragilizado por problemas de saúde, ele foi vítima de um esquema de corrupção que até hoje não foi devidamente investigado e esclarecido.”

Na época, o estilista Ronaldo Ésper chegou a afirmar que o concorrente foi morto por razões políticas. “Penso que a boataria sobre o suposto assassinato em programas de fofoca foi explorada de uma forma muito caricata e sensacionalista, isso acabou servindo como uma cortina de fumaça na mídia que acabou levando a história real para debaixo do tapete”, comenta Minuano.

Na entrevista a seguir, o jornalista relembra quem era Clodovil. “Ele se relacionava com os outros sempre com ar de diva, olhava as pessoas de cima até embaixo, de modo intimidador”, conta. O escritor também aponta fatores, como um histórico de rejeição familiar e traumas na infância, que levaram o famoso a desenvolver uma personalidade bélica e também a “persona gay conservador, que falava da família e de Deus”.

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Leia a íntegra da entrevista com Carlos Minuano, autor da biografia de Clodovil

NT: No trabalho como biógrafo, houve alguma descoberta sobre o Clodovil, um episódio ou uma característica dele que tenha te surpreendido?

Carlos Minuano: A pesquisa sobre a vida do Clodovil foi uma aventura desde o início, e não terminou. Sigo apurando histórias que não consegui incluir na biografia lançada em 2017. Pode ser que venha um Tons de Clô – Parte 2 e certamente uma série documental, com mais informações sobre a origem, família biológica, infância, e também a respeito de fatos relacionados com a morte, dois períodos que ainda possuem muitas pontas soltas.

Algo que me chamou a atenção foi o círculo de ex-assessores e de supostos amigos que fugiam de entrevistas para a biografia. Depois descobri indícios contundentes de que na fase política, já bastante fragilizado por problemas de saúde, ele foi vítima de um esquema de corrupção que até hoje não foi devidamente investigado e esclarecido.

Penso que a boataria sobre o suposto assassinato em programas de fofoca foi explorada de uma forma muito caricata e sensacionalista, isso acabou servindo como uma cortina de fumaça na mídia que acabou levando a história real para debaixo do tapete.

NT: "Indigesto, cruel, agressivo" são alguns termos usados por entrevistados do livro para falar do Clodovil. Como você o definiria?

Carlos Minuano: Clodovil tinha muitas camadas, esse é um aspecto que me surpreendeu desde o início, por isso o título Tons de Clô. Acredito que ele, ao longo da vida, foi construindo um personagem. Isso tem a ver com o passado dele, de muitas rejeições, primeiro pelos pais biológicos e pela família adotiva – sua mãe o achava feio, o pai não gostava de seu jeito feminino –, e depois pela sociedade.

Ele se assumiu gay num momento em que fazer isso era muito complicado, não era tolerado. Ele chegou a ser proibido de aparecer na TV na época da ditadura militar, e carimbado como indesejável por causa de seu jeito afeminado, ao lado de Dener e Clóvis Bornay.

Foi alvo de piadas por onde passou. Isso o levou a inventar essa persona gay conservador, que falava da família e de Deus, e que ao mesmo tempo era forte, ácido, crítico, direto, e que conquistou o público, principalmente o feminino. Mas, acredito que ao usar essa máscara como forma de defesa, ele acabou ficando preso ao personagem por toda a sua vida.

NT: Na sua opinião, essa personalidade controversa contribuía para o sucesso do Clodovil ou o prejudicava?

Carlos Minuano: Toda a história do Clodovil está construída em cima disso. Para o bem e para o mal. Em geral, quem conviveu com ele o descreve como uma pessoa muito difícil, que reclamava de tudo, que queria ser tratado como um ser superior. Ele se relacionava com os outros sempre com ar de diva, olhava as pessoas de cima até embaixo, de modo intimidador. Muitas discussões com ele terminaram com alguém chorando. E não era ele, que dificilmente jogava a toalha. Não encontrei ninguém que o tenha visto chorando.

Foi odiado por muitos, isso evidentemente trouxe muitos problemas. Foi demitido de todas as emissoras por onde passou. Ironicamente, o destempero absoluto também fascinava o público, que como sempre quer ver sangue, isso fazia disparar a audiência de seus programas e acabou abrindo muitas portas.

NT: A homossexualidade sempre foi uma polêmica na trajetória dele. Há declarações do Clodovil que, hoje, podem soar até homofóbicas. Acredita que a orientação sexual tenha sido um fardo para ele?

Carlos Minuano: Sem dúvida, a homosexualidade foi um fardo. Ele mesmo declarou muitas vezes que sua orientação sexual era algo de que não se orgulhava, chegou a dizer que um dia iria tirar isso a limpo com Deus. Acredito que a formação cristã e o momento político no país extremamente repressor tiveram influência nesse comportamento. Pesou também experiências difíceis que viveu na infância, como ter flagrado o pai fazendo sexo com o irmão de sua mãe, e o fato de ter sido abusado por um padre no colégio interno em que estudava.

Tudo isso levou Clodovil a ter muita dificuldade em lidar com a própria sexualidade e o transformou em uma pessoa bloqueada para o amor. Ele nunca teve um relacionamento amoroso, sexo para ele era com garotos de programa. Ele nunca se permitiu viver um grande amor com um homem.

NT: Conte-nos detalhes sobre a série. O que já está definido? Já há previsão de estreia?

Carlos Minuano: A série está em desenvolvimento, quem está à frente do projeto é a produtora Formata, estou participando, mas por questões contratuais não posso divulgar ainda qual é o player. O que eu posso dizer é que o processo está bem adiantado, está sendo uma experiência super legal.

O Clodovil é um personagem incrível, com uma trajetória muito intensa e rica. Todo cuidado está sendo tomado para que essa história seja contada e representada com a qualidade que merece. E o Silvero Pereira está confirmado para viver o Clodovil na série.



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