Publicado em 21/08/2020 às 04:44:01
Os fãs do CPM 22 não esperavam tantas notícias sobre a banda justamente na semana em que comemora 25 anos de seu início. Nesta sexta-feira (21), os roqueiros lançam a música Escravos nas plataformas digitais e se apresentam pela primeira vez no formato drive-in, no Allianz Parque (SP), com nova formação, consequência da saída conturbada do baterista Japinha.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o vocalista do CPM 22, Badauí, admite que o desligamento do músico, que estava há duas décadas na banda, foi um "trauma" necessário pelos acontecimentos, mas esclarece que os motivos vão além da divulgação de uma conversa, com teor sexual, do ex-colega com uma menor de idade.
"Sempre é um trauma, né? É quase impossível uma banda passar 25 anos sem mudanças na formação, é normal. O que não é normal são os motivos. Quero deixar claro que não foi por causa do print que ele saiu da banda. Claro que ajudou, mas outros motivos ao redor disso acabaram desencadeando uma conversa franca, e chegamos a um acordo", afirma Badauí.
O cantor compara a ruptura com Japinha, um dos integrantes mais famosos da banda, ao "fim de um casamento", e diz que precisava tomar uma decisão pelo futuro do CPM 22.
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"Vivemos um momento de transição da nossa sociedade, em que certas condutas, principalmente dos homens, felizmente não são mais aceitas. Isso acaba afetando o trabalho, a imagem de uma banda que tem toda uma história de idoneidade dentro do mercado fonográfico. A gente tem um estilo de música muito crítico, o nosso público não aceita qualquer coisa, então botou tudo isso dentro de um caldeirão e acabou resultando na saída dele. Acho que ele tem como repensar a vida. Todo mundo comete erros, mas existem erros mais graves. Em nenhum momento queremos apontar o dedo, acabar com a imagem dele, até porque ele não é um inimigo da banda. Somos muito gratos por tudo que ele fez, mas a vida segue", declara.
Após o anúncio da saída de Japinha, o baterista publicou um texto agradecendo o carinho dos fãs e pedindo para seus seguidores não xingarem os ex-colegas de banda. No Instagram, Badauí revelou estar recebendo mensagens ofensivas de perfis falsos criados apenas para atacá-lo. Para ele, o público está usando a banda para despejar ódio acumulado por outros motivos.
"A gente aceita críticas e a tristeza de quem é fã do Japinha. A gente também não está feliz com essa história, claro, é um casamento que termina, mas entendo também que algumas pessoas estão com uma revolta mais exacerbada por causa do momento atual que o país vive, pouca oportunidade de crescimento. As pessoas estão guardando muito rancor dentro de si, muitas vezes com razão. A gente vive em uma sociedade maltratada pelos governantes, isso desde sempre, agora mais ainda. Acho que este momento é de muito ódio, qualquer coisa que desagrada, até a troca de integrante de uma banda de rock, vai fazer você botar todo seu ódio dentro de um comentário. É um momento delicado que o Brasil vive. As pessoas estão passando do limite do bom senso do aceitável", critica.
É justamente sobre a conjuntura atual da política e da sociedade que fala Escravos, nova música do CPM 22, lançada na madrugada desta sexta nas plataformas de streaming. Composta pelo guitarrista, Luciano Garcia, a canção critica as fake news, o governo Bolsonaro e a classe política em geral.
"O sentimento dessa letra é reflexo do que a gente não gosta. A gente vê a forma como o sistema trata o povo, e não é só desse governo, que agravou mais a polarização. Esta música envolve o governo atual, mas também a conduta da sociedade brasileira no sistema em que a gente vive como um todo. É uma música claramente política, mas é uma coisa que traz desde, talvez, o nosso descobrimento, as ditaduras que enfrentamos e perdemos a oportunidade de aprender com isso. É uma música que fala mais ou menos sobre como a gente é manipulado pelos governantes de uma maneira geral", explica.
Escravos é a primeira música do CPM com a nova formação, anunciada também nesta semana: além de Badauí e dos guitarristas Luciano e Phil Fargnoli, unem-se ao conjunto o baixista Ali Zaher (que já substituiu o músico anterior, Fernando Sanches, em alguns shows) e o baterista Daniel Siqueira, que se dividirá com a banda Garage Fuzz.
A estreia dos novos integrantes acontecerá no Arena Sessions, com o público isolado em seus automóveis. O projeto adaptou os shows ao distanciamento social recomendado para evitar a propagação do novo coronavírus. Badauí, que relutou em fazer lives com o CPM, admite não estar confortável para retomar as apresentações, mas reconhece o esforço da organização com os protocolos de higiene e segurança.
"Estamos preocupados com a pandemia ainda. O Brasil não a tratou como deveria. Ninguém vai estar 100% seguro, mas a chance é mínima pela forma como estão conduzindo. Tem o lado econômico também, nem tanto pela banda, mas por toda uma equipe, pessoal que trabalha na produção dos shows. Não vou ficar também com hipocrisia, falar que está tudo bem, porque não está. No começo da pandemia, estávamos muito assustados, a contaminação estava muito forte, pior do que hoje em dia", diz o cantor.
O coronavírus também adiou o casamento de Badauí com a influenciadora digital Mari Graciolli, com quem vive junto há mais de três anos: "A gente iria se casar esse ano, no segundo semestre, mas não estava nada marcado. Quando começou a pandemia, não tínhamos planejado, porque também não queremos fazer megafesta, vai ser uma coisa bem íntima".
Badauí, vocalista do CPM 22, e sua noiva, Mari Graciolli (Foto: Reprodução/Instagram/fbadaui)
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