Entrevista

Dandara de "Verão 90" fala sobre luta: "Ser mulher e negra me coloca em atenção redobrada"

Atriz interpreta personagem com mesmo nome e mesmas lutas na novela das 19h

Dandara Mariana - Foto: Gerard Giaume
Por Laís Lubrani

Publicado em 18/05/2019 às 15:59:00

No ar desde janeiro, "Verão 90" vem apresentando ao público diversas modas da década de 90. Dandara Mariana, que interpreta a dançarina Dandara Brasil, teve que se infiltrar na lambada, estilo forte da época.

Em entrevista ao NaTelinha, a atriz conta suas paixões, como vê o seu papel na trama e o que espera do futuro.

Leia na íntegra:

“Verão 90” está um pouco longe de terminar, mas você já consegue fazer um balanço da novela? Quais suas expectativas para sua xará?

Dandara Mariana - A repercussão tem sido muito boa e fico feliz por isso. A personagem é carismática e o público se identificou facilmente com ela. O fato da Dandara ser dançarina e trazer consigo a lambada é um dos pontos fortes da relação da personagem com o público, que tem vindo falar com muito saudosismo dessa época. Na maioria das vezes a abordagem vem acompanhada da música tema de Dandara Brasil: 'Preta, fala pra mim...' (risos). Nas redes sociais a troca também tem sido positiva, muitos vibram com os coiós que a Dandara dá na Mercedes e o público é bastante dividido na torcida do relacionamento dela com o Quinzinho.

Em 1990, você era muito nova. Como é fazer um papel dessa época, nem tão distante, nem tão perto?

Dandara Mariana - Trazer a história dessa mulher que viveu nos anos 90 lutando por espaço, correndo atrás de seus sonhos, se posicionando na vida, cheia de autoestima, perseverança, vontade de crescer e alçar voos cada vez maiores é sensacional! Dandara é uma garota muito potente que traz em sua fala e em suas atitudes os anseios da mulher numa época onde somente assumíamos postos de gostosas e de objetos sexuais. Dandara Brasil apesar de estar fadada a isso, tem um lugar de fala e posicionamento, é uma militante de sua época.

Para o papel, você teve que fazer aulas de lambada, mas você já é dançarina. O que achou do estilo? Gostou de dançar?

Dandara Mariana - Eu era muito nova quando a lambada estourou e não tenho recordações dessa época. Fiz algumas aulas de dança com grandes profissionais e frequentei alguns bailes para me familiarizar com o ritmo, que por ser muito acelerado se torna difícil de acompanhar. Mas rapidamente me tornei uma lambadeira. É um ritmo contagiante que requer muita malemolência. Haja coluna (risos)!

Você atuou em “A Força do Querer”, agora em “Verão 90”. Além da dança, quais outras diferenças você pode encontrar entre as personagens?

Dandara Mariana - Cada uma delas me instiga e me faz crescer como artista e como ser humano. Ser artista na atual conjuntura é resistir.

Muita coisa mudou de 1990 até hoje. Mas o racismo é algo que ainda prevalece, mesmo após quase 30 anos. Você já sofreu por ser negra?

Dandara Mariana - Como artista é muito importante levantar debates e questionamentos sobre o mundo. Foram anos de massacre, injustiça e uma série de coisas. A gente precisa que a população negra tenha educação e escolaridade. Nós somos a base da pirâmide e estamos nos trabalhos subalternos. Com certeza sofri preconceito, a gente diariamente enfrenta situações. Qual negro nunca passou por nenhuma? Dentro de shopping já vi segurança seguindo eu e meu irmão quando éramos menores. Essas coisas a gente carrega para vida e mexe com autoestima.

Acredita que daqui 30 anos seus filhos – se você tiver - ainda sofrerão racismo? E o que mudar?

Dandara Mariana - O racismo no Brasil é estrutural, vieram há séculos relegando os negros ao segundo escalão da história. Nossa luta de combate ao racismo deve ser diária, incluindo todos os brasileiros. Uma sociedade mais justa passa pelo entendimento de que somos plural. Espero muito que esse problema se dissipe, é o que todos sonham. Os desafios profissionais, os desafios dentro de casa, como mulher, como atriz, nos jogam o tempo todo para encarar de frente o preconceito de forma direta. O que precisa mudar? A compreensão de que todos devem ter direitos iguais. Diálogo é o caminho, sempre.

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Pra você, qual o principal desafio da mulher negra nos dias de hoje?

Dandara Mariana - Ser mulher é um desafio diário, vivemos numa sociedade patriarcal, machista, homofóbica e preconceituosa. Ser mulher e negra, portanto, me coloca em atenção redobrada para uma luta que faz ser de todos nós.

Você publicou em seu Instagram uma bonita frase, que era a definição de seu nome. Você teme pelos que se fazem surdos e você porta a voz? Como é pra você estar no mundo artístico e ser exemplo?

Dandara Mariana - É de extrema responsabilidade. Porque eu acabo sendo referência, pelo simples fato de não termos muitos jovens negros em papeis de destaque no audiovisual brasileiro atualmente. Falo isso sem a questão do orgulho, apenas por questão numérica. Não há a mesma quantidade de atores brancos e negros atualmente na TV, nunca houve. Isso é algo que vem aos poucos se alterando, mas ainda é um longo caminho.

Seu cabelo é maravilhoso! Com as rotinas de gravação, como você tem mantido os cuidados com os fios cacheados?

Dandara Mariana - Não há muito cuidado, até pela falta de tempo, estou numa correria só (risos). A caracterização com este cabelão foi essencial para a construção da Dandara Brasil. Amo meu cabelo! E ainda bem que nós, mulheres negras, começamos a amá-lo e respeitá-lo, e entendemos o poder do nosso black! Acordamos para o fato de que a padronização estética, que insistia em nos dizer que bonito era cabelo liso, não dialogava com as nossa beleza.

Seu pai também é ator e se destacou muito na comédia. Como é para você carregar o talento no sangue? Teve influência para começar a atuar ou não?

Dandara Mariana - Ele sempre me apoiou, mas ficava preocupado pelas dificuldades da profissão. Coisa de pai. Uma vez ele foi assistir a uma peça minha e falou: 'Você é atriz mesmo'. Foi o dia que ele realizou que a filha era boa nisso. A gente troca muita figurinha.

NaTelinha: Como você se imagina daqui 10 anos?

Dandara Mariana - Atuando cada vez mais, cantando, fazendo teatro, cinema, televisão... Fazendo papéis que me desafiem como atriz. E dançando! Eu amo dançar!

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